Capital

Sem receber há meses, criador diz que sistema policial funciona ‘porcamente’

Guilherme Henri | 06/08/2016 08:57
Adriano Chiarapa e engenheiros responsáveis pela manutenção do SIGO (Foto: Fernandes Antunes)
Adriano Chiarapa e engenheiros responsáveis pela manutenção do SIGO (Foto: Fernandes Antunes)

Sem receber há pelo menos seis meses, por não ter contrato renovado com o Governo do Estado, o empresário Adriano Chiarapa, desenvolvedor do SIGO (Sistema Integrado de Gestão Operacional), diz que falhas operacionais estão ocorrendo pela falta de pessoal que dê conta da manutenção necessária.

O programa, como indica nomes, antecedentes, gerencia o registro de procedimentos policiais, incluindo boletins de ocorrências, e também integra dados da Polícia Civil, Militar, Corpo de Bombeiros, policiamento de trânsito e o Sistema Carcerário dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul. O Sigo surgiu há 19 anos, visto como modelo, mas tem apresentado problemas ultimamente, tanto para alimentação, quanto para acesso.

Sem informações fundamentais, o Sinpol/MS (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul), reclama que há um mês a Polícia Civil tem dificuldades para desempenhar suas funções de investigações e prestação de serviços à sociedade em decorrência de falhas no Sigo.

Adriano Chiarapa diz que o SIGO opera em MS há 19 anos (Foto: Fernando Antunes)

De acordo com Adriano, a empresa tinha folha de 160 funcionários, mas por conta da falta de pagamento o quadro foi reduzido a 20% deste número.

“O Sigo é um sistema ‘monstruoso’ e precisa de atenção no que se refere em correções e manutenção. Os funcionários que foram mantidos não conseguem dar conta da demanda que é gigantesca, até porque possuíamos outros clientes, que estão em dia com os pagamentos, e acabam sendo prioridade. O que implica que no Estado o serviço acaba sendo feito ‘porcamente’”, admite o empresário. Mesmo assim, diz que não deixou de prestar assistência a MS.

O empresário afirma que já se dispôs a não cobrar os meses em que ofereceu assistência sem contratado e que os documentos necessários para a renovação dos serviços já foram entregues ao Governo.

“Agora aguardamos a posição do Estado para assinarmos o novo contrato”, diz, lembrando que dos 19 anos em que o programa opera em MS esta é a primeira vez que permanece tanto tempo sem contrato.

Empresa tinha 160 funcionários e por não receber precisou reduzir o quadro para 20% (Foto: Fernando Antunes)

O trâmite, segundo o titular da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), José Carlos Barbosa, deve durar ainda 10 dias.

“O Estado deveria há anos estar preparado e ter uma resposta caso acontecesse algo semelhante com o Sigo, o que não aconteceu e por isso enfrentamos esses problemas. Agora estamos agilizando o mais rápido possível a renovação deste contrato, pois precisamos do Sigo”, garante.

Em recente entrevista ao Campo Grande News, o presidente do Sinpol, o escrivão Giancarlo Miranda, reforça que as investigações são feitas com base no sistema, que na teoria tem que agilizar o levantamento de dados de suspeitos.

“Com as falhas, o sistema está engessado e vários recursos não funcionam, como autos de prisão em flagrante, impressão de capas de inquéritos policiais. Também há bagunça nas numerações dos boletins, o que causa confusão nas delegacias”, protesta Giancarlo.

Sindicato da Polícia Civil afirma que o SIGO apresenta problema há pelo menos um mês (Foto: João Humberto)

Segundo o sindicalista, a situação prejudica, principalmente, a população, que leva de duas a quatro horas para registrar boletim de ocorrência nas delegacias. Já situações como extravios e furtos simples, que antes podiam ser registradas por meio da Delegacia Virtual, agora não podem mais.

O caos no SIGO foi denunciado por meio de documento protocolado na Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e na Delegacia-Geral de Polícia Civil cobrando providências urgentes, de acordo com o Sinpol/MS. A ferramenta, de acordo com o sindicato, atrasa os trabalhos policiais, pois no Sigo é possível cruzar dados dos autores de crimes, montar inquéritos policiais e levantar estatísticas de ocorrências.

O problema faz com que os escrivães tenham que registrar os boletins de ocorrência de forma arcaica e inadequada. “Isso prejudica os depoimentos das vítimas e toda a instrução do inquérito. Também causa lentidão no andamento do processo e no tempo de resposta à população”, informa Giancarlo.

Adriano Chiarapa diz que irá precisar encontrar mais pessoas qualificadas (Foto: Fernando Antunes)

Diante do sistema capenga, os policiais civis têm que amenizar o problema usando ferramentas alternativas disponíveis no computador para trabalhar. Caso a situação persista, o Sinpol/MS adianta que orientará os escrivães a realizar os registros de ocorrência só quando houver condições necessárias.

Mas, o problema pode estar longe de acabar, pois segundo o empresário Adriano Chiarapa, mesmo depois de resolver a renovação do contrato, ele irá precisar recontratar sua equipe. “Tínhamos um estrutura fechada, que se desfez. A maioria que conhecia de verdade o sistema já está em outros empregos ou até fora do Estado. Levaremos um tempo para encontrar pessoas qualificadas que ainda levarão um tempo até se familiarizem com o sistema, que é complexo”, conclui.

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