Máscara e almoço de morador de rua viram confusão em restaurante
“Perguntei por que ele não poderia comer lá?”, conta o vendedor que tentou pagar almoço
Obrigatório, o uso de máscara foi pivô de confusão na hora do almoço ontem (dia 19) no Centro de Campo Grande, mas o episódio também teve pano de fundo: a pessoa barrada é morador de rua.
O vendedor Jair Soares da Silva Júnior, 23 anos, conta que saiu do trabalho para almoçar e um morador de rua, que trabalha com artesanato usando arames, pediu dez centavos para inteirar dinheiro para comprar comida. Ele conta que decidiu pagar um prato feito para que o homem pudesse escolher o que queria comer. Primeiro foi a um restaurante na Rua Dom Aquino, mas o morador de rua foi barrado.
Eles foram então para restaurante na Avenida Calógeras, onde a confusão foi gravada por Jair e o vídeo repercutiu nas redes sociais. Segundo o vendedor, o morador de rua foi olhado de cima abaixo pelo comerciante, que disse para Jair comprar uma marmita. “Perguntei por que ele não poderia comer lá?”, conta o vendedor. A reposta foi a falta de máscara, mas Jair respondeu que a pessoa estava com o item de proteção.
As imagens gravadas mostram o rapaz puxando a máscara, que estava um pouco abaixo do nariz, e ânimos exaltados. O dono do restaurante discutia sem máscara.
No vídeo, o proprietário nega preconceito. O vendedor pergunta para um homem se o morador de rua pôde entrar e a pessoa responde que não. “Voltei para a loja chorando de raiva”, conta Jair.
A polícia militar foi acionada, mas não houve registro de Boletim de Ocorrência. A doação do almoço só foi concretizada em uma churrascaria, também no Centro. Onde o morador de rua pôde se sentar e fazer a refeição, que custou R$ 15 ao vendedor.
Por meio de nota, o restaurante, local em que a confusão foi gravada, nega que tenha ocorrido preconceito e informa que, apesar de não ser sua obrigação, doa diariamente marmitex no fim do expediente para pessoas em situação de rua.
“Um suposto cliente consultou o valor de um marmitex e ao ser informado, efetuou o pagamento, chamando uma pessoa em situação de rua para entrar no restaurante. Porém, devido à pandemia e à obrigatoriedade do uso da máscara, informamos que a entrada só era permitida com máscara, mas que daríamos o marmitex ao rapaz”, diz a nota.
Segundo o posicionamento encaminhado à reportagem, começou uma confusão com agressões verbais que quase chegaram às vias de fatos, com gravação de vídeo. “Cujo objetivo parecia ser o de expor de maneira negativa nossa empresa para ganhar likes nas redes sociais, nos acusando de preconceito, entre outras ofensas. Temos vídeos do nosso monitoramento interno que mostram a situação real, do começo ao fim”.