Mesmo sem obrigação, crianças ensinam benefícios em usar máscara na escola
Fiocruz indica que há aumento de infecções virais, além da covid, nas faixas etárias mais jovens, no Estado
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Maria Eduarda, de nove anos, chega na escola todos os dias, por volta das 7h, acompanhada do irmão, de oito anos. Neste momento, todos estão de máscara. O dia passa, ela encontra outras crianças, faz atividades, se alimenta e brinca durante o intervalo. Em quase todas as situações, ela permanece com o acessório no rosto.
A mãe, Bruna Brum, de 26 anos, matriculou Maria na Escola Municipal Ana Lúcia de Oliveira Batista, no Bairro Paulo Coelho Machado, e admite que a filha é, por vezes, mais “disciplinada” que ela própria, quando o assunto é manter este cuidado. “Ela se sente mais segura com a máscara, ela é a mais disciplinada da família. Mas eu também uso, não frequento locais aglomerados sem a máscara.”
A garota tem asma e logo quando a pandemia começou, em março de 2020, chegou a fazer alguns tratamentos intensivos para auxiliar na respiração.
Ainda que o uso de máscaras tenha deixado de ser obrigatório em escolas de Campo Grande, algumas crianças ainda têm preocupação de usá-las no ambiente escolar, como forma de reduzir a transmissão de vírus respiratórios.
De acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) nesta quarta-feira (6), a incidência nos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) - conjunto de sintomas provocados por vírus como influenza, coronavírus e outros -, em crianças e adolescentes mantém ascensão significativa em diversos estados desde fevereiro, inclusive em Mato Grosso do Sul.
Vale lembrar que as aulas tiveram início, tanto na rede estadual quanto municipal, em 3 de março deste ano. Antes disso, as unidades particulares já vinham retornando ano letivo presencial.
No entanto, a Fiocruz aponta que, na população em geral, há menor percentual de casos de SRAG por covid-19 desde o início da pandemia.
O pesquisador da Fundação e professor de Medicina na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Everton Lemos, explica que a máscara é um tipo de barreira física que reduz o risco de passar ou pegar doenças transmissíveis por vias aéreas. “A máscara auxilia para doenças que são transmitidas por gotículas de saliva, assim como a influenza e covid-19.”
A Maria Eduarda tem asma e em alguns momentos, ela chegou a fazer uns tratamentos mais intensivo, porque tinha algumas crises, e coincidiu com o período da pandemia. Então, acabou virando um hábito”, explica Bruna, em relação à filha.
Segundo ela, mesmo que outros colegas fiquem sem, ela entende a preocupação da própria filha e a incentiva para continuar se cuidando. “Não a forcei a nada, mesmo sabendo que agora é só uma orientação da escola”, detalha.
De acordo com Lemos, a flexibilização que autoridades de saúde têm feito podem trazer alguns riscos à saúde e, portanto, torna-se necessário que a população ainda mantenha o uso, como forma de redução de danos, bem como evite frequentar espaços com aglomerações.
“Estamos no período de sazonalidade de influenza, a gripe. Começa mais ou menos no período entre abril e vai até maio, junho, quando aumenta a taxa de infecção por influenza. Então, essa é uma medida de biossegurança já conhecida, que se tornou presente no nosso País, e deve ser utilizada em situações que apresentem riscos de transmissão.”
O autônomo João Gabriel Cornélio, de 27 anos, leva diariamente o irmão Miguel, de oito anos, até o colégio. Segundo ele, moram em uma casa com cinco pessoas, incluindo idosos, e, por isso, sempre mantiveram cuidados de prevenção.
"Acredito que exista outras síndromes e isso está comprovado, existe embasamento. Sei que deu aumento nessas síndromes e a máscara dá uma segurança para nós”, diz João.
Ele ressalta que a preocupação não é apenas a covid-19, já que toda a família está em dia com a vacinação - os que já puderam, receberam até quarta dose -, mas sim com diferentes doenças transmitidas desta forma. Ainda assim, ele reconhece que a pandemia de coronavírus também apresenta riscos à saúde.
Tem um risco pequeno, mas tem. Muitas pessoas se negam a tomar a vacina e não se imunizaram, e é uma medida de saúde que proporciona uma defesa geral.”
Ainda de acordo com a publicação da Fiocruz, os dados laboratoriais apontam para a influência de casos associados ao VSR (vírus sincicial respiratório), em crianças de até quatro anos. Já no grupo de cinco a 11 anos, os números sugerem interrupção de queda nos casos associados à covid e aumento de casos associados a outras viroses.