Cidades

Em busca de pediatra, pais percorrem até 17,5 quilômetros na Capital

Zana Zaidan | 24/09/2013 17:02
Camila percorreu a maior distância para levar o filho Kelvin para ser atendido na UPA Coronel Antonino (Foto: Cleber Gellio)
Camila percorreu a maior distância para levar o filho Kelvin para ser atendido na UPA Coronel Antonino (Foto: Cleber Gellio)

A falta de médicos pediatras nas UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento) e centros Regionais de Saúde de Campo Grande faz pais percorrerem até 17,5 quilômetros em busca de atendimento de emergência para crianças.

Com poucos especialistas, também é preciso ter paciência para ser atendido e, quando isso acontece, os pacientes passam por uma “avaliação relâmpago”, que muitas vezes não é suficiente para diagnosticar o problema, e a peregrinação em busca de médicos começa do zero.

A dona de casa Camila Pereira de Moraes, 21 anos, levou uma hora e meia para ir do bairro São Conrado até a UPA do bairro Coronel Antonino. Com os dois filhos no colo - de dois e cinco anos, ambos doentes - o percurso, feito de ônibus, pareceu ser ainda mais longo.

“É uma luta. A gente sai de casa, desesperada, com essas crianças doentes. Para no terminal, troca de ônibus, e tudo que você pensa é em chegar logo para ver os filhos bem”, conta. Bruna Lauanny e Kelvin Matheus estavam com febre e tosse, há cerca de uma semana. “Primeiro o Kelvin adoeceu, depois foi a Bruna. É difícil trazer, a gente sabe que é longe e que vai ser demorado, as crianças ficam irritadas com a espera. Mas chega uma hora que não dá mais para esperar”, desabafa.

A dificuldade de atravessar a cidade é grande, e causa revolta e prejuízos. “É uma falta de respeito. É o gasto com vale transporte, com a comida que vou ter que comprar para eles, porque eles sentem fome durante a espera”, relata. O pai de Bruna e Kelvin, Paulo Júnior dos Santos, 30 anos, precisou pedir dispensa e sair às pressas do trabalho para encontrar a família. “O médico dá uma declaração de que estive aqui para acompanhar meus filhos. Justifica a falta, mas eles descontam o dia do meu salário”, explica.

Com o casal Maria Cecília Medina, 31 anos, e Leonildo Barbosa de Lima, 37 anos, a dor de cabeça se repetiu por dois dias consecutivos. Os 13 quilômetros percorridos ontem (23) - do bairro Panamá até a UPA - para levar Maria Eduarda, de um ano, que apresentava sintomas de vômito e diarreia, tiveram que ser repetidos hoje, porque o primeiro atendimento não resolveu o problema de saúde da menina. Segundo ela, o médico passou aproximadamente 10 minutos com a filha, depois de uma espera de duas horas e meia para ser atendida. “Só deram soro, mas não resolveu. Desde domingo ela está sem comer. Hoje, vamos ver se eles olham com mais atenção e ela volta para casa bem”, diz a mãe. 

Pâmela Mayara Anssanelo, 18 anos, passou pelo mesmo problema. Precisou sair do Santo Eugênio no último domingo para levar o filho de um ano e seis meses até UPA, com os mesmos sintomas de Maria Eduarda. Foram quase 15 quilômetros, que a mãe precisou refazer hoje.

“Vim direto para cá porque sei que o posto de saúde perto de casa, do Universitário, não tem pediatra. Liguei no SAMU e eles me disseram que aqui tem, mas demora e não resolve. Só para passar pela triagem, leva pelo menos uma hora”, reforça.

Recorrente – O problema da falta de pediatras voltou à tona depois que um bebê de 13 dias morreu em Campo Grande no dia 16, após ser rejeitado por dois hospitais, que estavam sem profissionais especialistas. A Prefeitura mudoua  escala e concentra médicos em apenas duas unidades.

A reportagem procurou a prefeitura e solicitou informações sobre o reforço de pediatras nas UPA’s, mas não obteve retorno.

Segundo informações do SAMU, as UPA's do bairros Coronel Antonino, Vila Almeida e Universitário contam com pediatras. Para se informar sobre o atendimento, basta ligar no 192 e obter a informação antes de sair de casa. 

Pais enfrentaram fila porque só três postos tinham médico especialista hoje à tarde (Foto: Cleber Gellio)
Pais se aglomeram em busca de médico (Foto: Cleber Gellio)
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