Capital

Escolas públicas tradicionais da Capital “caçam” alunos para ensino médio

Paula Vitorino | 12/01/2012 15:09

No Maria Constança: sobram vagas no ensino médio em escola pública tradicional. (Fotos:Simão Nogueira)
No Maria Constança: sobram vagas no ensino médio em escola pública tradicional. (Fotos:Simão Nogueira)

Ao fim do primeiro prazo para matrículas na rede estadual de ensino, algumas das escolas públicas mais tradicionais de Campo Grande anunciam: temos vagas. A procura por alunos é principalmente para as séries do ensino médio, onde faltam estudantes principalmente para o período noturno.

Na escola Maria Constança de Barros Machado, no bairro Amambaí, uma faixa informa que existem vagas. O antigo "Estadual", como já foi conhecida a escola famosa por ser projetada por Oscar Niemeyer, já foi uma das mais difícieis de conseguir vaga e hoje tem disponíveis cerca de 260 vagas para o 9º ano do ensino fundamental e a 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio. A escola tem capacidade para 1.138 alunos, entre o 9º ano e ensino médio.

Na Escola Hércules Maymone, com capacidade para cerca de 3 mil alunos entre o 9º ano e o ensino médio regular e técnico, existem pelo menos 1,9 mil vagas em aberto.

No Joaquim Murtinho, na Afonso Pena, historicamente a mais disputada, até com sorteios em praça pública diante da disputa por matrículas, ainda há 10% das vagas do ensino médio regular, de um total de 2 mil.

Na Riachuelo, no bairro Cabreúva, são 80 vagas em aberto para as séries do ensino médio no período matutino e 80 vagas para o ensino fundamental vespertino. A capacidade total é de 700 alunos.

A SED (Secretaria Estadual de Educação) informou que 35% das cerca de 3 mil vagas da rede estadual estão ainda em aberto na Capital. A secretaria não soube informar qual o percentual de vagas somente no ensino médio.

Essas vagas serão disponibilizadas a partir de amanhã, no último período de pré-matrícula, que vai até o dia 27. Nesta fase acontece a “repescagem” das vagas, quando os candidatos que perderam o primeiro prazo concorrem às vagas remanescentes.

O diretor da Maria Constança observa que até o início das aulas a previsão é de que boa parte das vagas em aberto na escola sejam preenchidas, mas afirma que ainda assim é visível a diminuição na procura por matrículas no ensino médio nos últimos 4 anos, principalmente para as séries do 2º e 3º ano, e no do período noturno.

“Alguns alunos até começam a fazer, mas depois desistem ou preferem pegar o diploma de conclusão pela EJA ou pela nota do Enem”, diz.

Noturno-A procura menor é sentida principalmente no ensino médio regular do período noturno, de acordo com os diretores. A escola Riachuelo resolveu fechar as salas que funcionavam à noite em 2010 por falta de interessados.

O diretor da Maria Constança afirma que 60% das vagas ainda em aberto na escola são para o ensino médio do período noturno. “Se as nossas vagas fossem todas para o matutino seria mais fácil conseguir aluno”, diz.

Ele atribui a perda de interesse pelo período noturno, principalmente, às novas alternativas para concluir o ensino médio. Segundo ele, os alunos que antes optavam pela matrícula no período noturno são boa parte dos que agora preferem concluir o ensino médio de forma mais rápida, com a EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou usando nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

A diretora do Riachuelo, Enonides Rezende, frisa que a diminuição de alunos no ensino médio regular, principalmente do noturno, que era procurado por alunos que trabalham o dia todo mas precisavam terminar os estudos, é algo preocupante e que pode prejudicar o estudante no futuro.

“O aluno não quer mais ficar 3 anos estudando, sabendo que tem outro meios para conseguir o diploma de forma mais rápido. Só interessa o diploma, mas e a aprendizagem? Vai sair um estudante sem qualificação para fazer uma faculdade, por exemplo”, chama a atenção.

O aluno com mais de 18 anos pode obter o diploma de ensino médio pela nota do Enem. Ele precisa fazer a inscrição e obter, no mínimo, 400 pontos na prova e 500 na redação.

A reportagem apurou que alunos que já estavam reprovados por falta conseguiram o certificado fazendo o Enem.

A EJA é oferecida pela rede pública estadual, também para alunos com mais de 18 anos. As escolas públicas também oferecem a opção do ensino médio em tempo integral e a educação profissional técnica de nível médio, onde o aluno faz cursos técnicos no mesmo período em que cursa as aulas.

A secretaria não informou a quantidade de escolas que oferecem as novas modalidades de ensino médio, como também a quantidade total de vagas.

No Joaquim Murtinho, que já precisou sortear vagas em praça pública, hoje também sobram vagas.

Dados - Apesar dos índicios das escolas já citadas, a Secretaria não confirma que a procura por matrículas no ensino médio tem diminuído. Segundo dados estaduais do Censo Escolar, fornecidos pela SED, foram registradas mais de 78 mil matrículas em 2009 e a média de 86 mil em 2010 e 2011.

O dado não especifica o número de concluintes do ensino médio regular, nem as matrículas feitas somente em Campo Grande.

Sobre a diminuição da procura por vagas no período noturno, a secretaria considera que são reflexo do bom resultado das políticas de educação, “pois a escola está mais acessível e o aluno está concluindo o ensino médio antes de entrar no mercado de trabalho, isto é, antes de completar a maior idade, frequentando o ensino médio diurno”.

Já a migração para o EJA e a nota do Enem não apresenta aumento, na avaliação da Secretaria. Conforme observação do órgão, além da opção de cada aluno, diversas questões sociais levam o estudante a não cursar o ensino médio regular.

A necessidade de completar a renda familiar e buscar colocação no mercado de trabalho, a gravidez e vício nas drogas são alguns dos fatores apontados como responsáveis pela interrupção do estudo regular.

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