Capital

Morte de jovens após perseguição põe pais em alerta no Residencial Flores

Familiares pontuam que bairro é tranquilo, mas problema está na ausência na vida dos filhos e nas “más companhias” que eles encontram

Danielle Valentim e Miriam Machado | 31/03/2018 17:32
Policiais do Batalhão de Choque isolando área onde bandidos fugiram (Foto: Paulo Francis)
Policiais do Batalhão de Choque isolando área onde bandidos fugiram (Foto: Paulo Francis)

O sentimento de famílias do Jardim Flores é de preocupação após a morte de Wellington Fernandes Rodrigo César Miranda,de 15 anos, em um confronto com o Batalhão de Choque, no dia 29 de março. O bairro, localizado na região oeste de Campo Grande, costuma ser tranquilo, mas alguns pais viram o caso do garoto como um alerta para criação de seus filhos. Na ocasião, Gabriel César Viana Ribeiro, 18 anos, também morreu na troca de tiros.

O bairro é carente de praças ou parques para o lazer de crianças e as brincadeiras tem de acontecer do portão para dentro. No entanto, a autorização de sair de casa ou não só dá pra ser controlada quando os pais não passam o dia fora, trabalhando para trazer o sustento de casa.

“É difícil escolher o futuro dos filhos, mesmo que você ofereça a melhor educação”. Essa a frase de uma doméstica, de 47 anos, moradora do bairro, que teve a infelicidade de uma filha se envolver nas drogas aos 9 anos. Ela conta que trabalhava muito e admite ter se ausentado na vida dos filhos. Mas lembra que o pior problema, na época, eram as companhias. Hoje avó de sete netos, a doméstica tenta não repetir a criação do passado.

“Minha filha depois de sofrer muito e até se casar e separar, voltou a voltar comigo e hoje frequenta a igreja. Na época eu tive de aprender pilotar moto para ir atrás dela, até em delegacia. Hoje tenho sete netos e ajudo meus filhos a educarem eles, e meus filhos são bem presentes na vida deles”, explica a moradora, que se arrepende de ter se ausentado da vida dos filhos.

Já um motorista do transporte público, de 35 anos, que não terá o nome revelado em proteção ao filho de 8 anos, conta que ocupar a cabeça da criança, conhecer os amigos da escola e adiar as “saídas” para a rua, são alguns passos que tenta seguir para tentar livrar os filhos do mundo do crime.

“Ainda está de boa, o problema começa na adolescência. Meu filho faz catequese e judô, e o segredo é o ocupar da criança. Eu busco ele na escola e conheço os amigos dele, que frequentam minha casa. Meu filho só vai ter celular com 15 anos e vou tentar adiar o máximo dele sair sozinho”, disse.

Ex-morador de Coxim, o motorista lembra que no município, de poucos mais de 32 mil habitantes, esse envolvimento com o crime é raro de acontecer e que antes de vir para à Capital pesquisou um bairro ficasse longe da criminalidade.

“Por ser capital é mais fácil ir para o “caminho errado”. Como motorista já vi crianças fumando no terminal, na rua. Mas eu confiona criação que eu dou pro meu filho”, disse.

Caso - A ação envolveu helicópteros e cães farejadores na divisa dos bairros São Conrado e Tijuca, em Campo Grande. O confronto foi com policiais do Batalhão de Choque, que foram chamados para dar apoio a uma ação do 1º Batalhão de Polícia Militar, que atua na região sul da cidade. A dupla estava armada com dois revólveres sendo um calibre 32 e o outro 38. As armas foram apreendidas logo após a ação em meio a mata na divisa dos bairros.

Os bandidos furtaram uma motocicleta Falcon, no residencial Aquarius II, na última terça-feira (27). Com o veículo, a dupla cometeu diversos furtos e roubos em Campo Grande, segundo a polícia.

Os dois foram encontrados pela polícia, na quinta-feira, depois de dois assaltos de celulares no Jardim Aeroporto e um de bolsa no nova Campo Grande onde foram feitos disparos de arma de fogo, sem vítimas.

Foi então que a perseguição começou. Os bandidos fugiram pela estrada conhecida como “Cabriteira”, que termina no bairro São Conrado. Policiais do 1º BPM pediram apoio e logo militares do Batalhão de Choque e da patrulha aérea chegaram. O cerco foi fechado e os bandidos abandonaram a Falcon próxima a um córrego e fugiram em meio a mata.

O local foi isolado e enquanto o helicóptero sobrevoava a área, militares caçavam a pé os bandidos. A “cena de filme” foi acompanhada de perto por moradores da região, que não escondiam a inquietação e o medo.

Por segurança, a equipe de reportagem não foi autorizada a entrar na área isolada. Minutos depois, foi possível ouvir pelo menos 10 disparos. Em seguida, militares deixaram a mata às pressas com os dois bandidos baleados. A cena foi aplaudida pelos moradores.

Os ladrões foram socorridos ao Hospital Regional e Santa Casa. Um acabou não resistindo. O outro chegou a ser internado, mas morreu menos de uma hora depois.

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