Capital

Com inserção de detentos no mercado de trabalho Gameleira tem evasão controlada em 20%

Paula Maciulevicius | 18/08/2011 13:10

Centro Penal rebate irregularidades apontadas pela OAB durante vistoria

Com a liberdade chegando, preso quer e pede para ficar mais na Gameleira. (Foto: Simão Nogueira)
Com a liberdade chegando, preso quer e pede para ficar mais na Gameleira. (Foto: Simão Nogueira)
Presídio lida com problemas de número insuficiente de agentes, seis a cada 24h. (Foto: Simão Nogueira)

Vontade de ficar no presídio mesmo depois de ter cumprido quase toda a pena de 19 anos. Parece coisa fora de cogitação, mas é a realidade do “seo” José Soares, de 60 anos, dentro do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, na Capital. O motivo pessoal do detento é o trabalho na horta e lavoura do presídio. “Eu preciso disso aqui”, conta.

Já na visão de quem trabalha na Gameleira, a resposta pode vir da inserção dos detentos do semiaberto no mercado de trabalho. Do total de 519 presos, 494 trabalham fora e 25 deles no próprio Centro Penal, na cozinha, horta ou lavoura.

“É isso que é ressocialização”, avalia o agente penitenciário Valdecir da Silva Barros, de 45 anos.

E em cima dessa tarefa, de pôr os presidiários no mercado ativo, é que a taxa de evasão continua em baixa desde 2008. Segundo o diretor da unidade Edis Vilas Boas, 52 anos, o percentual é de 20%. “Isso pelo intenso ritmo de trabalho dentro da Gameleira, não tem ociosidade”, explica.

Hortaliças viram trabalho e reduzem pena nas mãos dos detentos. (Foto: Simão Nogueira)

Sem registro de rebeliões desde a inauguração, há pouco mais de um ano, a figura do “seo” José parece exemplificar que o trabalho deu certo. Ele deve sair em outubro, mas pediu para ficar até dezembro e continua a explicação. “Se precisa de semente aqui tem, material para a horta, tem. Se sobra terra a gente planta. Aprendi a aproveitar a área”, diz.

A Gameleira tem os problemas da maioria dos presídios, lida com a falta de pessoal. São seis agentes por plantão de 24h. Mas por outro lado, o diretor acredita que a qualidade dos funcionários vale mais do que a quantidade. “Eles são de primeira, são bem poucos, mas não adianta ter volume e pouca produtividade”, ressalta.

Por conta disso a diretoria foi até a Justiça pedir para que a capacidade de abrigar mil presos, como determina o projeto, fosse reduzida para 600 vagas, o que foi atendido.

A rotina dos presos que trabalham fora obedece ao cronograma de saída a partir das 4h da manhã e chegada até meia-noite. Dentro do horário, a liberação de duas horas para o trajeto. “Se precisar entrar 8h da manhã, ele tem duas horas para chegar. E a volta é até meia-noite porque muitos estudam”, fala Valdecir.

O campo de trabalho está dentro das 120 empresas conveniadas, entre iniciativas públicas e privadas, que diminuem a cada três dias trabalhados um dia de pena.

Para os que trabalham dentro do presídio, serviço é o que não falta. Além da cozinha, duas hortas e uma lavoura que somam mais de 60 hectares de área plantada com arroz, hortaliças, maracujá, melancia e pés de eucalipto.

Vistorias - Na última terça-feira, a Comissão de Advogados Criminalistas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), vistoriou o presídio da Gameleira e apontou pelo menos uma irregularidade no local, quanto a privacidade da sala de conversa entre advogados e detentos.

A OAB divulgou em seu site que o presidente da Comissão, Luiz Carlos Saldanha Rodrigues, afirmou que o local é “inadequado”, e não oferece privacidade entre os clientes.

Agente questiona o que de irregular saltou aos olhos da comissão da OAB. (Foto: Simão Nogueira)

Sobre a vistoria da Comissão, a diretoria da Gameleira rebate. De acordo com o agente Valdecir, a OAB alegou uma série de irregularidades e divulgou a afirmação do presidente da Comissão que não compareceu ao local. “Achei estranho de falar e não ter vindo aqui, não é que a gente está acobertando até queremos mostrar para ter melhorias”, completa Valdecir.

A direção do Centro Penal mostrou a sala apresentada como “inadequada” ao Campo Grande News. Três cabines que separam por um vidro os advogados dos presos. “Aqui é um semiaberto, não adianta uma estrutura de Máxima, é isso que eles querem? Uma sala só para eles? Eles tem privacidade aqui, é só porque tem uma janela?” questiona Valdecir.

No momento em que o Campo Grande News esteve lá, um advogado falava através da sala, com o cliente preso. Sebastião de Souza, de 69 anos, não confirma que a sala não dê a privacidade suficiente para uma conversa.

“Tive liberdade total, não tenho nenhuma queixa do ambiente. É o que a gente precisa para uma conversa”, explica.

A comissão da OAB pretende ainda visitar todos os presídios do Estado para verificar, segundo Luiz Carlos Saldanha Rodrigues, um acordo firmado em 2009 prevendo a melhoria das instalações.

Conforme a OAB divulgou, um relatório com as falhas encontradas na Gameleira será apresentado ainda este mês e divulgado no site.

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