Capital

Nem em ano de Olimpíadas pista de atletismo é prioridade na Capital

Antonio Marques | 23/04/2016 12:53
Abandonada desde outubro do ano passado, a obra da pista olímpica está sendo consumida pelo mato (Foto: Marcos Ermínio)
Abandonada desde outubro do ano passado, a obra da pista olímpica está sendo consumida pelo mato (Foto: Marcos Ermínio)

Lançada pela terceira vez em julho do ano passado, após três anos de espera para iniciar as obras, a pista olímpica a ser construída como parte do Centro Esportivo do Parque Ayrton Senna, no Bairro Aero Rancho, está paralisada desde outubro de 2015 e sem previsão para reinício dos trabalhos. Atletas para-olímpicos de Mato Grosso do Sul estão treinando fora do estado para conseguir realizar o sonho de participar dos Jogos Paraolímpicos no Rio de Janeiro deste ano.

A presidente da FAMS (Federação de Atletismo de Mato Grosso do Sul), Valéria Calháo Silva, conta que a pista é um sonho de mais de 20 anos dos treinadores e atletas de Campo Grande, considerando que o local teria estrutura para atender os atletas da Capital e de todo o Estado. “Seria um lugar para melhorar o nível técnico dos nossos atletas”, comenta.

Valéria Calháo lamenta a paralisação das obras, pois quanto mais tempo demorar para a conclusão pior para os atletas campo-grandenses. “É um prejuízo irreparável ao nosso atletismo”, declarou ela, que está ansiosa pelo reinício dos trabalhos no local, que foram paralisados menos de três meses após o lançamento ocorrido em julho de 2015.

Depois que a obra foi iniciada, máquinas retiraram a parte de cimento e deixaram o terreno desnivelado. (Foto: Marcos Ermínio)

Segundo a presidente da FAMS, no final de novembro do ano passado, quando o vice-presidente da CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo), Warlindo Carneiro da Silva Filho, esteve em Campo Grande ministrando um curso, ela aproveitou a agenda para visitar o prefeito Alcides Bernal (PP). Na ocasião, o prefeito teria dito que a obra foi paralisada por falta de recursos do valor da contrapartida da prefeitura. Ele justificou ainda que ao reassumir o mandato encontrou o cofre do município sem dinheiro.

Além disso, Bernal teria dito também que considerava o valor da contrapartida muito alto em relação ao valor a ser liberado pelo Ministério do Esporte. Do total do valor da obra de R$ 6,081 milhões, conforme divulgado na placa na época do lançamento, cerca de R$ 3,7 milhões seriam de recursos da União e a prefeitura teria de investir R$ 2,3 milhões. “O prefeito se comprometeu ir a Brasília tratar do assunto para tentar reduzir essa contrapartida”, contou Valéria.

Ainda de acordo com a representante da FAMS, Warlindo Carneiro também teria considerado o valor da contrapartida um pouco alto e se dipôs a acompanhar o prefeito Bernal na visita ao ministro do Esporte para tratar do assunto. Mas Valéria disse que depois dessa conversa não falou mais com o chefe do Executivo.

Para o presidente da Acorp (Associação dos Corredores de Rua e Pista de Campo Grande), José Roberto Jaques, a paralisação da obra é algo muito lamentável e demonstra a falta de prioridade com o esporte na Capital.

Para ele, o terceiro lançamento da pista, que contou com a presença do ministro do Esporte e até com apresentação aos atletas da maquete e o material sintético a ser usado na pista, parecia que “o sonho seria realizado após tanto tempo de espera, mas a situação ficou pior”, comentou.

“Antes de iniciar as obras tínhamos uma pista de cimento que bem ou mal ainda era usada para o treinamento dos atletas, o que piorou com a entrada das máquinas no local”, revelou Jaques, que é pai do para-atleta Yeltsin Francisco Jaques Ortega, medalha de prata no Mundial de Atletismo Paraolímpico de Lyon, na França, em 2013.

Jaques contou que desde o início da construção da pista, os atletas não conseguem mais treinar no Parque Ayrton Senna. “Já reivindicamos à prefeitura para autorizar a entrada de uma máquina no local e nivelar o terreno para usarmos mesmo na terra, mas até agora nada”, reclama ele.

Jaques revelou que, por falta de local de treinamento na Capital, o filho está treinando no Ibirapuera, em São Paulo. Outra para-atleta sul-mato-grossense que poderia estar treinando em Campo Grande, segundo Jaques e foi também para São Paulo é a três-lagoense Silvania Costa, do salto em distância.

 

Na época do lançamento, em julho do ano passado, era possível ter os detalhes sobre o valor e o prazo da obra (Foto: Arquivo)
Placa que deveria constar as informações da obra não suportou a exposição ao tempo (Foto: Marcos Ermínio)

O presidente da Acorp comentou ainda que a campo-grandense Rosinei Herrera, medalha de bronze no arremesso de peso no Parapan de Toronto, no Canadá, em 2015, pré-convocada para a Paraolimpíadas do Rio, não tem local para treinar. “Atualmente, ela utiliza um terreno particular improvisado para fazer o treinamento de arremesso de peso e dardo. Se tivesse um local oficial seu rendimento poderia ser muito melhor”, garantiu.

José Jaques revelou que a delegação da China que vai participar dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio locaram o centro de treinamento do Clube Pinheiros, em São Paulo. Pela diária do local, os chineses vão pagar R$ 570 mil. “Se nosso centro estivesse pronto, 20 dias de locação para uma delegação estrangeira já cobriria o investimento”, comparou.

Para o treinador da Acorp, o custo somente da pista olímpica seria em média R$ 2 milhões, porém o projeto para Campo Grande é a construção de um centro de treinamento, com alojamentos, piscinas e salas de atendimento médico.

Consultada pela reportagem, a assessoria da prefeitura não encaminhou respostas sobre a razão da obra estar parada e a perspectiva de retomada dos trabalhos pela empresa de São Paulo, responsável pela execução do centro esportivo.

Além da pista estar em pior estado que a existia no local desde a implantação do parque, em 1994, a placa que informava o lançamento também não suportou a exposição ao tempo. A previsão do término da obra é para o final de junho deste ano. Mas dificilmente a obra deve ser entregue neste prazo.

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