Capital

Seguranças de empresário foram presos por ameaçar esposa de guarda

Testemunha-chave na investigação sobre origem de arsenal, mulher passou três dias sendo vigiada e coagida

Anahi Zurutuza e Mirian Machado | 24/05/2019 10:26
Armas e munições apreendida com o guarda municipal Marcelo Rios no domingo (19) (Foto: Clayton Neves)
Armas e munições apreendida com o guarda municipal Marcelo Rios no domingo (19) (Foto: Clayton Neves)

Além dos dois guardas municipais presos pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos de Repressão a Roubo à Banco, Assaltos e Sequestros) na noite desta quarta-feira (22), um quarto integrante da “escolta” de empresário de Campo Grande está na mira da investigação de quadrilha com característica de milícia.

O trio foi preso em flagrante por ameaçar testemunha-chave no inquérito sobre a origem de arsenal apreendido no domingo (19) com Marcelo Rios, também guarda municipal.

Os guardas municipais Rafael Antunes Vieira e Robert Vitor Kopetski, além de Flavio Narciso Morais da Silva, passaram por audiência de custódia na manhã desta quinta-feira (24) e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva.

Robert passará por exames no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) porque diante do juiz, alegou ter sido agredido por policiais do Garras. 

Munições de grosso calibre apreendidas pelo Garras (Foto: Clayton Neves)

Coação e ameaças – Testemunha-chave na investigação sobre o arsenal, a mulher de Marcelo Rios passou a ser vigiada pelo trio assim que deixou Garras na madrugada da segunda-feira (20).

Conforme consta no registro dos flagrantes, ela passou a receber dinheiro, foi forçada a deixar sua casa e trocar o número de telefone, “tudo sob ameaça de morte”. A polícia registrou ainda que há “fortes suspeitas” de que o trio estava coagindo a testemunha por ordens do patrão e do filho dele, que os homens que atuavam como motoristas e seguranças chamam de “Guri”.

Detalhes - Conforme o registro, policiais do Garras constataram pela primeira vez que a mulher estava sendo vigiada na noite de segunda-feira, quando decidiram ir até a casa dela temendo que algo pudesse acontecer em razão do depoimento prestado pela mesma naquele dia.

No local, os investigadores abordaram o motorista de um Renault Sandero vermelho que estava estacionado em frente à casa da testemunha. O condutor, depois identificado como Flavio, disse ser vizinho e amigo da família. A mulher confirmou.

Ela, contudo, foi levada para a delegacia com os filhos, e lá, revelou que o homem integrava a “escolta” para a qual o marido também trabalhava.

Ainda conforme depoimentos, naquele mesmo dia, por volta das 23h, Flavio foi novamente até a casa da testemunha e disse a ela que seria o responsável por tudo que ela precisasse. No dia seguinte, o investigado levou a mulher até o Fórum, na tentativa de fazer com que ela passasse recado para o marido, antes ou depois da audiência de custódia. A estratégia não deu certo.

Na terça-feira, Rafael e outro integrante da “escolta”, conhecido como Vlade, abordaram a mulher junto com Flavio numa agência bancária e reforçaram que ela seria amparada. Disseram ainda que por ordens de “Guri”, encontrariam uma nova casa para ela e um novo número de celular, mas ela não deveria manter contato com ninguém, “muito menos com policiais”.

A testemunha chegou a dizer que Flavio estava cumprindo as ordens de “Guri” porque tinha objetivo de ascender na hierarquia da organização criminosa.

Fuzis apreendidos na operação de domingo (Foto: Garras e Batalhão de Choque/Divulgação)

Na quarta-feira (22), policiais tentaram localizar a mulher, na casa dela e na residência dos pais, mas não conseguiram. Desta vez, o motorista Sandero vigiava o imóvel da família da testemunha e foi quando os policiais civis abordaram e prenderam Flavio.

A mulher foi encontrada logo depois e relatou ameaça recebida de outro homem, que não soube dizer o nome. “Se você abrir a boca, você morre”, teria dito esta pessoas ao abordá-la na porta de casa.

Rafael e Robert foram identificados e presos mais tarde numa festa no Bairro Coophasul.

Milícia - O termo refere-se a organizações compostas por cidadãos comuns armados ou com poder de polícia, mas que não agem pelo interesse público necessariamente. As investigações apontaram, segundo o registro, que a maior parte dos seguranças do empresário são guardas municipais e que o grupo pratica crimes a mando dos patrões, dentre eles a execução de rivais da organização criminosa.

Movimentação na cena da execução da Matheus Xavier na noite do dia 9 de abril (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Arsenal - Numa operação do Garras com o apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar, foram encontrados em uma casa na Rua José Luiz Pereira dois fuzis AK-47 calibre 76, quatro fuzis calibre 556, uma espingarda calibre 12, uma espingarda calibre 22, 17 pistolas, um revólver calibre 357 e várias munições (15 de calibre 762, 392 com calibre 762/39 para AK-47, 152 de calibre 556, 115 de calibre 12, 539 munições de calibre 9 mm, 37 de calibre .40 e 12 calibre 45), além de silenciadores, lunetas e bloqueadores de sinal eletromagnético, capazes de conter o sinal das tornozeleiras eletrônicas. As armas estavam municiadas e prontas para uso.

A suspeita da polícia é que armas tenham sido usadas em pelo menos três execuções em Campo Grande. Os AK-47 têm o mesmo calibre usado nos assassinatos do chefe da segurança da Assembleia Legislativa, o subtenente Ilson Martins Figueiredo, de Orlando Silva Fernandes, o “Bomba”, e de Matheus Coutinho Xavier, filho de um capitão reformado da Polícia Militar.

O armamento passará por comparação balística para confirmar se foi usado em crimes.

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