Capital

Mudança na favela tem moradores divididos por cor e unidos por dúvidas

Aline dos Santos | 09/03/2016 13:07
Tereza tem as trouxas prontas e medo de ir para longe. (Foto: Fernando Antunes)
Tereza tem as trouxas prontas e medo de ir para longe. (Foto: Fernando Antunes)
Barracos foram mapeados por equipes da prefeitura. (Foto: Fernando Antunes)

Divididos por cores e unidos pela incerteza. Assim anda a vida na favela que leva o nome de Deus, mas cujo destino depende da prefeitura de Campo Grande. No terceiro dia da operação para remoção de 390 família, somente 25 já deixaram o local. Numa projeção, serão 45 dias para que todas deixem a área no bairro Dom Antônio Barbosa,que deve dar espaço a uma cortina arbórea em frente ao lixão.

Em meio a um cenário de caminhões de mudança, guardas municipais e moradores divididos nas cores rosa, azul e laranja, que tonalizam números nos barracos, Tereza de Araújo, 71 anos, procurou a equipe que organiza a retirada com uma súplica.

“Não quero ir para muito longe, moro sozinha , tomo remédio controlado”, pede. A prefeitura informa que não divulgará os demais endereços por conta do risco de invasões. O silêncio fomenta boatos, que vão desde uma área no Nova Lima até que um grupo não terá local para onde ir.

Com renda de um salário mínimo, atualmente reduzida a R$ 340 por conta de empréstimo consignado, Tereza vive num barraco sem banheiro em que o fogão fica a três passos da cama. As trouxas para mudança estão prontas, mas ela não tem ideia de quando será e nem para onde vai.

No compasso de espera, os moradores hesitam em arriscar se a mudança será boa ou ruim. Eles deixam moradia precária, iluminadas pelos perigosos “gatos” e cercada de lixo para um novo barraco, desta vez com lona doada pela prefeitura e água e energia elétrica regularizados.

“É bom e não é. É ruim que vai para outra favela. Mas o terreno vai ser nosso”, diz Luciana, que não sabe data em que deixará a Cidade de Deus. (Foto: Fernando Antunes)
Operação para retirada de famílias entrou no terceiro dia. (Foto: Fernando Antunes)

“É bom e não é. É ruim que vai para outra favela. Mas o terreno vai ser nosso”, afirma Luciana Cristina Gonçalves, 29 anos. Ela conta que há quase uma década está na lista à espera da casa própria e há três anos mora na favela com o maridos e quatro filhos.

Grávida, Deise Campos, 21 anos, relata uma vida em condições precárias. “Só Deus sabe o que passei. Já ficamos mais de uma semana sem luz”, diz.

A operação de retirada, que cumpre decisão judicial de reintegração de posse solicitada pela prefeitura, envolveu cerca de 450 pessoas na segunda-feira (dia 7), data em que foi deflagrada. Hoje, são 390 envolvidos.

De acordo com o comandante da Guarda Municipal, major Marcos Escanaichi, é a maior ação realizada pela guarda em Campo Grande. O efetivo é de 225 pessoas por dia. “É 24 horas e vamos permanecer pelo período necessário”, diz.

O centro de operações foi montado em uma tenda em que ares condicionados suavizam o calor e fardos de refrigerante e caixas com rádios de comunicação sinalizam longa estadia. Na manhã desta quarta-feira (dia 9), um morador de 31 anos foi detido. Uma motocicleta com registro de roubo foi encontrada durante o desmanche do barraco e ele tentou fugir.

De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, terão subsídio para pagar o terreno, parcelado em 300 vezes, as famílias terão direito a empréstimo no banco Canindé, da Funsat (Fundação Social do Trabalho) para adquirir material de construção.

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