Capital

Uso de máscaras não tem consenso nas ruas da Capital e cada um "faz o que quer"

Decreto que flexibiliza exigência do acessório em Campo Grande deverá ser publicado na próxima segunda-feira

Guilherme Correia e Bruna Marques | 10/03/2022 10:04
Capital vai publicar decreto na próxima segunda-feira em que deverá ser desobrigado o uso de máscaras, ao menos, em ambientes externos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Capital vai publicar decreto na próxima segunda-feira em que deverá ser desobrigado o uso de máscaras, ao menos, em ambientes externos. (Foto: Henrique Kawaminami)

A desobrigação do uso de máscaras tem dividido opiniões nas ruas de Campo Grande, já que algumas pessoas estão felizes com o fim da regra, especialmente por conta do calorão, enquanto outras temem aumentar o risco de infecção pelo coronavírus.

O governo de Mato Grosso do Sul já não exige mais o acessório em ambientes abertos ou fechados, mas a Capital ainda tem esta norma em qualquer tipo de espaço de acesso público, com exceção a crianças menores de quatro anos, práticas esportivas e pessoas com algumas deficiências.

Entretanto, conforme apurado pelo Campo Grande News, a previsão é de que, na próxima segunda-feira (14), seja publicado decreto municipal que altera esta obrigação, ao menos, permitindo estar sem máscara, oficialmente, em ambientes externos.

Em geral, as definições tomadas pelos municípios costumam vigorar sobre a decisão em nível estadual, já que o contexto específico de cada cidade pode ser diferente.

Máscaras, caseiras ou não, sendo vendidas no Centro da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)

Contudo, na prática, a população já vinha relaxando o uso muito antes das discussões envolvendo a obrigatoriedade do item. Nesta quinta-feira (10), muitas pessoas no Centro estavam sem máscara, incluindo panfleteiros que interagiam com outras pessoas, ou idosos, que têm menor resistência à covid.

Outro comportamento observado pela reportagem é que muitas pessoas andam sem máscara, ou com ela posicionada apenas sobre a boca ou queixo - o que não reduz a chance de transmissão -, mas colocam o acessório quando vão entrar em algum espaço fechado.

Maria se sente mais segura utilizando a máscara no rosto. (Foto: Henrique Kawaminami)

A dona de casa Maria Eva, de 53 anos, já tomou três doses da vacina contra a covid e diz que nunca pegou covid. Ela é uma das pessoas que afirma que manterá o uso da máscara, independentemente do que a lei exige.

“Prefiro ficar de máscara, acho mais seguro. Concordo com o município de manter o uso da máscara em alguns lugares, acho que ela tem que ficar mais uns dias. Acho que se liberar o uso, vai voltar tudo de novo.”

O povo não se cuida e abusa. Eu já me acostumei com a máscara, para mim, é como se fosse celular - tem que carregar, já faz parte da gente. Temos que ver o que é melhor para nossa saúde."

Por outro lado, a professora e motorista de aplicativo Daniela Urquize, de 41 anos, que tomou dose de Janssen e ainda não buscou reforço, avalia que a decisão de retirar a exigência vai ser benéfica, já que se incomoda muito com o acessório.

Ela teve covid no começo da pandemia, em 2020, e sentiu sintomas menos graves da doença, tais como perda do olfato e paladar. 

“Eu procuro usar, mas confesso que incomoda bastante. Sou motorista de aplicativo e tem dias em que passo mal com o calor. Procuro usar onde exige. [...] No carro, eu uso, a maioria dos passageiros usam, mas os que não usam, eu não obrigo, até porque me sinto incomodada com este calor."

A cabeleireira e divulgadora Juliely Spiller, de 31 anos, tomou as três doses da vacina e, até onde sabe, nunca pegou a doença. Ela também é do time que apoia a desobrigação, já que muitas pessoas estão vacinadas.

