Capital

Imprudência médica ameaça vida de bebê que ingeriu “diabo verde”

Lidiane Kober | 19/09/2013 18:37
Glaucia não tira os olhos da filha para impedí-la de retirar sonda que a alimenta (Foto: Lidiane Kober)
Glaucia não tira os olhos da filha para impedí-la de retirar sonda que a alimenta (Foto: Lidiane Kober)

Há 12 dias, a família da pequena Mirella Carvalho de Oliveira, dois anos, vive em clima de angústia e incerteza. Após ingerir produto de limpeza pesada, popularmente conhecido como “diabo verde”, a bebê foi dispensada do Hospital São Lucas por um clínico geral e por uma pediatra. Em casa, começou o drama dos pais ao ver a menina arder em febre e recusar comida. Agora, ela se alimenta por sonda e luta para vencer infecção no sangue e no esôfago para, depois, fazer exame e conferir o estado dos órgãos internos.

Segundo a mãe, a cozinheira Glaucia Carvalho Serafim, 18 anos, tudo começou num domingo (8), pouco antes do almoço. “Fui até a dispensa para pegar o macarrão e ela me acompanhou, tocou o telefone e sai para atender. Pouco depois, ouvi os gritos e fui correndo até lá, quando a vi com a boca sangrando e espumando”, relatou.

Sozinha na chácara onde trabalha, Glaucia correu até a pia para lavar a boca da bebê, que não parava de sangrar. Ela chegou a procurar a ajuda de vizinhos até sua patroa chegar e levá-la até o Hospital São Lucas. “Como não tinha cartão do SUS (Sistema Único de Saúde), minha patroa achou melhor procurar um hospital particular para a gente não perder tempo”, explicou.

Já na instituição de saúde, enfermeiros minimizaram o problema. “Não está acontecendo nada”, diziam para a mãe. “Pouco depois, um clínico geral a analisou, colocou um palito na boca dela e, sem fazer nenhum exame, disse que a ela não ingeriu o produto e que estava bem”, contou.

Na sequência, a criança passou por avaliação de uma pediatra. “Ela olhou a boca da neném, escutou a barriga dela, receitou um antibiótico e um remédio para dor e mandou a gente voltar em uma semana”, relatou a mãe. “Disse que minha filha poderia comer normalmente, só sugeriu preferência por alimentos gelados”, emendou.

Em casa, depois de a família desembolsar R$ 200 pela consulta e mais R$ 50 por curativo e soro, a criança enfrentou dias de febre de 39 graus e só aceitava beber leite. “No hospital, os médicos falaram que estava tudo bem e mandaram voltar em uma semana, mas, na sexta-feira (13), fomos até a Upa (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino, onde chegaram a debochar da gente”, disse Glaucia.

Segundo ela, a família foi em busca de encaminhamento para um médico endocrinologista. “Falei que ela ingeriu diabo verde e um enfermeiro mandou esquecer o diabo verde, diabo loiro, diabo azul”, relatou. O produto de limpeza, ingerido pele criança, é à base de amoníaco e soda cáustica, serve para remover sujeiras, gorduras, graxas e desentupir ralos e pias.

Desesperada, a mãe procurou o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB) que a encaminhou até a médica endocrinologista Eduarda Tebet. Depois, a criança foi internada no Hospital Regional e, agora, enfrenta novo desafio. “A Mirella só pode se alimentar por sonda, como sente muita dor já a arrancou duas vezes, ficou três dias sem se alimentar e perdeu dois quilos”, lamentou a mãe.

Novo desafio - De acordo com ela, os médicos avisaram que o canal do nariz até o estômago não aguenta um terceiro procedimento. “Neste caso, a Mirella precisará enfrentar uma nimicirurgia para colocar a sonda no coração, mas, como está muito fraca, pode ser que não resista”, frisou Glaucia. “Não durmo mais para cuidar que ela não tire a sonda”, emendou.

Se conseguir enfrentar o desafio de uma semana, tempo necessário para curar infecção no sangue e recuperar o esôfago, a criança precisará passar por endoscopia para saber o estado dos órgãos internos. “Só assim vamos saber o real estado do intestino, do estômago”, comentou a mãe.

Revoltada com a dor da filha, ela não se conforma com o primeiro atendimento na rede particular. “Saber que minha bebê corre risco por causa da imprudência médica é uma dor sem tamanho”, comentou. Segundo Glaucia, os atuais médicos classificaram como um erro terrível permitir a alimentação da criança. “Se ela tivesse se alimentado por sonda desde o início, não teria infecção no sangue”, afirmou.

Outro caso - Na madrugada de segunda-feira (16), depois de ser rejeitado por dois hospitais, por falta de pediatras, um bebê de 13 dias morreu sem receber atendimento médico. A família da criança buscou ajuda na maternidade Candido Mariano e no hospital El Kadri.

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