Capital

Homem “ganha” rim da esposa, perde órgão em 48h e denuncia Santa Casa

Aline dos Santos | 24/12/2013 10:03
Santa Casa suspendeu transplante de rins após sete mortes.(Foto: Cleber Gellio)
Santa Casa suspendeu transplante de rins após sete mortes.(Foto: Cleber Gellio)

O transplante de rim foi um sonho de 48 horas na vida do dentista Adolfo Alderete, de 44 anos. “Mataram o rim da minha esposa”, acusa o paciente, que fez a cirurgia na Santa Casa de Campo Grande. Na semana passada, após três mortes de transplantados de rim em 15 dias, o hospital anunciou a suspensão dos procedimentos.

Primeiro, um golpe de sorte. A esposa Léa Daniela Alderete, de 35 anos, era compatível, conforme atestado em exames de sangue e compatibilidade. No dia 29 de outubro, ele passou por procedimento para receber o órgão.

Dois dias depois, em 31 de outubro, voltou para o centro cirúrgico, desta vez para a retirada do rim. Foi o fim do sonho e retorno ao drama que vive há dois anos, quando descobriu ter rim policístico, doença genética que faz surgir cistos, comprometendo o funcionamento dos órgãos.

Para o paciente, dois erros levaram a essa situação. “Era preciso duas equipes. Uma para retirar o órgão e outra para o transplante. Mas foi uma equipe só para fazer tudo isso. Depois, nem olharam o exame da minha mulher”, denuncia.

Segundo Adolfo, no exame de ressonância magnética o médico alertou que o rim da doadora era irrigado por duas artérias. Ele explica que, em geral, é por somente uma. Preocupada, além do exame, a esposa do paciente reforçou o alerta para o cirurgião. “Eles disse para minha mulher: ‘mais essa ainda’”, relata Adolfo.

O paciente conta que ficou no centro cirúrgico das 6h30 às 15h. “Um transplante dura, no máximo, três horas. Foi falta de planejamento deles”, diz. Depois de receber o rim, o dentista ficou cinco dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

No entanto, os exames mostraram que o rim não recebeu irrigação sanguínea e teria que ser retirado. No laudo, consta que houve rejeição imediata. O diagnóstico é rebatido pelo paciente. “Para ter rejeição, o sangue precisaria ter entrado em contato, o que não aconteceu”.

Adolfo procurou a Associação das Vítima de Erros Médicos e vai entrar com ação judicial para cobrar indenização por danos morais e materiais. O processo será contra a Santa Casa de Campo Grade, a médica responsável pelo procedimento e o cirurgião. Sem o rim doado, os planos de viagem ficaram no papel. Ele passa quatro horas preso à maquina de hemodiálise, que filtra o sangue. 

Adolfo recebeu rim e ficou com órgão por apenas 48 horas. (Foto: Arquivo Pessoal)

A rotina de sobrevivência é cumprida três vezes por semana. Funcionário público da Prefeitura de Campo Grande,teve que se afastar do trabalho.

Sem explicação - Em 2013, foram feitos 45 transplantes de rim na Santa Casa e sete resultaram em morte. Conforme o hospital, em três procedimentos não foi constatado a causa. Na última sexta-feira, o diretor-clínico Luiz Alberto Kanamura declarou que há suspeitas, mas não iria divulgar por não ter como provar.

Com a investigação do Ministério da Saúde, a previsão é retomar os transplante de rins em 90 dias. Os transplantes de coração também foram suspensos e não há prazo para retorno. O telefone para contato com a Associação das Vítimas de Erros Médicos é o (67) 3362-1375.

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