Capital

Há 16 anos, água suja forma riacho em rua e faz moradores abandonarem bairro

Em 2019, MP apurou que tubulação inacabada despeja sujeira de beneficiamento de mandioca do presídio

Caroline Maldonado | 06/08/2022 15:09
Moradora da Rua Indianápolis, dona de casa Suelen Lopes Corrêa, de 33 anos, mostra água suja represada em buraco aberto com escavadeira (Foto: Kísie Ainoã)
Moradora da Rua Indianápolis, dona de casa Suelen Lopes Corrêa, de 33 anos, mostra água suja represada em buraco aberto com escavadeira (Foto: Kísie Ainoã)

Com buracos e pedregulho, a Rua Indianápolis é intransitável a partir do cruzamento com a Rua Das Dálias, no Jardim Noroeste, mas esse não é o único problema que prejudica os moradores. Há 16 anos, água suja que surge de uma tubulação inacabada, desce a rua, formando um riacho até desembocar em um buraco feito com uma máquina escavadeira, recentemente. 

No fim da via, a proprietária mudou o portão de lugar, porque há dias em que a água desce suja com cheiro insuportável. Outros já deixaram o bairro por causa do problema. 

Moradores acreditam que se trata de esgoto vindo do Presídio de Segurança Máxima, que fica no início da rua, mas a água surge em um ponto mais abaixo do presídio, de onde desce a rua, aparentemente limpa e sem cheiro hoje (6), conforme constatado pela reportagem. 

Na calçada do presídio, tomada por mato, apenas um rastro úmido é encontrado hoje, mas os moradores asseguram que ali também jorra esgoto quase sempre. 

O mistério para moradores que chegaram há poucos anos é problema desde 2006, segundo uma proprietária que fez denúncia ao MP-MS (Ministério Público Estadual).  A água, hora sem cheiro, hora fedorenta, pode ser da atividade de beneficiamento de mandioca, realizada pelos internos do presídio. É o que foi constatado pelo MP em 2019. 

Transtornos - A maioria dos imóveis são terrenos sem construção. A dona de casa Suelen Lopes Corrêa, de 33 anos, comprou lote no local há dois anos e construiu muro e portão na Rua Indianápolis, mas teve que mudar a entrada por causa do mau cheiro. Agora, o portão fica na Rua Água Funda. 

“Tem dias que isso fede, é podre. Meu esposo é mestre de obras e já foi lá onde surgiu o esgoto verificar. Ele acha que isso vem do presídio por tubulação e escorre pela rua a partir dali. Às vezes, trazem máquinas aqui para patrolar e fizeram um buraco para represar o esgoto. Já chamamos a concessionária e prefeitura, mas só mandaram essa escavadeira fazer o buraco, que não sabemos quem fez isso”, reclama Suelen. 

Moradora da Rua Indianápolis, dona de casa Suelen Lopes Corrêa, de 33 anos, mostra a situação da via alagada (Foto: Kísie Ainoã)

Morador da  Rua Água Funda, há 3 anos, o ajudante de encanador João Aparecido, de 51 anos, relata que, de fato, há dias em que o mau cheiro é insuportável e já fez até vizinhos se mudarem do local. 

“Acredito que esse esgoto vem do presídio e nos finais de semana, quando tem visita aos presos, é pior. Antes era um rio no meio da rua. É um transtorno diariamente. Teve época que escorria e chegava lá em frente a minha casa. Aí vieram com escavadeira há uns dois meses e fizeram esse buracão para represar, que tem cerca de 80 centímetros”, lembra João.

Morador da Rua Água Funda, ajudante de encanador João Aparecido, de 51 anos. (Foto: Kísie Ainoã)

Em 2019, o Campo Grande News procurou o Estabelecimento Penal de Segurança Máxima Jair Ferreira de Carvalho e a concessionária de água e esgoto Águas Guariroba. 

Na época, a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário informou que o presídio é ligado ao sistema de esgoto e, depois de apurar, constatou que a água não partia do presídio, mas da estação de esgoto que fica no bairro, de responsabilidade da Águas Guariroba. 

Questionada, a assessoria da Águas Guariroba informou que enviaria uma equipe ao local para verificar a situação.

Água suja sai de tubulação na Rua Indianápolis, esquina com Rua Das Dálias. (Foto: Kísie Ainoã)

Investigação - No mesmo ano, o MP-MS instaurou procedimento administrativo e descobriu que as ruas Dallas, Estoril, Piraputanga e Indianápolis estavam sendo contaminadas com água que vinha da atividade de beneficiamento de mandioca, realizada pelos internos do presídio.

Uma produtora rural, proprietária de 20 lotes nas ruas afetadas, pediu a investigação e relatou que tentava resolver o problema desde 2006, ou seja, a situação já se arrasta por 16 anos.

Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) chegou a multar Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) porque a licença ambiental do presídio para a atividade de lavagem, descasque e corte de mandioca havia vencido em 2015 e não tinha sido renovada. 

O relatório da Semadur apontou que a tubulação da rede de drenagem era inacabada e tinha saída na esquina da Rua Indianápolis com a Rua Das Dálias, mesmo local onde hoje jorra a água, mas não informou previsão de obras de conclusão da rede de drenagem. 

Na época, a concessionária Águas Guariroba informou, por meio da assessoria de imprensa, que as obras da rede coletora de esgoto seriam realizadas "seguindo o cronograma do município, na execução de obras de pavimentação com recursos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]".

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