Capital

Empurra-empurra da fiscalização deixa cigarro eletrônico livre, leve e solto

Proibidos pela Anvisa, vaporizadores são encontrados em lojas, conveniências e até delivery

Aline dos Santos | 02/03/2022 08:24
Cigarro eletrônico é proibido desde 2009, mas não há fiscalização para coibir. (Foto: Paulo Francis)
Cigarro eletrônico é proibido desde 2009, mas não há fiscalização para coibir. (Foto: Paulo Francis)

Proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2009, o cigarro eletrônico é protagonista de um jogo de empurra no quesito fiscalização. O resultado: circula livre, leve e solto. 

Em Campo Grande, o produto contrabandeado pode ser comprado até por delivery. Basta digitar a marca, escolher o sabor e pagar R$ 57 pelo cigarro eletrônico descartável. Já em plataforma de compra e venda pela internet, há modelos de R$ 50 a R$ 600. 

No comércio, o item proibido divide prateleira com produtos autorizados, como o tradicional cigarro da indústria brasileira. Com valor de R$ 100, um modelo descartável promete 1.500 puxadas. 

O marketing também recorre a contorcionismos verbais para atenuar palavras e dar um ar descolado ao velho hábito. Nada do verbo fumar, os adeptos preferem o termo “vaporar”. O nome também muda, sai o cigarro eletrônico e entra termos como vape e pod. Também há os “juices”, líquidos que vão no tanque do eletrônico, com um cardápio diversificado: algodão doce, kiwi com melão, morango, abacaxi. 

Modelo descartável de cigarro eletrônico vendido em Campo Grande. (Foto: Direto das Ruas)

Com custo de R$ 65 na internet, o juice de algodão doce se esmera na propaganda, com promessa de sabor de infância e uma viagem pelo "mundo dos parques de diversões".  

A reportagem questionou a Vigilância Sanitária Estadual sobre a fiscalização. A resposta do órgão foi de que essa responsabilidade é das Vigilâncias Sanitárias municipais. O Campo Grande News também procurou a Vigilância de Saúde da Capital. Que, por sua vez, disse não ser da sua competência fazer o recolhimento do material. 

“A fiscalização do comércio de cigarros eletrônicos e produtos similares deve ocorrer, em parceria entre a Vigilância Sanitária e Polícia Federal, uma vez que estes são proibidos e, assim, todo e qualquer produto do gênero que está sendo comercializado no município é fruto de contrabando, não cabendo à Vigilância Sanitária fazer o recolhimento do material, uma vez que se trata de um flagrante de crime federal.”

O Procon informa que faz apreensões, mas recebe poucas denúncias, pois a maioria acredita que o cigarro eletrônico tem venda e uso liberados. “Temos poucas denúncias, porque as pessoas acham que não é proibido. Se tiver denúncia de venda desse tipo de produto, nós vamos retirar. O Procon tem autonomia legal para retirar produto não autorizado”, afirma o superintendente Marcelo Monteiro Salomão. 

Na prateleira, isqueiros de juices: o encontro entre os velhos e novos hábitos de fumar. (Foto: Direto das Ruas)

Perigo - Apesar da roupagem moderninha, o modelo eletrônico, mesmo sem ter a queima do tabaco, é como o tradicional: faz mal à saúde. Ambos contêm nicotina e podem causar doença respiratória. 

De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), os cigarros eletrônicos expõem o organismo a uma variedade de elementos químicos gerados de diferentes formas. Uma pelo próprio dispositivo (nanopartículas de metal).

A segunda tem relação direta com o processo de aquecimento ou vaporização, já que alguns produtos contidos no vapor de cigarros eletrônicos incluem carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas, potencialmente causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares.

Cigarro eletrônico pode ser comprado por delivery em Campo Grande. (Foto: Reprodução)
Plataforma de compra e venda na internet também oferta cigarro eletrônico. (Foto: Reprodução)


Nos siga no