Tradicional visita a cemitério tem até oração por quem não era da família
No Dia de Finados, local lota com familiares tentando matar a saudade e honrar quem já se foi
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É uma tradição que traz alívio à saudade dos parentes falecidos, mas para alguns a visita ao cemitério vai além e torna-se momento de solidariedade com quem nunca fez parte da família. Nesta quarta-feira (2), Dia de Finados, o cemitério lota. Entre os túmulos, muitas pessoas idosas, alguns junto a familiares mais jovens com intuito de “passar a tradição”, e outros orando pelos falecidos que nem conheceram em vida.
O azulejista Roberto Carlos, de 55 anos, foi ao cemitério Santo Amaro nesta manhã, visitar os túmulos do pai, da mãe, do cunhado, do sobrinho e de uma tia. O filho foi junto.
Desde pequenos fomos doutrinados a isso.É uma tradição. Agora, estou aqui com meu filho ensinando. É um sentimento de saudade, lembrar dos tempos, saudades por eles não estarem mais vivendo entre nós”, detalhou Roberto.
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Depois de visitar os túmulos dos parentes, ele foi ao local onde ficam os corpos de mortos cujas famílias não têm condições de pagar pelos túmulos. Em seguida, visitou também o “túmulo da Fatinha”, conhecido como milagreiro. “Em outros anos, tinha mais gente aqui”, lembra o azulejista.
Na porta, vários bilhetinhos, mas os dois filtros de barro que geralmente tinham água que as pessoas passavam para beber estão secos. A água vinha de uma bica que intrigou e por isso deu ao túmulo a fama que tem.
De fato, apesar de cheio, nesta manhã o cemitério não tem o movimento de anos anteriores. Mais adiante, o aposentado Nelson Coelho do Nascimento, de 76 anos, e a esposa Aurelina Silva do Nascimento, de 71 anos, visitam os túmulos dos pais e mães de cada um, além de um filho, falecido há 5 meses.
Ele se emociona e conta a falta que os falecidos fazem. “Só tem eu e ela aqui e só tínhamos ele, meu filho. Nós dois cuidamos dele até o fim. Hoje, temos que nos conformar. A vida segue. A última vez que vimos o rosto dele foi quando ele passou para a outra vida. Agora, é esperar nosso tempo”, comentou Nelson sobre o filho falecido por doença com 53 anos de idade.
Com a filha e o bisneto, a aposentada Hilda Rocha, de 80 anos, foi ao local para lembrar do marido e da mãe. “A gente sabe que a alma deles já foi. Quando venho, rezo para eles e volto a lembrar tudo do passado. Só fica a saudade, mas um dia a gente vai se encontrar. Faz anos que venho visitar no dia de finados”, conta Hilda, cujo marido morreu há 10 anos e mãe há mais de 20 anos.
Com 50 anos de idade, a supervisora escolar Norma Regina Ferreira visita no Dia de Finados os túmulos de dois irmãos que morreram quando eram bebês.
Ela tinha apenas dois anos quando o primeiro irmão morreu e estava com 10 anos quando o segundo também partiu. “Sempre venho. Faço essa visita e trago flores. É um momento que nós temos para fazer isso. É um sentimento de saber que nossa vida é passageira. A gente busca o céu. Os dois morreram de insuficiência respiratória”, conta Norma.