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Quase inaugurada, reforma da Julio de Castilhos ainda gera reclamações

Elverson Cardozo | 23/08/2013 13:50
Investimento para revitalização da avenida foi de mais de R$ 18 milhões. (Foto: Marcos Ermínio)
Investimento para revitalização da avenida foi de mais de R$ 18 milhões. (Foto: Marcos Ermínio)

O investimento é alto. A quantidade de algarismos enche os olhos: R$ 18.364.088,59. São dezoito milhões, trezentos e sessenta e quatro mil, oitenta e oito reais e cinquenta e nove centavos. Noventa e cinco por cento do recurso é do Pró-Transporte, do Ministério das Cidades. Cinco por cento vem do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Tudo isso é destinado às obras de revitalização da Julio de Castilho, uma das avenidas mais movimentadas de Campo Grande.

A ideia, esperavam ou ainda esperam os campo-grandenses, motoristas ou não, é que a via fique, de fato, mais bonita, com melhor ordenamento do trânsito e com soluções de acessibilidade, como prevê o projeto inicial. Mas, a julgar pelas opiniões, erros constantes e pelo andamento da obra, isso não vai acontecer.

Esta na boca do povo e o discurso não é novo: As obras da Julio de Castilho viraram piada. Para quem cruza a avenida todos os dias e vê o problema de perto, dizer isso não é, nem de longe, um exagero. Basta percorrer os 13 quilômetros da avenida.

A equipe de reportagem do Campo Grande News fez isso. Nosso “passeio” começa pelo início da via, no Jardim Sayonara, onde foi implantada uma rotatória. O asfalto, naquela região, é novo, mas já está esfarelando. À frente, perto de outra rotatória, o mesmo problema: a massa asfáltica é recente, mas há remendos.

A situação, no entanto, se mostra mais crítica. Uma equipe trabalha, há dias, para construir, segundo relatos, uma nova ponte, porque, quando chove, a região alaga rapidamente e o asfalto cede.

Com problemas de infiltração e com alagamento na rotatória do Sayonara, prefeitura resolveu construir mais uma ponte. (Foto: Marcos Ermínio)

“Transborda”, resumiu a estudante Edvania Santana, de 16 anos. “Dizem que isso aí fica pronto em 40 dias, mas não sei. Já tem uns 20 que estão trabalhando”, acrescentou. “Estava dando problema, entupindo o tubo, que é pequeno”, esclareceu outra moradora, Eliane Daniel, de 37 anos.

Não é preciso caminhar muito para notar que o problema não fica só nas rotatórias, que exige desvio e provoca transtornos. No Parque Residencial Bellinate, próximo do Sayonara, nota-se um problema comum, que se repete por toda a extensão da Júlio de Castilho e que, inclusive, já foi pauta nas reuniões do Conselho da Região Urbana: nas calçadas, até existem pisos táteis, mas em alguns trechos eles estão incompletos.

Em outros, próximos dos pontos de ônibus, a guia foi colocada rente aos bancos de passageiros. Na prática, com espaço tão estreito, um deficiente visual dificilmente conseguiria seguir seu percurso sem dar de cara com o obstáculo.

Piso tátil ficou rente ao ponto o oferece riscos aos deficientes visuais. (Foto: Marcos Ermínio)

Confusão no trânsito - Se a falta de planejamento fosse apenas na calçada ou na instalação dos bueiros, que estão abaixo do nível do asfalto, “afundando”, a situação poderia ser, quem sabe, contornada a tempo, com mais rapidez e eficiência. Mas não.

A prova de que alguma coisa não deu certo está no trânsito, no ordenamento do fluxo, na falta ou ausência de sinalização adequada, que põe em risco a vida da população e gera acidentes com frequência. A prova de quem faltou alguma coisa - pensar, talvez - está nas declarações de muitos motoristas.

No bairro Silvia Regina, há outra evidência. Durante a obra de recapeamento, o desvio para a rua Capibaribe, foi algo necessário, apesar do perigo que o fluxo intenso causaria a pacientes de um posto de saúde, funcionários e estudantes da Escola Municipal Irmã Irma Zorza.

Mas, detalhe: as obras terminaram e o desvio continuou. Por que? A prefeitura resolveu construir, no local onde antes existia uma rotatória, um canteiro bem no meio da Julio de Castilho, no cruzamento com a Capibaribe. Resultado: Quem vinha sentido bairro-centro e precisava continuar na avenida, tinha de contornar as ruas de trás. O fluxo aumentou e houve confusão. A retirada do obstáculo, palco de acidentes, só aconteceu depois de muita reclamação.

