Capital

Fora da praça Ary Coelho, vendedores ambulantes reclamam de prejuízo

Aline dos Santos | 05/09/2011 13:20

“Aqui está péssimo”, diz pipoqueiro que foi para a 15 de Novembro

Cabisbaixo, pipoqueiro reclama de queda nas vendas. (Foto: João Garrigó)
Cabisbaixo, pipoqueiro reclama de queda nas vendas. (Foto: João Garrigó)

Os 500 metros de tapume metálico são um marco divisório na praça Ary Coelho em Campo Grande. Do lado de dentro, a cerca é a condição para realizar as obras de revitalização orçadas em R$ 2,1 milhões. De fora, o paredão é um obstáculo ao ganha-pão dos trabalhadores ambulantes.

Há oito dias o pipoqueiro Belarmino Pereira dos Santos trocou a praça, onde trabalhou nos últimos 20 anos, pela rua 15 de Novembro. “Aqui está péssimo. Vendi só dois pacotes de pipoca hoje”, conta o comerciante. Acostumado a vender ao menos 50 pacotinhos por dia, ele diz temer o futuro. “É minha fonte de renda”.

Vendedor ambulante há 37 anos, Belarmino tentou um local com mais movimento para fixar o carrinho. “Queria ir para a Afonso Pena, em frente do Planeta. Mas a prefeitura mandou falar que não podia vender na avenida”. Segundo ele, os vendedores se espalharam pelas ruas próximas, como a 7 de Setembro e 26 de Agosto. “Mas tá todo mundo reclamando”.

O senhor de 66 anos continua com a rotina de trabalhar na rua das 9h às 19h30 e tenta de adaptar à nova realidade. “Faço menos pipoca, para diminuir o prejuízo”, diz, cabisbaixo, ao lado do carrinho quase vazio.

Os 42 vendedores foram proibidos de permanecer na calçada ao redor da praça Ary Coelho, mas alguns se arriscam. O sorveteiro Armindo Galdino Delgado, de 72 anos, fica com um olho no cliente e o outro à procura do fiscal.

A estratégia é sair logo da calçada, empurrando o carrinho para outra direção. Ele consegue vender até 90 potes de sorvete por dia. Cada um custa R$ 1,25. “O calor ajuda e os clientes já me conhecem”, afirma.

Sobre o retorno à praça no fim da obra, prevista para durar um ano, o vendedor se mostra desconfiado. “Acho que vão terceirizar os pontos de venda para alguma firma grande”.

Vendedora ganha R$ 0,50 por chipa e se arrisca a fica na calçada, apesar de proibição. (Foto: João Garrigó)

Neuza Maria dos Santos Silva, de 52 anos, deixou a sombra da árvore na Ary Coelho para caminhar pelo centro vendendo chipa e café. Os produtos foram colocados num carrinho de feira.

Mas, no novo modelo de venda, teve que cortar o estoque. “Antes, trazia três garrafas de café. Agora, só consigo carregar uma”, conta. Por volta das 11h, o cafezinho – ao custo de R$ 0,50 – fazia falta para acompanhar a chipa de R$ 2.

O tempo de trabalho na rua também teve que aumentar. “Vendia todas as chipas até no fim da manhã. Agora, tenho que andar mais para acabar os salgados”, diz a ambulante, que só volta para a casa, na Vila Nhá-Nhá, depois de esvaziar o isopor com 70 chipas. Por cada salgado, ela ganha R$ 0,50.

A vendedora conta que estava na praça desde a transferência da rodoviária para a saída de São Paulo. “Na rodoviária, ganhava mais. Também vendia refrigerante e relógio”.

Em obras - Do lado de dentro dos tapumes, a praça vazia surpreende pelo silêncio, que permite até ouvir o canto dos pássaros. Depois de fechada, a praça foi limpa.

Como era de se esperar, os banheiros, mesmo desativdos, se destacaram no quesito sujeira. “Foi o que deu mais trabalho”, salienta Eurides Nogueira, responsável pela obra , executada pela Loma Engenharia.

Já foram removidos o calçamento no entorno do chafariz, também serão retirados os bancos. “Vão ficar o coreto, o pergolado, o banheiro será reformado”, afirma Eurides. Já o chafariz terá sistema de iluminação e sonorização. Vinte funcionários trabalham no local. À noite, a empresa vai manter segurança para evitar invasões.

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