Capital

Sem estrutura para quarentena, frio pode matar restante dos peixes

Ricardo Campos Jr. | 30/06/2015 17:31
Tanques onde estão sendo mantidos os peixes do Aquário do Pantanal (Foto: Fernando Antunes)
Tanques onde estão sendo mantidos os peixes do Aquário do Pantanal (Foto: Fernando Antunes)
Relatório aponta que 83% dos exemplares morreram; empresa alega que os números estavam errados (Foto: Fernando Antunes)

O Governo do Estado “corre contra o frio” para evitar que mais peixes do Aquário do Pantanal morram. Técnicos disseram a deputados estaduais e ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), nesta segunda-feira (30), que os aquecedores atuais não têm potência para manter os exemplares nas baixas temperaturas previstas para os próximos dias.

“Vamos buscar adquirir toda a infraestrutura necessária para dar conforto aos peixes que estão aqui”, disse o diretor de licenciamento do instituto, Ricardo Éboli.

O estado assume, a partir de hoje, o cuidado com os animais, já que foi rescindido contrato com a Anambi, empresa cujo projeto de quarentena foi aprovado e estava em execução.

Éboli visitou os tanques junto com a comissão formada pelos deputados Lídio Lopes (PEN), Amarildo Cruz (PT), Renato Câmara (PMDB) e Márcio Fernandes (PtdoB). O objetivo foi conhecer a forma de armazenamento dos animais dada a informação sobre a perda de grande parte dos espécimes.

Segundo o diretor, o atraso na entrega das obras inviabilizou a conclusão do projeto de pesquisa no qual os espécimes faziam parte. Agora, só resta evitar mais mortes até que a conclusão do empreendimento.

“O governo manterá esses peixes pelo período que for necessário, porque haveria um prejuízo maior devolvendo-os ao rio e iniciar todo um novo processo de captura e quarentena”, explica.

Lídio Lopes, que encabeça a comissão de deputados, afirma que “foi solicitado [pela equipe] um aparato para poder aumentar a potência desse aquecedor para que esses peixes possam ser mantidos”.

Tanques onde parte dos exemplares é mantida (Foto: Fernando Antunes)
Peixes menores ficam em aquários de vidro (Foto: Fernando Antunes)

Como funciona? – A Anambi ficou encarregada de contratar os profissionais para manter os peixes e elaborar relatórios periódicos sobre os animais. A Fundect (Fundação de Apoio e Desenvolvimento de Ensino e Ciências e Tecnologia) acompanhava a execução dos trabalhos científicos e repassava os valores necessários.

O projeto foi orçado em R$ 5 milhões. Segundo a fundação, já foram pagos R$ 3 milhões pela manutenção dos peixes. 

Esse dinheiro começou a ser gasto em novembro. O projeto foi dividido em etapas. Inicialmente foram erguidos os galpões junto à sede da PMA (Polícia Militar Ambiental) nos altos da Avenida Mato Grosso.

Após, foram adquiridos os peixes. Conforme o governo, todas as espécies da bacia pantaneira foram capturadas. O restante, de outras regiões brasileiras e até de outros países, foram compradas ou recebidas como doação, totalizando 20 mil unidades.

Esses exemplares deveriam ser mantidos por até três meses nos galpões, quando deveriam ser transpostos para o Aquário do Pantanal. Porém, o atraso na entrega das obras tornaram sem sentido a continuidade do projeto, conforme avaliação de Ricardo Éboli e do diretor-presidente da Fundect, Marcelo Turine.

Deputados Lídio Lopes, Márcio Monteiro, Renato Câmara e Amarildo Cruz visitaram peixes em quarentena nesta terça (Foto: Fernando Antunes)

Quantos? – O número de peixes mortos na quarentena ainda é polêmico. Relatório assinado pelos especialistas contratados pela Anambi, e enviado ao governo, aponta que 83% não resistiram ao frio, tiveram problemas de adaptação ou sofreram com parasitas. Segundo o estudo, 10.160 peixes morreram.

No entanto, o diretor da empresa, Geraldo Augusto da Silva, garante que esses números estão errados. A contagem foi baseada em métodos estatísticos que foram revisados recentemente, mostrando que, na verdade, a quantia de exemplares mortos varia entre 6,5 mil a 7 mil, ou seja, cerca de 13 mil espécimes ainda vivem nos tanques da quarentena.

Segundo Turine, no relatório a quantidade de peixes mortos está confusa, já que em algumas partes o texto dá a entender que foram contabilizados os peixes usados para a alimentação de alguns espécimes, que na verdade não entram na conta dos que serão destinados ao Aquário.

O Governo do Estado afirma que está fazendo uma nova contagem. Esse levantamento foi cobrado também pelos deputados que visitaram o projeto. “O Imasul vai fazer uma nova contagem, mesmo porque é o responsável pelo projeto e precisa inventariar tudo o que está recebendo. Precisamos levantar o que morreu de fato. Depois buscar as causas. Se houve negligencia ou dolo, o governo do estado tomara as providências”, explica Ricardo Éboli.

Diretor do Imasul, Ricardo Éboli, diz que nova contagem será feita (Foto: Fernando Antunes)

Manutenção – Por hora, os espécimes são mantidos em tanques semelhantes a caixas d’água e contam com aparelhos para regular a temperatura da água. Além daqueles que se alimentam de peixes menores, há exemplares que comem ração.

Turine e Silva concordam que era esperada morte de parte dos exemplares, até porque, segundo diretor da Anambi, 13 mil devem ser colocados para visitação. O problema, na visão da Fundect, é que a morte, de certa forma, foi em vão, já que, aparentemente, não geraram conhecimento sobre o que levou à perda e tampouco foi capaz de desenvolver formas de manejo mais eficientes.

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