Capital

Moradores não suportam transtornos deixados como herança por entidade

São duas quadras de ruínas totalmente encobertas por lixo e mato no Vespasiano Martins

Por Kamila Alcântara e Geniffer Valeriano | 24/04/2024 08:24
Entulhos e matagal ocupam o que anos atrás foi uma casa popular, no Vespasiano Martins (Foto: Paulo Francis)
Entulhos e matagal ocupam o que anos atrás foi uma casa popular, no Vespasiano Martins (Foto: Paulo Francis)

Tramita na Justiça a restituição milionária dos prejuízos causados pela ONG (Organização Não Governamental) Morhar aos cofres do Executivo Municipal, mas para as pessoas que convivem com as ruínas das casas populares derrubadas, a situação não pode esperar a morosidade judicial. São duas quadras repletas de entulhos, entre as ruas Renato Gomes Nasser e Flórida Bntez de Augênio, no bairro Vespasiano Martins, que não têm qualquer previsão de solução.

O problema começou em 2016, quando a Morhar recebeu R$ 2,7 milhões para construir casas populares destinadas a assentamento de moradores de favelas na região sul de Campo Grande, mas entregou apenas 42, ainda assim, com defeitos. Essas casas foram condenadas e derrubadas anos depois, os beneficiários realocados para o que hoje é o Recanto dos Sabiás. Com isso, os vizinhos do Vespasiano agora convivem com animais peçonhentos, usuários de drogas e focos de mosquito da dengue.

Morando bem em frente aos lotes, a aposentada Anaia da Silva Lima, 63 anos, diz que todo tipo de animal sai do matagal e, nas duas únicas casas que restaram, os dependentes químicos encontraram abrigo, onde até a Polícia Militar "visita" à procura de foragidos. 

"A coisa tá feia! É uma vergonha, esqueceram de nós. É um risco muito grande, pois fica perto da creche e um desses malandros podem pular lá. Antes de derrubarem, era tranquilo. Agora, é um lugar escuro, com acúmulo de lixo e água, mas quando procuramos o poder público dizem que está limpo", diz a moradora. 

A Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) do bairro está ao lado dos terrenos. Durante a visita do Campo Grande News, até uma vaca foi flagrada pastando o mato que cresce por lá. 

Vacas pastam em meio às ruínas das casas populares derrubadas no Vespasiano Martins (Foto: Paulo Francis)

Para diminuir o problema, o esposo da dona de casa Priscila Lima, 30, chega a gastar R$ 900 na contratação de alguém para deixar o local limpo, mas dura pouco tempo. Ela disse que procurou ajuda na Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), mas que a resposta não foi positiva.

"Fui até a prefeitura e um representante da Habitação disse que não iam limpar por medo de uma invasão ou ocupação. Agora, eles não vêm limpar e temos que ficar na sujeira deles. Meu filho de 3 anos é autista, não se comunica, tenho medo de ele ter dengue ou ser picado e não conseguirmos saber o que aconteceu", relata Priscila. 

A última tentativa de serem atendidos aconteceu em março, quando entregaram o pedido de limpeza à Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), mas ainda não foi atendido. 

Na tarde desta terça-feira (23), a reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para informações sobre o processo judicial contra a ONG Morhar e o destino dos terrenos, mas até o fechamento desta reportagem não houve retorno. 

Imagens de satélites do Google mostram o tamanho das quadras e o que restou das casas (Foto: reprodução Google Maps)

Justiça - Em abril de 2021, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e o Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) do MPMS cumpriram seis mandados de busca e apreensão na Capital, na Operação Moradias, que investigava irregularidades em construções de casas populares destinadas a moradores de antigo lixão, a Cidade de Deus. 

Já no ano seguinte, 2022, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul pede ressarcimento aos cofres públicos de R$ 1.927.944,79, mas agora dos entes públicos que facilitaram a fraude, entre eles o ex-prefeito Alcides Bernal (PP).

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