Capital

Domínio do PCC em MS pode evitar guerra, mas clima em cadeias é tenso

O “salve” se espalhou “no ar”, na gíria do crime, mas não há confirmação de que tenha chego em MS

Luana Rodrigues | 20/10/2016 11:18
Em Roraima, guerra entre facções resultou em mortes e destruição no presídio. (Foto: Divulgação)
Em Roraima, guerra entre facções resultou em mortes e destruição no presídio. (Foto: Divulgação)

Na cadeia, quando há pouco barulho é porque a situação não é favorável. E é no silêncio que estão os presídios em Mato Grosso do Sul depois da declaração de guerra do PCC (Primeiro Comando da Capital) contra o Comando Vermelho, as duas principais facções do Brasil.

O comportamento passivo pode ser reflexo do domínio do PCC no Estado. Mas, em uma região que faz fronteira com o Paraguai, corredor do tráfico de drogas e onde grupos rivais disputam territórios a todo momento, também pode significar 'calmaria antes de tempestade'.

É o que explica fonte ouvida pelo Campo Grande News, familiar de um detento, que terá a identidade preservada. Segundo ela, apesar da aparência de tranquilidade dentro da penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, por exemplo, é a tensão que impera.

“A cadeia aqui é do PCC, não tem ninguém do Comando (Vermelho). Mas quando dão uma ordem dessas, eles tem que fazer alguma coisa. Pode esperar reação dentro e fora dos presídios”, contou.

O presidente do Sinsap (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária), André Luiz Santiago, confirma a situação de alerta. De acordo com ele, o que mantém o clima mais ameno é que em Mato Grosso do Sul há poucos integrantes do Comando Vermelho presos.

Por isso, não há convívio entre as facções. Mesmo assim, segundo o presidente, há uma apreensão em todas as unidades penitenciárias do MS. E o que preocupa os agentes, é a lentidão da organização de forças de segurança para evitar qualquer reação.

“Temos solicitado ações do governo justamente para evitar esse tipo de fato. Tendo investimento é possível separa as facções e isolar as lideranças, mas a resposta que o estado está dando está sendo lenta e isso prejudica a vigilância e o controle dentro dos presídios, o que gera essa situação de tensão e apreensão”, disse.

Nesta terça-feira (19), o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), comentou sobre a eventual guerra entre as facções nos presídios do Estado. Segundo ele, as forças de segurança monitoram a situação.

De acordo com Reinaldo, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e o setor de inteligência da policia estão monitorando a situação para evitar confrontos.

Salve geral – A ordem que culminou na guerra entre as facções teria partido de dentro Penitenciária de Presidente Venceslau, em São Paulo, onde fica a cúpula do PCC.

Lá, lideranças da facção teriam escrito uma carta a mão, onde decretam o fim fim da aliança com o Comando Vermelho e decretam guerra contra a facção. Desde o último fim de semana, o resultado da ordem pode ser visto em presídios de Roraima, Rondônia e Ceará: 27 pessoas assassinadas por integrantes da organização paulista.

O “salve” se espalhou, foi transmitido por telefone às unidades sem bloqueador de celular – “no ar”, na gíria do crime, mas não há confirmação de que tenha chego em MS.

Segundo reportagem da revista Época, publicada na terça-feira (18), as facções eram aliadas desde o surgimento da facção paulista, em 1993. Com a autorização das cúpulas, seus integrantes mantinham relações comerciais dentro e fora dos presídios, tanto na compra de armas quanto de drogas. Há cerca de dois anos, os primeiros sinais de rompimento começaram a aparecer.

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) de Presidente Prudente (SP), o embate começou à medida que os cariocas passaram a se associar a pequenas facções criminosas inimigas do PCC, surgidas em estados do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

“Essas facções se associaram ao Comando Vermelho porque têm receio de que o PCC se torne hegemônico no tráfico. É uma disputa de mercado”, afirmou Gakiya em entrevista à Época nesta terça-feira (19). “A guerra declarada poderá se estender para fora dos presídios. Mas não chegará à população, como em 2006.”

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