Capital

“Vou ali na rua de baixo soltar pipa. Foi e não voltou mais”, diz mãe

Paula Maciulevicius | 30/12/2011 21:45

Nas mãos, a mãe segura a foto do filho no aniversário de 8 anos. Registro feito na manhã de 5ª, enquanto buscas eram realizadas. (Foto: João Garrigó)
Nas mãos, a mãe segura a foto do filho no aniversário de 8 anos. Registro feito na manhã de 5ª, enquanto buscas eram realizadas. (Foto: João Garrigó)

“Vou ali na rua de baixo soltar pipa. Foi e não voltou mais”. As últimas palavras que Lucilene Corrêa, 31 anos, ouviu do filho na tarde de quarta-feira foram estas, pouco antes de o menino ir para o lixão.

A mãe, em uma linguagem que mostra a simplicidade da família consegue relatar passo a passo o que sucedeu assim que ela soube.

“Vieram avisar. Eu não acreditei, mas fiquei apavorada e nós foi pra lá na garupa da bicicleta”.

O desespero de Lucilene começou aí. Os fatos a seguir, cada grito na tentativa de ajudar vão ficar gravados na memória da mãe que perdeu o filho para o lixão. “Não tinha máquina ainda, os trabalhadores começou a tirar o lixo com as mãos. Só duas horas depois que começaram a escavar”, diz.

A dor se mistura a revolta. “Estão dizendo que a culpa é minha, que eu que deixei. Meu filho não ia pro lixão, minha família não vive disso. É mentira, ele falou que ia soltar pipa, eu não sabia de nada”, desabafa a mãe.

Nesta quinta-feira, a prefeitura soltou uma nota oficial relatando que a Assistência Social do município havia passado na casa da família na manhã do desmoronamento, dando orientações sobre o cuidado com as crianças no lixão.

Balanço que criança fez agora está vazio e assim vai ficar. (Foto: Pedro Peralta)

A prefeitura afirmou por meio da assessoria de imprensa de que passou na residência e que o serviço Assistência Social visita constantemente os bairros Dom Antônio Barbosa, onde a família mora, Parque do Sol e Cidade de Deus, por serem famílias que vivem em torno do lixão.

Com a dor no coração e lágrima nos olhos ela fala do balanço feito na árvore pelo filho. O brinquedo ficou para os irmãos. “Ele mesmo quem fez, subiu e armou tudo. Passava o dia inteiro balançando”.

Sobre os irmãos, a mãe conta que todos compartilham da mesma tristeza. O mais novo, de 4 anos não compreende. “Ele pergunta toda hora, era o mais apegado a ele”.

O fato tirou o chão da mãe. Justamente na virada de um novo ano. “Estava tudo combinado, ia ter festa aqui em casa. O Ano Novo já era. E eu que achei que ia começar bem. Só Deus sabe da força que eu vou precisar”.

No fim a esperança continua de que a Justiça aconteça. “Com certeza vai ser tomada uma providência, Deus vai tomar”.

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