Capital

Por causa do vício dos filhos, pais acorrentam, expulsam e sofrem

Aline dos Santos | 16/03/2012 11:09

Mãe acorrentou jovem para livrá-lo das drogas e pai expulsou filho por medo. Em comum, dividem a mesma dor

Em 2008, Luciene chorava ao contar que acorrentou filho viciado em drogas. Hoje, ele está atrás das grades. (Foto: Minamar Júnior/Arquivo)
Em 2008, Luciene chorava ao contar que acorrentou filho viciado em drogas. Hoje, ele está atrás das grades. (Foto: Minamar Júnior/Arquivo)

Há quatro anos, uma mãe foi notícia por uma atitude desesperada: acorrentou o filho adolescente para tentar livrá-lo das drogas. Hoje, ela já não se preocupa em prendê-lo. O jovem de 20 anos cumpre pena no Presídio de Transito de Campo Grande.

O drama de ver dois dos quatro filhos submersos no mundo das drogas persiste. “Quando ele sair do presídio, onde vai ter uma clinica para tratar do meu filho?”, questiona, em agudo tom de súplica.

Quando os filhos tinham 14 e 16 anos, Luciene Martins Calixto, de 41 anos, viu acontecer dentro do seu lar, no Jardim Columbia, em Campo Grande, uma cena que se repete em várias e várias casas Brasil afora.

Panelas, botijão de gás e móveis começaram a desaparecer. Os utensílios domésticos eram levados para a boca-de-fumo. “Aconteceu de chegar em casa e não ter uma panela para cozinhar”, recorda.

Num bairro onde, no relato de moradores, muitos imóveis funcionam como ponto de revenda de droga, a mulher saía noite adentro, de boca em boca-de-fumo, à procura dos filhos.

Em 2008, depois dos dois adolescentes fugirem da clínica, onde a então empregada doméstica apostou todos os recursos financeiros, veio a atitude extrema. “Coloquei calmante numa bebida e dei pra ele”, relata. O filho, acorrentado, acordou no colo da mãe. “Expliquei porque fiz aquilo”, conta.

Quatro anos depois, ela já não quer mais mostrar o rosto e deposita as esperanças na providência divina. (Foto: Marlon Ganassin)

Quando o drama ganhou destaque na imprensa, vieram promessas de ajuda e tratamento. Entretanto, de concreto, ela só conseguiu responder criminalmente por cárcere privado. Com auxílio do CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) Marçal de Souza, Luciene conseguiu se livrar da ação. Neste meio tempo, perdeu o emprego e hoje faz pão para vender.

O filho mais novo ainda mora com a mãe. Do mais velho, ela não tem notícias. “Não fui visitar. Quero ver se ele põe a mão na consciência, muda de vida”, conta. O jovem foi preso há três meses por roubo, recurso para sustentar o vício. “Ele começou a roubar dos outros também”, explica a mãe.

Enquanto vê a vida seguindo em frente, na figura do neto de três anos, a agora avó dirige todas as esperanças à providência divina. “Deus tem plano para a vida de cada um”. Num apelo, pede aos adolescentes que evitem a primeira viagem. “Meu filho disse que ‘a gente viaja’. Mas não use, não experimente”, alerta a mulher, testemunha de uma viagem sem volta.

Dependente químico, Levi virou morador de rua e teve 50% do corpo queimado por dívida de droga. (Foto: Arquivo Pessoal)

A droga ou o lar? – A pergunta foi feita por Leandro da Costa, de 61 anos, ao filho em 2007. Levi da Costa escolheu a primeira opção. No último sábado, o pai o reencontrou na Santa Casa de Campo Grande, com 50% do corpo queimado. “Nessa hora, o amor fala mais alto. Disse para ele que Deus deu mais uma oportunidade de vida”, conta.

Fora de casa, o jovem de 22 anos foi morar na rua e virou mais um retrato do efeito devastador das drogas. A tentativa de homicídio, que choca pela crueldade, foi em resposta a uma dívida de R$ 450 que Levi fez na boca-de-fumo.

Na madrugada do último sábado, o jovem foi encontrado caminhando pela rua Albatroz, no bairro Nascente do Segredo. Ele relatou que foi amarrado a uma árvore em um terreno baldio e, depois, teve o corpo incendiado.

O pai não sabe ao certo quando o garoto trabalhador, boa pessoa e com facilidade para fazer amigos se tornou usuário de drogas. “Descobri quando ele tinha 18 anos, tava no quartel”, recorda.

Segundo ele, o rapaz não chegava a furtar dinheiro ou objetos de valor da família, prática bastante comum entre os usuários de droga.“Ele fazia tudo na rua”. Agora, Leandro espera que o filho se recupere e volte para casa.

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