Capital

Morto em confronto, “G7” já foi apontado como mediador de “tribunal do crime”

O caso aconteceu em 2018. A vítima foi “julgada” e "condenada" pelos criminosos, mas conseguiu escapar antes de ser executada

Geisy Garnes | 28/08/2020 17:42
Cleyton já foi apontado como mediador de um dos “Tribunal do Crime”, mas nunca foi preso (Foto: Redes sociais)
Cleyton já foi apontado como mediador de um dos “Tribunal do Crime”, mas nunca foi preso (Foto: Redes sociais)

Principal alvo da operação realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) nesta sexta-feira (28), Cleyton dos Santos Medeiros, de 30 anos, morto em troca de tiros com a polícia durante a ação, já foi apontado como mediador de um  “tribunal do crime” do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Campo Grande.

O caso aconteceu em 2018. A vítima foi “julgada” e "condenada" pelos criminosos, mas conseguiu escapar antes de ser executada. Cleyton, conhecido como “G7” ou “Doido”,  nunca foi preso por participação no crime.

Entenda - No dia 25 de junho daquele ano, “Mascote” foi sequestrado por integrante do PCC. Seis suspeitos tiraram a vítima de casa, no Vila Nhanhá, e a levaram para a primeira cantoneira, como a facção chama a casa usada como cativeiro, no Jardim Noroeste.

Para a polícia, a vítima afirmou que os autores do crime estavam armados com facas e revólveres e a ameaçaram para que entrasse em um carro. De rosto coberto, “Mascote” foi levado até a residência e lá torturado, ferido com golpes de faca, socos, coronhadas e pauladas.

Segundo a denúncia do Ministério Público, a vítima foi integrante da facção, mas se desligou do crime e passou a ser acusada de ser “informante da polícia”. Por isso foi sequestrada, torturada e julgada pelo grupo criminoso. 

Cleyton, conforme as investigações, foi o responsável por coordenar a videoconferência e mediar o julgamento de “Mascote” com os líderes da facção, todos internos do sistema carcerário. Ao fim do “tribunal do crime”, o ex-integrante do grupo foi condenado à morte. 

Após a ordem, um dos criminosos tentou decapitar a vítima com um golpe de facão, mas não conseguiu. Mesmo ferido, com um corte profundo na nuca, “Mascote” aproveitou o descuido dos sequestradores, pegou uma barra de ferro e atingiu o homem mais próximo. 

Com a confusão, conseguiu pular a janela, saiu correndo pela rua e acabou atropelado. O acidente chamou atenção de convidados de uma festa que acontecia na região, que saíram para socorrer a vítima. O movimento “espantou” os criminosos. “Mascote” foi socorrido, mas após receber os primeiros atendimentos, fugiu da unidade de saúde.

No dia seguinte, foi novamente encurralado e agredido pelos autores, mais uma vez, conseguiu escapar e pediu socorro na 5ª Delegacia de Polícia Civil.

Quatro envolvidos no crime foram presos em flagrante. Outros quatro, entre eles Clayton, foram identificados pela polícia e indiciados pelos crimes. Em maio deste ano, após audiências na 2ª Vara do tribunal do Júri, todos os suspeitos foram absolvidos da acusação de tentativa de homicídio e impronunciados pela associação criminosa.

Equipes do Bope durante operação desta manhã (Foto: Henrique Kawaminami)

Tráfico – Em 2013, Cleyton também foi preso por tráfico de drogas. Ele e outros três suspeitos foram encontrados com papelotes de maconha e cocaína em uma casa do Bairro Marcos Roberto. Na época, o local era apontado como ponte de distribuição de entorpecentes para todo a região. No ano passado, foi condenado a seis anos de prisão em regime aberto pelo crime. 

Além disso, ele tinha passagens por posse irregular de arma de fogo, violência doméstica e por entregar veículo a pessoa não habilitada.

A ação - “G7” estava na casa da namorada, no Bairro José Abrão, região noroeste de Campo Grande, quando foi surpreendido pelos policiais e tentou usar contra as equipes uma pistola 9 milímetros. Os militares revidaram e o balearam. O suspeito chegou a ser levado para socorro na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Almeida, mas já chegou morto, segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).

Segundo a investigação, ele exercia a função de “sintonia geral do progresso” do PCC em Mato Grosso do Sul, ou seja, era o “responsável pelo gerenciamento das atividades criminosas que geram lucro a facção", entre elas tráfico de drogas.

Conforme o Ministério Público, os “sintonias” também têm como responsabilidade fazer a comunicação entre os “gerais”, que formam a cúpula de comando, com o restante dos integrantes da facção. São eles que distribuem, por exemplo, os chamados “salves”, ordens dadas pelos “chefões”. Também são quem gerenciam as bocas de fumo, controlam a venda de drogas no varejo. 

A Operação Regresso foi às ruas e presídios de Mato Grosso do Sul nesta sexta-feira (26) para cumprir mandados de prisão contra 88 pessoas identificadas como integrantes do PCC, mas terminou a manhã só com um quarto dos mandados cumpridos, 26 no total. 

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