Capital

Pai acusado de “roubar” crianças já havia registrado denúncia contra mãe

Crianças passaram por depoimento especial na Depca em fevereiro e não relataram crimes contra o pai

Aletheya Alves | 01/03/2021 17:58
Boletim de ocorrência contra a mãe foi registrado na Depca. (Foto: Paulo Francis)
Boletim de ocorrência contra a mãe foi registrado na Depca. (Foto: Paulo Francis)

Advogado de 44 anos, acusado de sequestrar as duas filhas de 10 e 7 anos no Rio de Janeiro, já havia registrado boletim de ocorrência contra a mãe das meninas em fevereiro. De acordo com a delegada Franciele Candotti, da Depca (Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente), as crianças passaram por depoimento especial e foi instaurado procedimento por injúria contra a mãe. 

Antes da mulher, autônoma de 35 anos, vir até Campo Grande com mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça do Rio de Janeiro e de Mato Grosso do Sul, o advogado foi até a Depca relatando ter ouvido reclamações das crianças, conforme explicado por Candotti. “As meninas passaram pelo setor, prestaram depoimento especial e confirmaram as agressões verbais feitas pela genitora”, diz.

Conforme explicado pela delegada, as crianças relataram que a mãe gritava, as xingava, além de expressarem medo de retornar à casa no Rio de Janeiro. “Em nenhum momento as crianças narram crime contra ele [o pai], na verdade falam de crime em relação à genitora”, Candotti explica. 

 Delegada Franciele Candotti diz que foi registrado B.O por injúria. (Foto: Paulo Francis)

Já tendo se mudado para Campo Grande no início de 2021 com as meninas, o pai também as matriculou em escola na Capital. Na semana passada, após o advogado ser internado com covid-19 em estado grave, a avó paterna das crianças foi até a Depca ao lado da tia paterna e uma advogada. De acordo com a delegada, a avó relatou que iria pedir guarda provisória por não saber quanto tempo o pai das meninas iria ficar internado. 

Todo o procedimento contra a mãe foi instaurado e encaminhado para o Rio de Janeiro, já que o crime relatado pelas crianças ocorreu enquanto ainda estavam no outro estado. De acordo com a advogada da autônoma, Laura Costa, a mãe relata que as crianças foram manipuladas pelo pai. “Ela não falava os palavrões diretamente para as meninas, em nenhum momento foi para as atingir. Ele as manipulou para falar na delegacia”, diz.

Outro ponto explicado pela defesa da mãe é que não houve autorização para a matrícula das crianças em Campo Grande. “Ele veio para cá, registrou o boletim de ocorrência para descredibilizar a mãe e matriculou as meninas”. 

Ainda de acordo com a advogada, ela e a mãe foram até a Depca na sexta-feira (26) para registrar boletim de ocorrência contra o pai, mas não conseguiram. “Nós queríamos registrar que as meninas estão em risco porque não estavam com o pai, então queríamos registrar o desaparecimento delas”, disse.

De acordo com a delegada da Depca, o boletim não foi efetuado porque a mãe queria registrar que o pai estava a impedindo de ver as meninas. Como o advogado está internado com covid-19 em estado grave, não haveria como o mesmo impedir o encontro. 

Mãe não sabia da denúncia - De acordo com os advogados Rosimar Milanês e Felipe Labuto, representantes da mãe das meninas no Rio de Janeiro, a autônoma só ficou sabendo da denúncia por injúria pela imprensa, e sequer foi convidada a prestar depoimento na delegacia por conta da suposta prática do crime. 

"Se existia um fato criminoso contra a mãe e a mesma esteve várias vezes na DEPCA, em busca do cumprimento de sua ordem judicial do Rio, busca e apreensão de suas filhas, qual motivo da mesma não ter sido sequer intimada e ouvida para responder pelo suposto crime de injúria a ela imputado pelo seu ex marido?", questionam os advogados, em nota. 

A defesa também ressalta que a mãe ainda não sabe do paredeiro das filhas. "O que esta mãe está passando para tão somente ter suas filhas em sua companhia,  beira às raias do absurdo, crueldade e claro ilegal, não sendo por outro motivo que a Justiça do Rio de Janeiro nos concedeu a liminar perquirida", completa.

Mãe das crianças também registrou boletim contra o pai. (Foto: Henrique Kawaminami)

Histórico - A disputa judicial pela guarda compartilhada das duas meninas no Rio de Janeiro chegou por aqui após o pai trazer as duas para Campo Grande e extrapolar o tempo combinado em acordo judicial. Sem conseguir ver as filhas devido ao advogado estar internado e as meninas com avó e tia paterna, a mãe registrou boletim de ocorrência por subtração de menor, sequestro e cárcere privado. 

Após se divorciarem em 2013, problemas começaram com atrasos de pensão e medida restritiva contra o advogado. De acordo com a mãe das crianças, esta é a 3ª vez que o homem desrespeita medidas judiciais. 

Por último, houve um acordo de que as crianças iriam passar as férias com o pai a partir do dia 14 de janeiro. No dia 1º de janeiro, ao entrar em contato para saber sobre o retorno das filhas, ela recebeu resposta de que as meninas não iriam voltar por estarem de férias. 

Hoje, a mãe possui um mandado de busca e apreensão das meninas expedido pela Justiça do Rio de Janeiro.  

***Matéria alterada às 22h30 para acréscimo do posicionamento dos advogados Rosimar Milanês e Felipe Labuto. 

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