Capital

Máscara e almoço de morador de rua viram confusão em restaurante

“Perguntei por que ele não poderia comer lá?”, conta o vendedor que tentou pagar almoço

Aline dos Santos | 20/06/2020 16:36
Barrados em dois restaurantes, artesão que mora na rua conseguiu almoçar em churrascaria.
Barrados em dois restaurantes, artesão que mora na rua conseguiu almoçar em churrascaria.

Obrigatório, o uso de máscara foi pivô de confusão na hora do almoço ontem (dia 19) no Centro de Campo Grande, mas o episódio também teve pano de fundo: a pessoa barrada é morador de rua. 

O vendedor Jair Soares da Silva Júnior, 23 anos, conta que saiu do trabalho para almoçar e um morador de rua, que trabalha com artesanato usando arames, pediu dez centavos para inteirar dinheiro para comprar comida. Ele conta que decidiu pagar um prato feito para que o homem pudesse escolher o que queria comer. Primeiro foi a um restaurante na Rua Dom Aquino, mas o morador de rua foi barrado. 

Eles foram então para restaurante na Avenida Calógeras, onde a confusão foi gravada por Jair e o vídeo repercutiu  nas redes sociais. Segundo o vendedor, o morador de rua foi olhado de cima abaixo pelo comerciante, que disse para Jair comprar uma marmita. “Perguntei por que ele não poderia comer lá?”, conta o vendedor. A reposta foi a falta de máscara, mas Jair respondeu que a pessoa estava com o item de proteção. 

As imagens gravadas mostram o rapaz puxando a máscara, que estava um pouco abaixo do nariz, e ânimos exaltados. O dono do restaurante discutia sem máscara. 

No vídeo, o proprietário nega preconceito. O vendedor pergunta para um homem se o morador de rua pôde entrar e a pessoa responde que não. “Voltei para a loja chorando de raiva”, conta Jair. 

A polícia militar foi acionada, mas não houve registro de Boletim de Ocorrência. A doação do almoço só foi concretizada em uma churrascaria, também no Centro. Onde o morador de rua pôde se sentar e fazer a refeição, que custou R$ 15 ao vendedor. 



Por meio de nota, o restaurante, local em que a confusão foi gravada, nega que tenha ocorrido preconceito e informa que, apesar de não ser sua obrigação, doa diariamente marmitex no fim do expediente para pessoas em situação de rua. 

“Um suposto cliente consultou o valor de um marmitex e ao ser informado, efetuou o pagamento, chamando uma pessoa em situação de rua para entrar no restaurante. Porém, devido à pandemia e à obrigatoriedade do uso da máscara, informamos que a entrada só era permitida com máscara, mas que daríamos o marmitex ao rapaz”, diz a nota. 

Segundo o posicionamento encaminhado à reportagem, começou uma confusão com agressões verbais que quase chegaram às vias de fatos, com gravação de vídeo. “Cujo objetivo parecia ser o de expor de maneira negativa nossa empresa para ganhar likes nas redes sociais, nos acusando de preconceito, entre outras ofensas. Temos vídeos do nosso monitoramento interno que mostram a situação real, do começo ao fim”.

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