Capital

Médicos protestam contra fechamento da ala psiquiátrica da Santa Casa

O maior hospital do Estado deve transferir os dez leitos que ainda estão em funcionamento para o Nosso Lar

Viviane Oliveira | 06/09/2017 09:38
Fachada da Santa Casa, maior hospital do Estado (Foto: arquivo/Marcos Ermínio)
Fachada da Santa Casa, maior hospital do Estado (Foto: arquivo/Marcos Ermínio)

Após a diretoria da Santa Casa anunciar que vai fechar o setor de psiquiatria, médicos se mobilizaram nas redes sociais contra o fim do serviço. Ainda na primeira quinzena de setembro, o maior hospital do Estado deve transferir os dez leitos que ainda estão em funcionamento para o Nosso Lar. Além de prejudicar milhares de pacientes, o fechamento do setor vai atrapalhar a formação de novos psiquiatras, afirmam especialistas do ramo.

Os profissionais da área devem ser reunir nesta manhã (6), na Assembleia Legislativa, para protestar contra o fechamento. Segundo o diretor-presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Esacheu Nascimento, a decisão de acabar com ala de psiquiatria foi uma forma de otimizar recursos.

Em depoimento, o psiquiatra Adriano Bernardi do Prado, formado pela residência de psiquiatria da Santa Casa, fala sobre os tempos que fazia plantão na unidade de saúde e afirma que mesmo diante das dificuldades, o hospital sempre cumpriu seu papel em atender ao paciente psiquiátrico com dignidade.

“O serviço era duro. Mesmo com todas as dificuldades decorrentes de um sistema de saúde público falido e mal planejado, desvalorização dos profissionais, falta de recursos e histeria ideológica, a Santa Casa sempre cumpriu seu papel: atender ao paciente psiquiátrico com dignidade", lamenta. 

O médico relembra da falta de material (até mesmo para impressão de receitas), ala lotada e pacientes graves, que muitas vezes iriam utilizar a última vaga disponível.

Esacheu Nascimento em entrevista ao Campo Grande News na manhã de ontem (Foto: Richelieu de Carlo)

Muitas vezes, segundo relato do psiquiatra, os funcionários recebiam “voz de prisão” e ameaças de processo por parte de policiais e bombeiros revoltados com a falta de leito, mas que na raça os profissionais de saúde tentavam fazer a diferença e atender a todos que precisavam.

“Plantões horríveis nos quais tínhamos que decidir em questão de minutos qual, dentre vários pacientes graves, iria utilizar a última vaga disponível. No mesmo plantão, poderíamos nos deparar com pacientes psicóticos, agressivos, alcoolizados, confusos e abandonados no Pronto socorro após serem recolhidos das ruas ou vindos do interior com a ''promessa de internação'' em vagas que nem existiam. No entanto, o que era precário pode se tornar inexistente”, desabafa.

Compartilha da mesma opinião, o psiquiatra Jony Afonso Gonçalves. Segundo ele, milhares de pacientes ficarão sem assistência. “Além de prestar serviço à comunidade, a Santa Casa também sempre foi uma escola. Me formei psiquiatra, assim como tantos outros colegas, neste serviço. A psiquiatria da Santa Casa, forma médicos desde os anos 90. É uma escola que tem história na psiquiatria brasileira. Ainda temos uma falta de psiquiatras no país todo”, reforça.

Protesto - A informação de que a Santa Casa cogitava fechar o setor de psiquiatria começou a circular nesta segunda-feira (5). O boato gerou protestos de funcionários e médicos do setor, além de outros profissionais da área. As manifestações circularam em grupos de WhatsApp e foram feitas pelas redes sociais.

Hoje, além da Santa Casa, o município tem convênio com o Hospital Nosso Lar (30 leitos) e Hospital Regional (12 leitos) para tratamento psiquiátrico.

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