Capital

Mantida em cárcere por 22 anos, Cira morre de câncer após 16 meses livre

Aline dos Santos e Filipe Prado | 14/04/2015 07:40
Cira passou mais de duas décadas mantida em cárcere privado pelo marido. (Foto: Arquivo)
Cira passou mais de duas décadas mantida em cárcere privado pelo marido. (Foto: Arquivo)
Velório acontece na manhã de hoje na funerária Campo Grande. (Foto: Marcelo Calazans)

Vítima de cárcere por 22 anos, Cira da Silva, 46 anos, morreu de câncer ontem na Capital. Ladeada por três coroas de flores e por familiares, ela é velada na funerária Campo Grande, na rua 13 de Maio, na manhã desta terça-feira. Muito abatido, um irmão conta que a doença começou na perna e se alastrou pelo corpo. A família não quis dar entrevista.

O drama da mulher e dos quatros filhos veio à tona em dezembro de 2013, quando o pedreiro Ângelo da Guarda Borges foi preso acusado de manter toda a família em cárcere privado no bairro Aero Rancho.

A família, que vivia em situação desumana, não tinha água encanada, fazia as necessidades fisiológicas em um buraco no chão e tomava banho no quintal.

Segundo relatos, ele espancava a família todos os dias e dava apenas arroz para as crianças comerem, apesar de renda de R$ 4 mil. Dos quatro meninos, dois estudavam. O mais velho e o mais novo não saiam de casa. Fora dos muros altos da casa, as crianças se mostraram admiradas com coisas triviais, como pirulito, bala e biscoito recheado.

Resgatada, a família foi levada para um abrigo e depois foi para a casa do pai de Cira, no bairro São Francisco. Após um ano e quatro meses de liberdade, ela foi vitimada pela doença. Cira será sepultada no cemitério Santo Amaro.

Em janeiro de 2015, a Justiça concedeu livramento condicional para Ângelo da Guarda Borges. As condições são ter ocupação lícita, comparecer bimestralmente ao patronato penitenciário, não se ausentar da comarca, recolher-se à sua residência até 21h30, não se apresentar embriagado em local público e não praticar crime doloso.

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