Capital

Transplantes de coração agora só dependem de doador, diz hospital

Luciana Brazil | 15/02/2013 14:40
Paulo recebeu o novo coração na quarta-feira. Hospital diz que estrutura agora está excelente. (Fotos: Luciano Muta)
Paulo recebeu o novo coração na quarta-feira. Hospital diz que estrutura agora está excelente. (Fotos: Luciano Muta)

Após realizar um transplante de coração na última quarta-feira (13), a equipe da Santa Casa de Campo Grande garantiu na manhã de hoje (15) que a estrutura necessária para fazer uma das cirurgias mais complexas da medicina está pronta para atender. Desde 2011 o hospital está apto a realizar os transplantes, mas por falta de doadores a cirurgia ainda não havia sido feita. O jejum foi quebrado esta semana, com a realização da primeira cirurgia em 8 anos.

O último transplante realizado pelo hospital havia sido em 2005. De acordo com o cirurgião cardíaco Claudio Albernaz Cesar, integrante da equipe de transplantes, o procedimento da última quarta-feira representou uma vitória, “uma grande batalha” para todos.

No Estado, a Santa Casa é o único hospital autorizado a fazer o transplante. O custo do procedimento pode chegar a R$ 50 mil. Na fila da Central Estadual de Transplantes ainda aguardam um novo coração 19 pessoas.

O médico Claudio explicou que antes as cirurgias eram feitas no hospital, apesar de não obedecerem as exigências da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ministério da Saúde. “A vigilância exige um box separado, um banheiro próprio, entre outras exigências”. O hospital chegou a ter a autorização para transplantes suspensa em 2008, segundo Claudio. A licença só foi recuperada em 2011.

A falta de estrutura e de leitos impedia a transplantação no hospital. Claudio explica que a dificuldade agora são os doadores. "Precisamos de doadores porque a estrutura está perfeita".

 

Os 11 CTI's para pacientes de cirurgia cardíaca estão equipados.

O chefe da equipe de transplantes cardíacos da Santa Casa o médico João Jazbik Neto, ressalta que a doação de mais de R$2 milhões feita pelo pecuarista Antônio Morais dos Santos, em agosto de 2011, foi a responsável pelo retorno dos transplantes.

O pecuarista, e proprietário de diversos imóveis pelo país, doou, além de material para reforma das instalações, equipamentos (monitores, respiradores) e leitos para os CTI’s (Centro de Tratamento Intensivo) de pós-operatório de cirurgia cardíaca e transplante cardíaco.

A Santa Casa oferecia 13 leitos, sendo que cinco deles já haviam sido desativados pela Anvisa. Com a doação de sete novos leitos feita pelo pecuarista, a Santa Casa dispõe hoje de 12 leitos no total, um deles para os transplantados e o restante para os pacientes de cirurgias cardíacas.

Sobre o protocolo para transplantes, Razbik lembra que os procedimentos seguem normas mundiais. “O protocolo é regido e disciplinado”.

O paciente de 50 anos, Paulo Cesar, que sofria de insuficiência cardíaca isquêmica e recebeu o novo coração nesta semana passa bem, conforme avaliaram os médicos. O doador, um homem de 40 anos, morreu com traumatismo craniano em um acidente de motocicleta, dois dias antes da cirurgia. "Ele teve morte cerebral, mas o coração continuava batendo", disse Razbik.

Razbik lembra que o problema era falta de estrutura e não de pessoal.
Claudio lembra que a evolução dos pacientes depende do organismo de cada um.

Em um período de até 4 horas é possível constatar se o doador é ou não compatível com o receptor. “Existem vários critérios. É preciso antes de tudo verificar o tipo sanguíneo, e também o peso e altura de quem está doando e de quem irá receber”, explicou Claudio.

O médico disse ainda que o receptor precisa ser avaliado psicologicamente, sócio-culturalmente e clinicamente antes da cirurgia. “Tudo precisa ser considerado. O paciente não pode sofrer de alguma doença mental ou ter algumas doença infectocontagiosa, ter até 65 anos de idade, entre outras coisas”. O doador precisa ter até 55 anos e o coração precisa ainda estar em funcionamento.

O período pós-operatório é o mais crítico da cirurgia, lembra Jazbik, com 40 anos de carreira. “É o período onde pode haver rejeição do órgão. Até 30 dias é possível dizer se o paciente já pode voltar pra casa”.

Doutor Cláudio lembra que a recuperação depende muito do paciente. “Já mandei pessoas com 10 dias de transplante para casa”.

Desde o primeiro transplante feito no hospital, em 1993, já foram realizados 17 transplantes. Em 1993 o paciente morreu logo depois da cirurgia. Só em 1994, ocorreu a cirurgia de sucesso. "O paciente viveu muitos anos depois", recordou Claudio. De acordo com os médicos, 30% dos pacientes que aguardam um transplante morrem esperando na fila.

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