Capital

"Não sei para quê tanta maldade", diz irmã de rapaz encontrado no Inferninho

O corpo de Gleison da Silva Abreu, 25 anos, foi encontrado na sexta-feira; rapaz tinha plano de morar na Itália

Silvia Frias e Viviane Oliveira | 03/05/2020 10:01
Gleiciane disse que o irmão era centrado e "na dele", sem rixas ou inimizades (Foto: Marcos Maluf)
Gleiciane disse que o irmão era centrado e "na dele", sem rixas ou inimizades (Foto: Marcos Maluf)

Gleison da Silva Abreu, 25 anos, era tido como um rapaz centrado e “na dele” pela família, conhecido no bairro e sem rixas. Por isso, a morte violenta ainda é chocante para os irmãos: há indícios de que ele foi estrangulado. O corpo foi jogado entre as pedras, na Cachoeira do Inferninho, sendo encontrado na sexta-feira (1º).

“Eu não sei para quê tanta maldade, estrangularam ele”, disse a recepcionista Gleiciane da Silva Abreu, 29 anos, irmã do rapaz. Hoje, Gleison foi velado em cerimônia discreta, restrita e que durou cerca de 1h30, no Memorial Park, na Avenida Filinto Muller.

O caixão fechado seria necessário mesmo sem as regras sanitárias impostas em tempos de covid-19. O rosto de Gleison estava desfigurado e somente foi reconhecido por um dos irmãos, principalmente por características do corpo.

Gleison era o terceiro de cinco irmãos e morava com a mãe no Jardim Colúmbia, bairro onde foi nascido e criado. Era conhecido na área e não teria inimizades, segundo Gleiciane.

Velório durou cerca de 1h30 (Foto: Marcos Maluf)

O rapaz tinha intenção de morar na Itália em setembro deste ano. Por isso, trancou a faculdade de Direito e fazia bicos de marcenaria para juntar dinheiro.

Gleiciane disse que o último contato com o irmão foi na manhã de quinta-feira (30), quando ele mandou mensagem perguntando se precisaria da carona diária para o trabalho. “E aí, maninha, vai trabalhar hoje?”. A jovem disse que não.

A mãe deles contou que Gleison saiu de casa por volta das 9h e estava com a mochila, contendo notebook e celular. Saiu com a motocicleta Titan 160. Por volta das 12h, foi visto conversando com duas pessoas no bairro Nova Lima, próximo do Jardim Colúmbia. Lá, já estava sem a moto, fato que chamou atenção da irmã. “Ele não andava sem a moto”.

Mais tarde, Gleiciane tentou entrar em contato com o irmão, avisando que precisaria da carona na sexta-feira (1º) e estranhou ao notar que a última vez que ele visualizou o WhatsApp foi às 18h30 do dia anterior. A mensagem dela não chegou e a celular só dava desligado.

No fim da tarde da sexta-feira, a família foi à DEH (Delegacia Especializada de Homicídio) registrar boletim de ocorrência. Eles não foram informados de que um corpo havia sido localizado no período da manhã, na Cachoeira do Inferninho.

Gleison foi visto conversando com duas pessoas no bairro Nova Lima (Foto/Reprodução/Facebook)

Depois da polícia, a família foi à Santa Casa e a um posto de saúde em busca de Gleison. “A gente ficou muito preocupado, ele não fazia isso”, disse o irmão, o borracheiro Cleitiano da Silva Abreu, 30 anos.

No sábado (2) de manhã, a família estava reunida na casa da mãe, em busca de informações sobre. O número de pessoas na varanda chamou atenção de equipe do Tático da PM (Polícia Militar) que parou e perguntou se havia acontecido alguma coisa.

Cleitiano falou sobre o desaparecimento do irmão. Um dos PMs pediu foto do rapaz e, depois, disse a ele que um corpo havia sido encontrado na cachoeira na sexta-feira e mostrou foto de uma reportagem. “Na hora que eu vi, disse ´é meu irmão´”. 

Corpo foi encontrado na manhã de sexta-feira por praticantes de rapel, na Cachoeira do Inferninho (Foto: Henrique Kawaminami)

Mas Gleiciane e outros familiares disseram que não era o rapaz e a dúvida persistiu. Entre as justificativas, a de que Gleison não tinha roupas como aquelas usadas pela vítima encontrada no Inferninho.

O borracheiro foi até o Imol (Instituto Médico e Odontologia Legal) e pediu para ver o corpo. Antes, o funcionário pediu descrição e verificou as digitais, constatando ser o corpo de Gleison. Somente aí Cleitiano teve permissão para ver o irmão, que estava desfigurado e foi reconhecido pela estrutura corporal e parte da boca. No pescoço, marcas de estrangulamento.

 “O ser humano é capaz de tudo”, disse Gleiciane. A família acredita que ele tenha sido vítima de latrocínio, pois nem a mochila nem a moto foram encontradas até agora, um Titan 160, cor de chumbo com detalhes em verde (placa QAQ 9149). A jovem ainda se lembrou de uma conversa em que o rapaz disse que, se fosse vítima de assalto, jamais reagiria. "Ele dizia que se fosse assaltado poderiam levar tudo".

Amanhã, a família irá prestar depoimento na DEH. “Que esses assassinos não fiquem impune e que a Justiça seja tremenda sobre ele”, diz Gleiciane.

Nos siga no