Capital

Testemunha conta que policiais morreram após perguntarem sobre ouro a assassino

William Cormelato é casado com sobrinha de Ozeias Silveira, homem que atirou e matou dois policiais civis, ontem

Silvia Frias | 10/06/2020 15:49
William relatou à advogada que só saiu do carro depois que sangue espirrou nele (Foto/Divulgação)
William relatou à advogada que só saiu do carro depois que sangue espirrou nele (Foto/Divulgação)

“Você vai ter que contar onde está o ouro”. Essa foi uma das frases ditas pelos policiais civis ao vigilante Ozeias Silveira de Morais, 45 anos, dentro da viatura descaracterizada, ontem à tarde. Pouco depois, o homem, sentado no banco de trás, tirou a arma de uma pochete e atirou contra a nuca dos dois investigadores.

A dinâmica das mortes dos policiais Antônio Marco Roque da Silva, 39 anos, e Jorge da Silva Santos, 50 anos, foi contada pelo tapeceiro William Dias Duarte Comerlato, que estava na viatura quando os dois homens foram mortos pelo vigilante para a advogada dele, Regina Berni.

Regina esteve esta manhã na sede do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros) e contou ao Campo Grande News que conversou com o cliente e detalhou o que teria ocorrido ontem.

Segundo ele, o tapeceiro estava em casa, no bairro Tiradentes, quando os dois policiais lotados na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) foram até a casa dele para cumprimento de mandado de prisão, por conta de sentença dada em 14 de agosto de 2018, da 1ª Vara da Família, de dois anos, um mês e 20 dias de prisão.

No carro, segundo relato de William à advogada, os policiais teriam perguntado se ele conhecia Ozeias Silveira de Morais. “Ele [William] respondeu que sim, que o Ozeias era tio da esposa dele”, contou. Em seguida, os investigadores perguntaram se sabia onde o homem morava. Nova afirmação e eles foram até o endereço indicado.

Ozeias foi morto após intensa perseguição (Foto/Divulgação)

Na casa, conforme William, eles foram recebidos por Ozeias. No relato do tapeceiro, os policiais teriam dito que o homem teria que acompanhá-los para “prestar esclarecimentos na delegacia”.

Dentro do carro, William e Ozeias sentaram no banco de trás. Foi no caminho que as perguntas começaram. “Eles diziam para o Ozeias: ‘nós queremos saber onde está o ouro’”. A cada negativa, eles voltam a perguntar. “Você vai ter que contar onde escondeu o ouro”.

O ouro é referente a roubo ocorrido em uma joalheria na Avenida Calógeras na manhã do dia 21 de maio. O ladrão não levou nem 30 segundos para render duas pessoas e roubar cerca de R$ 300 mil.

Na ocasião, foram levadas duas correntes de ouro, 58 gramas de ouro, 16 gramas de ouro branco, aproximadamente 300 peças com brilhantes, lâminas de cheque e R$ 4,8 mil em dinheiro.

William disse à advogada que Ozeias não ficou nervoso com o questionamento. “Pararam no farol e, inopinadamente, ele deu tiro nos dois”, disse Regina, referindo-se ao relato do cliente do crime ocorrido na Rua Joaquim Murtinho.

 O tapeceiro teria dito que ficou paralisado. Nas palavras dele, segundo a advogada, “minha perna batia tanto que não consegui sair do carro, saí quando o sangue do moço da frente começou a espirrar em mim”.

Logo depois, William saiu do carro e começou a correr e foi recapturado três quarteirões depois. Segundo a advogada, o cliente “nunca soube de ouro” ou tem qualquer envolvimento com o roubo na joalheria. Ainda conforme Regina Berni, embora houvesse parentesco, não havia relação próxima entre a mulher dele e o tio.

A advogada disse que depois do ter acesso ao depoimento formal do cliente irá avaliar a situação e deve pedir revogação da prisão preventiva e, se for negado, habeas corpus no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

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