Capital

Em terminal lotado, para não perder ônibus "só sendo atleta"

No terminal Morenão, por volta das 6h30 não há linha vazia e pátio cheio denuncia a correria de quem depende de ônibus e não pode se atrasar

Guilherme Henri | 19/04/2018 08:58
Terminal Morenão lotado às 6h30 desta quinta-feira (19) (Foto: Saul Schramm)
Terminal Morenão lotado às 6h30 desta quinta-feira (19) (Foto: Saul Schramm)

O sol mal raiou e os terminais do transporte coletivo mais parecem pista de corrida na maratona diária de tentar não perder o horário. Seja ele, para escola, faculdade ou trabalho. Por instantes, o pátio parece esvaziar até que num piscar de olhos outra leva de veículos longos chega para “despejar” os “atletas” do dia a dia.

No terminal Morenão, o segurança dispara “nesse horário meu amigo não tem linha vazia”. Ele se referia aos ponteiros do relógio que marcavam 6h30. O entra e sai na guarita e as filas à espera das linhas confirmava a informação. Pouco depois, os mesmo rostos enchiam o “busão”.

E neste corre-corre, o difícil mesmo é parar para conversar, afinal qualquer segundo pode significar uma aula perdida ou desconto na folha. O diálogo só existe entre passageiro e cobrador ou quando falta R$ 0,25 para o passe. Aí qualquer um na fila se torna amigo.

Passageira desembarca e corre para não perder a integração com outro ônibus (Foto: Saul Schramm)
Inúmeras pessoas se tornam obstáculo para quem está com presa no terminal (Foto: Saul Schramm)

O cartão mal cai na guarita e a bolsa ou mochila já estão no alto para não atrapalhar a catraca girar. Parece até o som do início da corrida, pois em seguida preparo físico é o que menos conta na hora de alcançar o ônibus que está em partida.

A maioria que transita ali este horário acordou pelo menos uma hora antes nos bairros. A babá Rosalina Ferreira de Paula, 40 anos, conta que ali é o terceiro ponto que parou desde que acordou, no bairro “Zé Pereira”. Ela relata que antes do terminal enfrentou outros dois ônibus e um trecho de sete quadras a pé. “Ainda vou pegar o último”, conta já entrando no pátio.

Rosalina Ferreira de Paula, 40 anos (Foto: Saul Schramm)

Igual ela, Lucas Freitas, 24 anos, acorda 5h45, no Jardim Centenário, para encarar as máquinas abarrotadas de pessoas. “Todo dia é assim. As vezes mesmo dormindo bastante chego cansado no trabalho”, desabafa.

E não há idade para a corrida. Gabriel Henrique Reick, 16 anos, nem precisa contar para onde vai já que o uniforme verde o denuncia. “Às 5h, pego ônibus no terminal Bandeirantes e seguido para o Morenão, para só então entrar no 61 e por volta das 7h chegar na escola, nas Moreninhas”, detalha.

Apressada, Joane Lopes, 19 anos, se equilibra entre pegar o passe, ajeitar a mochila e segurar o tubo onde guarda os trabalhos de arquitetura da faculdade. “É do Pioneiro entrando e saindo de ônibus para a faculdade. Sempre em pé”, diz ao começar a correr para pegar o ônibus já de partida.

E lá se vão eles, para chegar aos seus destinos já se preparando para o dia seguinte onde tudo se repete.

Passageiros em pátio de terminal a espera de ônibus (Foto: Saul Schramm)
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