Capital

Mulher afirma que medo impediu de denunciar marido e desconfiava de abusos

Criança deu entrada em posto de saúde já em óbito, com várias lesões no corpo e sinais de abuso sexual

Dayene Paz | 27/01/2023 11:11
Carrinho encontrado em residência da família, na Vila Nasser. (Foto: Henrique Kawaminami)
Carrinho encontrado em residência da família, na Vila Nasser. (Foto: Henrique Kawaminami)

Presa pela morte da filha de 2 anos na noite desta quinta-feira (26), em Campo Grande, a mulher, de 24, afirmou que tinha medo de denunciar as agressões contra a menina feitas pelo padrasto. Em depoimento, afirmou que era ameaçada de perder a guarda da outra filha que tinha com o homem. O casal foi preso em flagrante por homicídio qualificado e estupro de vulnerável. 

À polícia, a mãe contou que na noite anterior à morte, quarta-feira (25), a menina começou a passar mal. Tudo que ingeria, ela vomitava. A mãe afirma ter dado remédio, sendo que a filha melhorou e dormiu. 

Na manhã do dia seguinte, quinta-feira (26), tomou iogurte e vomitou. A mulher novamente ministrou remédio, mas a menina reclamava de dores no estômago. Entre vários remédios, nada parava na barriguinha da criança, mas a mãe optou por não levar ao posto de saúde, pois o padrasto pediu para que esperasse ela melhorar. A mãe acredita que ele estivesse com medo de que ela procurasse o médico, por causa das lesões na menina.

A criança dormiu novamente e, segundo a mãe conta, acordou por volta das 15h30. A menina rolava na cama com dores na barriga, que começou a inchar. Foi então que a mulher decidiu levá-la ao médico. No caminho, em carro de motorista de aplicativo, percebeu que a filha estava mole e passou a fazer respiração boca a boca. 

Já na unidade de saúde, após trajeto de dez minutos no carro, afirmou que a menina estava viva. Contudo, as médicas que atenderam a menina constataram que havia rigidez cadavérica e o óbito ocorrido havia cerca de quatro horas. Informada sobre as lesões na criança, inclusive os indícios de abuso sexual, disse que ficou nervosa. 

À polícia, alegou que as lesões foram causadas pelo padrasto da menina, que batia com socos como correção. A mãe trabalhava e a criança ficava sob os cuidados do homem, que fazia "bicos" como garçom. A última agressão teria ocorrido há três dias, quando a vítima foi agredida na cabeça. 

A mãe ainda relata que percebeu que a filha estava assada na região íntima e que, há cerca de três dias antes da data da morte, não olhou a menina, pois quem dava banho era o padrasto. Ela chegava e a filha já estava vestida. A mulher finaliza o depoimento dizendo que tinha medo de que o marido tirasse a outra filha do casal, por isso não denunciou. 

O padrasto não quis dar declarações e se resguardou ao direito de falar apenas em juízo. Ele tem 25 anos.

Entenda - A criança já deu entrada sem vida na UPA Coronel Antonino, na noite desta quinta-feira. As médicas constataram que ela já estava morta havia cerca de quatro horas "com sinais de rigidez cadavérica", muitas lesões no corpo e indícios de violência sexual. 

As médicas disseram que mesmo após notícia da morte, a mãe "continuou calma". Apenas expressou preocupação ao ser informada que a polícia seria acionada. 

As equipes policiais foram na casa da família, na Vila Nasser, e quando chegaram o suspeito disse que já esperava pela polícia. O padrasto confessou que corrigia a enteada com socos e tapas, mas na data da morte não havia batido na menina. A agressão teria ocorrido três dias atrás. 

A menina tinha ficha com 30 atendimentos médicos, segundo a própria unidade de saúde. Segundo o delegado Pedro Henrique Pillar Cunha, que atendeu o caso, são "várias ocorrências para uma criança de dois anos e sete meses".  Entre os atendimentos anteriores à morte, em um deles a menina deu entrada com fratura na tíbia. 

O pai, de 28 anos, afirmou que quando a menina ia para sua casa notava que ela estava sendo agredida e já tinha registrado boletins de ocorrência. O delegado afirma que o pai tinha todos os recursos para que essa criança fosse afastada do padrasto. 

Sobre a possível violência sexual, apenas exame irá confirmar. O caso foi atendido pela delegacia de plantão, mas deve ser investigado pela DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Nos siga no