Capital

Presidente de consórcio defende que futuro do ônibus é tarifa zero para todos

“Passei a me interessar para uma realidade que é a tarifa zero do transporte. Por que não pensar nisso?”, questiona João Rezende

Aline dos Santos | 06/06/2020 08:00
No modelo atual, passageiros pagantes custeiam as gratuidades no transporte urbano. (Foto: Henrique Kawaminami)
No modelo atual, passageiros pagantes custeiam as gratuidades no transporte urbano. (Foto: Henrique Kawaminami)

O futuro do transporte urbano, setor que nesta pandemia do novo coronavírus já guarda a certeza de que nunca mais será igual, passa pela gratuidade para todos os passageiros. A análise é do presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende, um defensor da tarifa zero nos ônibus. 

“Passei a me interessar para uma realidade que é a tarifa zero do transporte. Por que não pensar nisso? O SUS [Sistema Único de Saúde] não é de graça para todo mundo. A segurança não é de graça. A educação não é de graça”, questiona. 

Neste modelo, as passagens poderiam ser custeadas por um fundo, a exemplo do que acontece em áreas como Saúde e Educação. Na Constituição Federal, transporte também é um direito social. No modelo vigente em Campo Grande, que tem tarifa a R$ 4,10, o serviço é custeado pelos passageiros pagantes. 

“Uma diarista que mora na periferia e vai fazer diária na casa de um cidadão que tem um filho que usa o ônibus gratuitamente. Ela está custeando o transporte de um abastado que paga R$ 3 mil, R$ 4 mil com mensalidade de universidade particular. Estão custeando a gratuidade do idoso, do estudante. Pode ser legal, mas para mim é imoral, injusto”, diz.  

Na versão tarifa zero, as empresas de transporte são contratadas por municípios e governos e recebem de acordo com a quilometragem rodada, atrelado ao número de veículos e a quantidade de viagens. 

“Claro que vai ser preciso melhorar, sobremaneira, o serviço no aspecto estruturante, como os corredores. As pessoas hoje abrem mão da própria segurança circulando de motocicleta, uma verdadeira indústria de mutilados e de óbitos. Muitos saíram do transporte pelo preço da tarifa. Para ele que paga é muito. Para o sistema que recebe é pouco”, diz o presidente do consórcio. 

João Rezende é presidente do Consórcio Guaicurus, que explora o transporte coletivo em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

De acordo com Rezende, a cidade de Rondonópolis (Mato Grosso) tem um sistema em que a prefeitura paga a empresa por quilometragem. Mas o passageiro ainda segue pagando a passagem.

 “Mas já é alguma coisa. Fui a Rondonópolis no ano passado. A empresa não tinha mais interesse no contrato. A prefeitura fez cinco licitações, todas desertas. O Ministério Público apontou que o serviço é essencial. Foi feito contrato emergencial e a empresa cumpre as ordens de serviço”, afirma Rezende, que também preside a Federação das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

Funciona - No Brasil, há tarifa zero em 14 cidades, as mais recentes na região metropolitana de São Paulo.  

Vargem Grande Paulista implantou o sistema em novembro do ano passado. A população que pagava R$ 3,70 para andar de ônibus agora utilizar transporte público gratuito. 

Para conseguir a isenção, foi criado por lá o Fundo Municipal de Transporte e Trânsito Urbano, capitalizado com valores de multas de trânsito, taxa de transporte público de passageiros para por empresas privadas e publicidade paga por utilização de espaço em pontos de ônibus.

Nos primeiros 60 dias o valor foi integralmente pago pela Prefeitura, até o Fundo se capitalizar. Depois as empresas passaram a pagar taxa, em janeiro de 2020.

Campo Grande tem 550 ônibus, sendo 50 na frota reserva. Com a pandemia, mantém 330 veículos em circulação por dia, mas com apenas 62 mil passageiros. Antes da chegada do novo coronavírus, a média diária era de 217 mil pessoas nos ônibus. 

“É certo, nós não vamos mais ser do tamanho que fomos, isso é fato. Com desemprego home office, com certeza nossa clientela vai diminuir. Há quem diga que deve voltar, a médio prazo, no máximo 80% do que era”, afirma João Rezende. 

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