Capital

Para delegada, mãe não queria maltratar bebê, mas deixá-lo "em boas mãos"

Franciele Candotti, da DEPCA, reforça que não há motivo para prender mulher e o ideal seria que ela se apresentasse

Kerolyn Araújo, Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 01/02/2021 10:10
Bebê foi encontrada na manhã de sexta-feira (29) no bairro Guanandi. (Foto: Direto das Ruas)
Bebê foi encontrada na manhã de sexta-feira (29) no bairro Guanandi. (Foto: Direto das Ruas)

Três dias após abandonar o bebê recém-nascido na calçada de uma casa no Bairro Guanandi, em Campo Grande, a mãe da criança ainda não foi localizada. Para a delegada Franciele Candotti, da DEPCA (Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente), a intenção da mulher era de quem alguém encontrasse a menina rápido.

Ao Campo Grande News, a delegada explicou que a maneira como a criança deixada na calçada, enrolada em uma coberta, dentro de uma sacola aberta e em local com circulação de pessoas, mostra que a mãe não queria maltratar a menina. "Não quero diminuir a culpa dela, mas a gente não sabe o que essa mulher passou, se foi vítima de crime, se passou por problemas financeiros, emocionais ou familiar", disse.

Segundo a delegada, tudo indica que a criança foi abandonada no local logo após nascer, por ainda apresentar secreções do parto. Agora, a esperança é de que a mãe se apresente na delegacia espontaneamente. "Ela não será presa, mas responderá por abandono de incapaz", frisou Candotti.

Delegada Francielle Candotti espera que mãe se apresente espontaneamente na delegacia. (Foto: Henrique Kawaminami)

A recém-nascida, logo que encontrada, foi levada para ao CRS (Centro Regional de Saúde) do Tiradentes, onde recebeu os primeiros atendimentos. A menina foi transferida para o Hospital Regional Rosa Pedrossian, passou por bateria de exames e está bem. Os médicos ainda aguardam o resultado de um exame, mas não há previsão de alta.

Apelo - Juíza da Vara da Infância, Katy Braun apela para que a mulher apareça na delegacia e assim o processo de adoção possa correr. "Ela vai ser tratada com sigilo, não será exposta por ninguém e terá a chance de fazer a entrega do bebê, porque o modo como está a criança, desamparada assim, ela só pode ser colocada para adoção depois de 60 dias", ressalta a magistrada.

O período de 60 dias é o prazo que a Justiça trabalha para ver se algum parente manifesta o desejo de ficar com o bebê. "Porque o desejo dela é de que essa criança tenha uma boa família, por isso ela deixou assim. Como ela não compareceu ainda, não vamos poder realizar rapidamente o que parece ser a vontade dela, e este tempo é prejuízo para essa criança", afirma.

Outro ponto ressaltado pela juíza é o de não julgar a mãe, até porque as mulheres sofrem no estado puerperal. Na visão da magistrada, a mulher pode ter escondido a gravidez, ter tido um parto sem apoio o que incluiu riscos também para ela e, no desespero, deixou a menina. "No desespero ela encontrou a melhor solução, para que essa criança fosse achada e tivesse um bom destino que ela não pode dar", acredita.

A juíza também levanta a hipótese de que a mãe, se tivesse apoio familiar, incluindo do pai do bebê, o desfecho poderia ter sido outro. "Cadê o pai? A gente também se pergunta isso. Se ela tivesse apoio ela teria com quem decidir sobre a entrega. Não é proibido você entregar, a mãe tem esse direito quando não se sente apta para o cuidado".

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