Capital

Transporte piora, reclamam usuários em audiência sobre ônibus

Nyelder Rodrigues e Nadyenka Castro | 10/07/2013 22:14
Discussão girou em torno da tarifa e criação de fundo de subsídio (Foto: João Garrigó)
Discussão girou em torno da tarifa e criação de fundo de subsídio (Foto: João Garrigó)

Carros parados, ou em lentidão, formando grandes filas nas principais vias da cidade. Ônibus presos em meio a congestionamentos e longa demora nos trajetos. O cenário que beira o caos já é realidade em Campo Grande e foi o tema de audiência pública nesta noite, na Câmara Municipal.

A audiência sobre “mobilidade e transporte público” foi presidida pelo vereador Carlão (PSB), já que o presidente da Comissão de Transportes da Câmara, Vanderlei Cabeludo, está doente. Várias autoridades e especialistas participaram, discutindo sobre causas e soluções para o problema do trânsito.

A formação de um fundo municipal, que ajudaria a reduzir o valor da tarifa, foi um dos pontos debatidos. O consenso é de que para melhorar o transporte público, é necessário além de abaixar a tarifa, melhorar a fluidez do trânsito, possibilitando que os ônibus coletivos cumpram suas rotas com mais agilidade e que os investimentos diretos no setor rendam mais.

A mesa de debate foi composta pelo promotor de justiça Eduardo Franco Candia, pelo engenheiro e consultor de transporte público, Antonio Carlos Marchezetti, pela diretora da Agetran, Kátia Castilho, pela presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos de Campo Grande, Ritva Cecilia de Queiroz Garcia Vieira, e pelo arquiteto e professor universitário Angelo Arruda.

Presentes no evento, também estavam os vereadores Eduardo Romero, Otávio Trad (PTdoB), Carla Stephanini, Edil Albuquerque (PMDB), Juliana Zorzo (PSC), Grazielle Machado (PR), Airton Saraiva (DEM), e Edson Shimabukuro (PTB), além do secretário de Infraestrutura, Semy Ferraz, o do diretor-presidente da Assetur, Silval Martins, e o diretor do consórcio Guaicurus, João Rezende Filho.

No que tange a tarifa, as críticas foram incisivas em apontar que o alto valor prejudica tudo o que envolve o transporte público. “Toda a gratuidade será paga pelo município”, afirmou Kátia Castilho, ao comentar a possível criação e implantação do fundo municipal.

Segundo a diretora da Agetran, 37% do transporte público da Capital é gratuito, e que para melhorar a fluidez é necessário investir em sistemas de controle de trânsito. No caso, um desses sistemas foi adquirido pela Prefeitura no período do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Ela explicou que, apesar da bola qualidade, o sistema foi deixado de lado.

Agora, com a nova demanda do trânsito da Capital, outro sistema de controle do trânsito será adquirido através do pró-transporte. Entretanto, a capacidade tecnológica será inferior a do primeiro adquirido. Valores e prazos não foram informados. A construção de novos terminais e corredores de ônibus com o PAC Mobilidade também faz parte da pauta de estudos, assim como o uso da rua 15 de Novembro em mão dupla para o fluxo do transporte coletivo.

Círculo vicioso – O engenheiro Antonio Carlos Marchezetti é consultor da Logitrans, e atua em 12 países. Ele explanou sobre o assunto mostrando que o problema do trânsito acaba entrando em um círculo vicioso difícil de sair.

De acordo com Marchezetti, o aumento de renda da população fez crescer a venda de carros e motocicletas, aumentando o fluxo de veículos nas vias, e também reduzindo o número de pagantes no transporte coletivo.

A soma dessa equação resulta em redução de veículos de transporte público nas ruas, e mais congestionamentos e demora nos trajetos, e consequentemente aumento de tarifas. Daí, voltando ao ponto inicial do círculo.

Para representar uma maneira de barrar tal círculo, ele usou a paulista São José do Rio Preto como exemplo. Lá, a passagem custa R$ 1,95 no cartão e R$ 2 no dinheiro, e recebe subsídio de R$ 15 milhões da prefeitura. Com isso, o transporte público melhorou, houve queda no registro de veículos no trânsito e registro de acidentes, e aumento da atividade industrial também.

Conforme cálculos apresentados pelo engenheiro, em 12 anos, o valor da passagem aumentou 175%, sendo o vilão desse aumento o encarecimento do óleo diesel, que subiu 129%. Além disso, Marchezetti afirmou que há muitas gratuidades na cidade, mas apontou números inferiores aos apresentados por Kátia Castilho. Segundo ele, as gratuidades são 13% de estudantes, e 12,79% com idosos, PMs, oficiais de justiça, entre outros beneficiários.

Quanto aos gastos médios das empresas de transporte público em diversos locais, Antonio Carlos afirmou que as despesas com pessoal e encargos relacionados giram em torno 40 e 50% dos gastos. Diminuição de impostos como ICMS e ISS, e criação de medidas rápidas como faixas exclusivas e ampliação das estações de pagamentos, além da proibição de estacionamento em algumas vias em determinados horários, também ajudariam a melhorar a situação do transporte.

Desoneração – Já a presidente da Agência Reguladora, Ritvia Cecília Vieira, afirmou que a prefeitura trabalha pela desoneração da tarifa, hoje em R$ 2,75, mas o processo não é simples, pois envolve o trabalho todas as secretarias, e a desoneração não pode acontecer por questão políticas apenas.

Ela apontou que em cima do valor da passagem, incidem 3,92% de despesas administrativas, e outros 35,1% com gastos com pessoal. No caso de uma desoneração, a prefeitura reduziria R$ 690 mil da arrecadação mensal. Ritva também afirmou que não existe planilha do transporte, mas sim uma fórmula, que precisa ser estudada mais a fundo para saber como ela foi elaborada.

Outro que comentou sobre o assunto foi Ângelo Arruda, que classificou o problema de transporte da cidade como o maior de todos, já que a Capital se baseava em um sistema de vias com ligação centro-bairro, e apesar do crescimento, até hoje a cidade opera assim. Ele também afirmou que é necessário abaixar a tarifa “na porrada”, e classificou o modelo de gratuidade como perverso.

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