Capital

Polícia ouvirá cerca de 200 crianças que podem ter sido vítimas de fonoaudiólogo

“Escolhia os mais vulneráveis dentre os vulneráveis”, explica delegada responsável por inquérito

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 17/03/2022 17:36
Wilson Nonato Rabelo Sobrinho, o fonoaudiólogo, chegando para prestar depoimento na manhã desta quinta-feira (17). (Foto: Henrique Kawaminami)
Wilson Nonato Rabelo Sobrinho, o fonoaudiólogo, chegando para prestar depoimento na manhã desta quinta-feira (17). (Foto: Henrique Kawaminami)

O flagrante armado pela mãe de um paciente revelou para a Polícia Civil uma série de abusos sexuais contra crianças que aconteciam há cerca de um ano em consultório de fonoaudiólogo, em clínica renomada de Campo Grande. Wilson Nonato Rabelo Sobrinho, o profissional investigado, atendeu entre 12 de abril do ano passado – dia em que começou a trabalhar na Capital – e 9 de março deste ano, data da prisão, cerca de 200 crianças, 75 delas somente em 2022.

Segundo a delegada Fernanda Mendes, titular da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), a investigação deve levar pelo menos 6 meses, porque todos os meninos e meninas que passaram pelo profissional serão ouvidas.

Apesar do longo caminho a percorrer, a delegada afirma que o perfil do abusador em série já é possível de elencar, como a preferência por meninos. Das 16 denúncias feitas à Depca, contando com o caso que resultou no flagra do dia 9, quatro casos de abuso foram confirmados pelos garotinhos no sistema de escuta especial – feita pela equipe que conta com psicóloga e assistente social.

As vítimas, obviamente, tinham problemas na fala. Mas, ainda de acordo com a responsável pelo inquérito, os quatro meninos que revelaram os abusos – de 4, 5 e 8 anos (dois deles) - têm dificuldades severas de se comunicar, alguns deles não conseguem, por exemplo, formular frase completa. 

Ele escolheu dentre os vulneráveis, os mais vulneráveis”, explica Fernanda Mendes, sobre a estratégia do fonoaudiólogo para não ser descoberto.

Para “conquistar” a confiança dos pacientes, ele os presenteava com doces ou propunha brincadeiras. Além disso, outro detalhe que chamou a atenção era o pedido para que os meninos tapassem os olhinhos com as máscaras.

Delegada Fernanda Felix durante coletiva de imprensa. (Foto: Paulo Francis)

Silêncio – O fonoaudiólogo ficou em silêncio durante todo o interrogatório. A delegada explica que perguntou dos detalhes narrados pelos pacientes nos depoimentos, mas, calmamente, ao lado de advogado, respondeu todas as interrogações com uma frase: “Eu manifesto o direito de ficar calado e só falar em juízo”.

Denúncias – A quinta-feira foi movimentada na Depca. O caso veio à tona na quarta-feira da semana passada, de ontem para hoje, é que pais de muitos dos pacientes souberam que o homem preso era o fonoaudiólogo que atendia seus filhos e em desespero, procuraram a delegacia.

Wilson Rabelo foi preso depois que a mãe de um dos pacientes dele armou flagrante e contou tudo à polícia, assim que o profissional tentava mais uma vez cometer abusos contra o filho dela, de 8 anos.

A mulher foi informada pelo outro filho, de 10 anos, o que acontecia com o caçula. Ela foi até o estabelecimento, aguardando na sala de espera, até que o garoto de 8 anos saiu correndo da sessão, dizendo que o profissional havia passado a mão nele. A mãe acionou a Polícia Militar, que prendeu o fonoaudiólogo.

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