Sem sinalização, cruzamento com a Capibaribe é um dos mais perigosos. (Foto: Marcos Ermínio)

Falta de sinalização - Retiraram o obstáculo, mas não sinalizaram. No cruzamento não há, sequer, uma placa de “Pare”. Quem trafega pela esquerda, sentido centro-bairro, acaba entrando de uma vez na rua que cruza, a Capibaribe. Por outro lado, quem sai dela e precisa pegar a pista contrária, não sabe se entra ou se fica. Com tanta indecisão, o motorista que vem pela Julio de Castilho, não sabe se vai ou se para. É confusão o dia todo.

“O pessoal está perdido”, resumiu o freteiro José Assis de Oliveira, de 65 anos, que tem um ponto no cruzamento. Para o aposentando José Carlos, 58 anos, “certo está, só falta um semáforo”. “Os ganchos estão todos aí para colocar o sinal e não colocam. Eles não terminam o serviço porque não querem”, protestou. “Antes o pessoal respeitava porque era uma rotatória”, completou José Assis, ao comentar que o obstáculo ordenava o trânsito”

Com toda essa desordem, há outro problema: Os ônibus que foram obrigados a desviar o caminho por conta da obra, “esqueceram” de retornar à Julio de Castilho depois do término dos trabalhos naquele trecho. Praticamente todas as linhas continuam passando pela rua Tordesilhas, onde fica a escola e o posto de saúde.

“Ficou complicado, principalmente para os pacientes. Prejudica a entrada de veículos de emergências. Os ônibus deveriam continuar na avenida porque aqui é uma rua residencial. Os carros param dos lados. Mal cabem”, disse uma funcionária que pediu anonimato.

A revitalização também causou transtorno aos motoristas de ônibus que precisam entrar no Terminal Júlio de Castilho. Com o desvio pela Tordesilhas, eles entram na rua Mangabeira, que dá frente ao espaço de embarque e desembarque.

Motoristas do transporte coletivo precisam sinalizar com a mão para fazer a travessia até o terminal. (Foto: Marcos Ermínio)

A travessia seria tranquila se houvesse, ao menos, um semáforo no cruzamento ou se a rotatória ainda estivesse lá. Sem solução, os condutores precisam acenar com as mãos, contar com a sorte e esperar a compaixão de alguém que decida parar e facilitar o dia.

A cruzamento com a rua Yokoama, no Jardim Palmira, virou um ponto clássico. A Prefeitura decidiu, durante as obras, fechar o canteiro que dava acesso, por um retorno, ao centro.

Houve protesto. Alguns moradores chegaram a dizer que quebraria o concreto para abrir, novamente, o local, mas a solução, depois das ameaças, apareceu. A Yokoama está como antes. É um avanço, se comparado à situação da rua Tupinambás, pertencente ao Jardim Imá, que faz esquina com a via. No local, não há nem sinal de sinalização. Se nesse trecho falta orientação, no seguinte, próximo à rua Brasília, sobra um semáforo, que não foi retirado depois que a prefeitura construiu uma barreira para impedir a conversão à esquerda, na Julio de Castilho.

O equipamento também é motivo de discórdia próximo à rua dos Andradas, porque foi instalado a poucos passos de um ponto de ônibus. A dúvida é a seguinte: o veículo deve parar aonde? Na faixa de retenção ou no espaço destinado ao embarque? “É errado. Ou tira o ponto ou o semáforo para ficar dentro da lógica”, opinou vendedora Cícera dos Santos Silva Miranda.

Pintura em branco libera o estacionamento. (Foto: Marcos Ermínio)
"Com carros nas laterais, a Julio de Castilho não anda", protestou o taxista Paulo Yamada. (Foto: Marcos Ermínio)

Apesar da inauguração estar próxima, para moradores, pedestres e motoristas, falta muito. Taxista, Paulo Yamada está indignado. Hoje viu funcionários pintando os canteiros de branco.

“Tinha que ser amarelo, para acabar com o estacionamento. Com carros nas laterais, a Julio de Castilho não anda”, disse. Com as obras do jeito que estão e com tantas reclamações, é difícil acreditar que, a essa altura do campeonato, alguma coisa saia do lugar.

Na avaliação do presidente do conselho regional da região urbana do Imbirussu, Elvis Rangel da Silva, não há outra explicação: “A gestão fechou os olhos. A gente fica se perguntando: quem vai pagar essa conta? Porque o que está errado tem que ser desmanchado. Se é um erro de projeto, a empresa que construiu não é errada, mas quem paga a conta? Nós, de novo? É uma obra de R$ 18 milhões”, salientou.

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