De acordo com dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde), cerca de três a cada quatro sul-mato-grossenses estão com o primeiro ciclo vacinal completo. No entanto, quase dois terços ainda não buscou o imunizante de reforço, que mantém a proteção por mais tempo e mais eficaz contra novas variantes.

Esse calor sufoca muito a gente com a máscara, acho que já deu. Os ônibus estão lotados, shows e festas aglomeradas”, opina Juliely.

O cabeleireiro Edilon da Silva, de 45 anos, também está com o reforço em dia, mas no ano passado, quando a imunização caminhava a passos lentos, ele contraiu a doença e ficou internado por 10 dias.

Edilon afirma que continuará usando máscara para reduzir chance de infecção. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Já tive covid e sei como é ficar internado. Acho que, pelo menos até o meio do ano, deveriam manter, até que mais pessoas estejam vacinadas, porque eu acho que muita gente vai voltar a pegar se liberar totalmente o uso.”

“Estamos tendo uma pandemia ainda, há muita transmissão do vírus, e acho que não é o momento de tirar esse item. As pessoas têm que entender que é uma coisa que vamos ter de usar por muito tempo e mesmo que ela seja liberada, eu vou continuar usando."

Decreto municipal sempre obrigou máscara, mas comportamento variou de pessoa para pessoa. (Foto: Henrique Kawaminami)

Máscaras - O primeiro decreto municipal obrigando o item foi feito em 18 de junho de 2020, há quase dois anos. De lá para cá, muita coisa mudou, mas a exigência sempre se manteve, ao menos no papel.

Nesta semana, voltaram as discussões sobre a obrigatoriedade máscara em vários lugares do País. A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira capital brasileira a tirar a regra em qualquer tipo de ambiente, muito em função da redução no número de casos da doença.

Recentemente, a variante Ômicron, que surgiu fora do Brasil, provocou mudança no cenário da doença, já que fez o Estado registrar recorde de infecções - há algumas semanas, confirmava-se quase 3 mil infecções a cada 24 horas.

Mesmo assim, o aumento da cobertura vacinal fez reduzir a letalidade do vírus -  em janeiro, foi a menor de toda a pandemia e, em fevereiro, mesmo com leve aumento, permaneceu inferior aos piores momentos da pandemia.

População se divide nas ruas entre os que apoiam flexibilização e os que ainda têm receio. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na prática, mais pessoas se infectam, mas menos morrem, por conta dos imunizantes. No ano passado, o titular da SES, Geraldo Resende, já defendia que as máscaras continuassem em exigidas, ou mesmo, que houvesse um uso espontâneo da população, assim como é feito em países asiáticos.

“Eu entendo que a máscara nós vamos precisar de incorporar, como nos países asiáticos, onde usam a máscara para qualquer evento gripal, qualquer infecção das vias respiratórias, para evitar a infecção dos que vivem com eles", disse, à época, ao Campo Grande News.

Para o médico infectologista Rodrigo Nascimento, a decisão de desobrigar ou não o uso desse acessório cabe somente aos órgãos de vigilância epidemiológica, que se baseiam em dados estatísticos para a oficialização, já que quando níveis de infecção beiram a zero, se tornaria opcional.

Atualmente, no entanto, o Estado tem confirmado cerca de 887 casos a cada 24 horas e aproximadamente 10 mortes por dia, confirmadas por coronavírus.

Muitas pessoas ainda têm hábito de colocar a máscara antes de entrar em estabelecimentos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Por conta do calor na cidade, muitos optam por tirar a máscara. (Foto: Henrique Kawaminami)
Várias pessoas carregam a máscara na mão. (Foto: Henrique Kawaminami)
Há quem prefira manter o uso do item por mais tempo, como forma de se cuidar. (Foto: Henrique Kawaminami)
Daniela reclama do calorão na Capital e diz que é um dos motivos para flexibilizar uso. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juliely está com as três doses do imunizante em dia e já tem deixado de usar máscara em algumas situações. (Foto: Henrique Kawaminami)
Nos siga no