Cidades

Passado de vítima de duplo homicídio envolve PCC e complica investigação

Danúbia Burema | 03/12/2010 20:35

Cabeleireira degolada no Tijuca havia sido arrolada como testemunha em processo contra integrantes do PCC

Cabeleireira e amiga foram degoladas em residência do Jardim Tijuca na última segunda-feira. (Foto: João Garrigó)
Cabeleireira e amiga foram degoladas em residência do Jardim Tijuca na última segunda-feira. (Foto: João Garrigó)

O passado das vítimas do duplo homicídio ocorrido nesta semana no Jardim Tijuca, em Campo Grande, torna a investigação mais complexa, conforme definição da Polícia Civil. A cabeleireira Regina Bueno França, de 40 anos, degolada em sua residência junto com a amiga Cláudia de Araújo Mugnaini, havia sido arrolada como testemunha em processo de falsificação de documento público cuja ré é a advogada Alisie Pockel, presa em 2007 por envolvimento com a facção criminosa PCC.

Regina é a terceira pessoa citada no processo de falsificação de documento a morrer. Ela foi arrolada como testemunha depois que o detento Anderson Pereira Veiga, de 29 anos, também testemunha de defesa da advogada no processo, desapareceu e dias depois foi encontrado carbonizado. O marido de Alisie, Jairo Roberto Gonçalves, também morreu no decorrer do procedimento judicial, de causa não esclarecida.

Apesar de ter sido arrolada como testemunha, Regina não chegou a prestar nenhum depoimento sobre o caso. No dia 18 de abril de 2008, cerca de dez dias antes da primeira audiência, a Justiça homologou o pedido de desistência do testemunho da cabeleireira.

A desistência foi solicitada pela Defesa da advogada acusada de envolvimento com o PCC. No início do processo, Alisie pediu segredo de Justiça no processo para preservar sua identidade, mas teve o pedido negado.

O processo no qual a cabeleireira era testemunha tramita na 2ª Vara Criminal e os autos foram solicitados pelo Ministério Público para análise.

Alisie era acusada pela Polícia de participar de um esquema que fornecia telefones celulares a presos. A reportagem do Campo Grande News tentou entrar em contato com a advogada, mas ela não atendeu nem retornou às ligações feitas para seu celular.

Perícia fotografa roupas de detento carbonizado que também era testemunha em processo contra o PCC. (Arquivo / Minamar Júnior)

Carbonizado – O detento Anderson Pereira Veiga desapareceu no dia 14 de dezembro de 2007. No dia seguinte, a esposa dele procurou a Depac para registrar o sumiço. Ela informou a Polícia de que Anderson havia saído de casa às 16h em direção à Colônia Penal onde cumpria pena por tráfico.

Por volta das 19h, a mulher recebeu uma ligação de pessoa não identificada informando que o marido estava sendo espancado outros presos porque era informante Polícia.

Após a ligação ela entrou em contato com a Colônia e um agente informou que ele deu entrada no local naquele dia, mas após busca não foi encontrado e por isso foi considerado evadido. Ele tinha passagens por tráfico e receptação.

No dia 19 do mesmo mês, Anderson foi encontrado completamente carbonizado dentro de um veículo na Capital. O reconhecimento do corpo foi possível apenas mediante exame de DNA. Sua ligação com o PCC havia motivado a transferência para o semi-aberto, porque o detento corria risco de morte.

Poucos dias depois que o corpo foi encontrado, a polícia localizou nos fundos da Colônia as roupas e o calçado de Veiga. A camiseta do detento apontava várias perfurações, seriam 30 golpes com uma arma artesanal, conforme denúncia anônima.

Delegado diz que Polícia ficará "neutra" e apurar emaranhado de informações sobre o caso. (Foto: Fábio Antunes)

Complexa - O delegado responsável pela investigação da morte da testemunha Regina, Daniel Rodrigues da Silva, avalia a investigação como complexa por conta da quantidade de informações sobre o caso, que incluem processo relacionados ao PCC e passagens. “O caso da morte dessas mulheres não deixa de ser complexo”, afirma.

Ele chega a comparar a complexidade do caso com o desaparecimento da modelo Eliza Samudio e a prisão do ex-goleiro do Flamengo. Também lembra do caso Nardoni e ressalta que é necessário tempo para apurar as informações.

Daniel alega que todos os fatos passados podem interessar a investigação e serão levados em consideração. Contudo, nesse emaranhado de informações o que será prioridade é identificar a autoria do crime, depois as motivações e circunstâncias, explica o delegado. “Por ora a Polícia vai ficar neutra”, resume o delegado, reforçando o mistério sobre o caso.

Nos siga no