Capital

‘O rapaz que morreu tentou acalmar as coisas’, diz testemunha que viu briga

Estudante conta como foi discussão entre policial e empresário que resultou em tiros, acidente e morte

Luana Rodrigues e Adriano Fernandes | 04/01/2017 16:28
Condutor de caminhonete morreu e dois ficaram feridos após tiros e perseguição na Ernesto Geisel. (Foto: Simão Nogueira)
Condutor de caminhonete morreu e dois ficaram feridos após tiros e perseguição na Ernesto Geisel. (Foto: Simão Nogueira)

“Poderia ter feito algo para evitar”. Este foi o sentimento que ficou a um estudante de 22 anos, que afirma ter presenciado a briga entre Adriano Correia do Nascimento, 33 anos, e o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon, 47 anos, no sábado (31). A discussão no trânsito teria ocorrido momentos antes de Moon matar o empresário a tiros.

Em entrevista exclusiva ao Campo Grande News, o rapaz pede para não ser identificado e conta que saiu da boate em que Adriano estava com os amigos no mesmo momento que o empresário.

“Eu estava logo atrás, de moto com um amigo, a hora que ele (Adriano) entrou na Ernesto Geisel, sem querer deu uma fechadinha na Pagero do policial (Ricardo), quando ele (Adriano) viu que encostou, deu uma jogadinha para o outro lado, quando ele jogou para o outro lado, policial foi adiante, parou bem a frente dele”, diz.

Segundo a testemunha, o policial já desceu do carro bastante alterado, momento em que o carona de Adriano, Agnaldo Espinosa da Silva, de 48 anos, teria aberto a porta do veículo em que estava e o policial ordenou que ele ficasse dentro do carro.

“O rapaz que morreu, Adriano, ele tentou acalmar as coisas. Como o outro (Agnaldo) estava um pouco alterado, ele disse para ele ficar quieto, parece que ele fez um sinal com a mão, e disse pro policial, que já estava do lado dele, já tava na janela dele, para ele acalmar falou: calma, calma, não precisa de tudo isso”, afirma.

Neste momento, segundo conta o rapaz, o policial já estava com a mão. “Foi quando o Adriano falou assim: calma, e ele (policial) falou: cala a boca, e foi para a parte da frente (do carro), bem no ângulo de frente para o motorista, (o policial) já com a arma na mão, tipo, pronto para sacar. Foi quando o sinal abriu e eu tive que partir, eu não vi mais nada”, detalha o rapaz.

O estudante disse não chegou a ouvir os tiros, só ficou sabendo o que havia acontecido depois da repercussão da morte do caso. “Eu fiquei bem triste quando vi o que o policial fez. Ele foi totalmente irresponsável, ele quis matar, sabe? Porque ele (Adriano) não apresentou nenhum tipo de resistência ou qualquer postura violenta diante do policial, então realmente ele quis atirar naquelas pessoas”, considera.

Para a testemunha, por ser preparado para encarar as mais diversas situações, o policial deveria ter agido de outra forma. “Um homem que deveria nos ajudar e proteger, irresponsavelmente e de maneira cruel matar um rapaz trabalhador, uma pessoa de bem, eu acho muito cruel, muito triste e vergonhoso do ponto de vista de cidadão”, finaliza.

Ouça o áudio completo:

Crime - Ricardo Hyun Su Moon conduzia sua Mitsubishi Pajero prata naquela manhã (31), em sentido à rodoviária, onde embarcaria para Corumbá (a 419km de Campo Grande), seu posto de trabalho na PRF. Após uma suposta briga de trânsito, ele atirou pelo menos sete vezes contra a Hilux branca do empresário.

Nascimento, dono de dois restaurantes japoneses na cidade, foi atingido cinco vezes, duas no braço esquerdo, uma no pescoço, uma no tórax e outra no abdômen. O empresário perdeu o controle do veículo e bateu em um poste.

O policial ficou no local do crime e chegou até a discutir com uma das vítimas, mas não foi preso na ocasião, mesmo havendo policiais militares no local. Posteriormente, ele acabou sendo indiciado em flagrante ao comparecer na delegacia com um advogado e representante da PRF.

Em seu depoimento, Moon disse que agiu em legítima defesa. Afirmou que as vítimas não o obedeceram, mesmo após ele se identificar como policial. Disse ainda que tentaram lhe atropelar ao fugir e que viu um objeto escuro que poderia ser uma arma na mão de uma das vítimas.

Liberdade - Apesar de indiciado pela Polícia Civil, Moon responde ao processo em liberdade. O policial está proibido de viajar e tem de passar as noites em casa.

Na manhã desta quarta-feira (04), o MPE (Ministério Público Estadual) pediu à Justiça que seja decretada a prisão preventiva do policial rodoviário federal, alegando que a decisão de libertar Ricardo não foi “acertada”. A Justiça analisa o pedido, mas não há prazo para decisão ou resposta.

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