Capital

Desesperada, mãe pede ajuda para salvar das drogas o filho de 13 anos

Paula Vitorino | 11/06/2012 15:36

Garoto passa dias fora de casa e não quer ajuda

Grávida, mãe entra em desespero por causa de filho de 13 anos dependente químico. (Fotos: Paula Vitorino)
Grávida, mãe entra em desespero por causa de filho de 13 anos dependente químico. (Fotos: Paula Vitorino)

“Eu não sei mais o que faço, a quem pedir ajuda”. É com esse desabafo que a mãe Elita Alves dos Santos, de 32 anos, descreve a batalha travada nos últimos meses para tentar salvar o filho de 13 anos das drogas.

O garoto parou de estudar, já foi apreendido pela Polícia, furtou objetos da mãe e passa dias fora de casa, sem paradeiro certo. Em desespero, a mãe busca ajuda para tratar o garoto antes que aconteça uma tragédia.

“Já procurei Polícia, Conselho Tutelar, mas falam que não podem fazer nada. Na hora que a gente mais precisa ninguém quer ajudar, mas se acontecer alguma coisa aí são os primeiros a vir em cima”, reclama.

Grávida de seis meses do segundo filho, uma menina, a mãe conta que não tem mais um dia de sossego com a rotina de preocupações com o garoto.

“Eu fico igual um zumbi. Minha vida é andar atrás dele. Não consigo mais dormir direito”, diz, chorando.

Neste fim de semana, o menino saiu de casa na sexta-feira e só voltou no domingo à noite, mas a mãe conta que o adolescente já chegou a ficar uma semana desaparecido.

O paradeiro, ele diz para a mãe, é sempre a casa de amigos e festas por todos os cantos da cidade. “Ele volta abatido, com o olho vermelho e nunca conta por onde esteve. Às vezes chega com os pés todos machucados, manchas pelo corpo, aí cuido dele e quando melhora volta para a rua”, diz.

Ela diz que já tentou prender o adolescente em casa, mas quando sai para trabalhar, ele quebra a fechadura das portas, arranca o cadeado ou pula o portão. “Já desisti de tentar prender”, frisa.

Em meados do mês de maio, o menino foi apreendido por posse de arma depois de pegar o revólver do pai de um amigo e atingir um colega de raspão. Essa foi a versão contada por ele.

"Ele contou essa história, mas nem isso sabemos se é verdade, não tem mais confiança". Na ocasião, a mãe lembra que até a delegada ficou espantada com o abuso do menino de 13 anos.

O adolescente também já furtou diversos objetos da residência. “Tenho que deixar meu quarto trancado”, conta.

Ele parou de estudar esse ano depois de reprovar na escola e diz para a mãe que só quer a liberdade. “Ele é muito novo, começou a sair agora e tudo ainda é novidade. Ainda é bobão e vai na conversar dos colegas mais velhos, acha que a vida é só isso, fácil”, diz.

Na tentativa de encontrar uma solução, Elita faz a pergunta compartilhada por diversos pais. “Fico me perguntando onde errei. Minha vida sempre foi em função dele, por mais que a gente erre, é sempre com a intenção de acertar”, afirma.

Histórico - Ela e o filho saíram do interior de São Paulo há 12 anos e desde então vivem em Campo Grande. O pai do garoto desapareceu e nunca manteve contato com o filho.

A mãe lembra que o filho sempre foi agitado na escola e aos 8 anos chegou a fazer tratamento com psicólogo e tomar remédios receitados por psiquiatra.

Mas os problemas começaram e as drogas apareceram no final do ano passado, até que na Sexta-feira Santa deste ano ele teve a primeira crise.

O menino foi levado para o posto de saúde amarrado, com convulsões, depois de beber e provavelmente usar algum tipo de droga. Depois disso, a mãe conta que as crises e os sumiços só aumentaram.

Sem parentes na cidade, a mãe conta com a ajuda de amigos e do namorado, que é pai do segundo filho, mas diz que o garoto rejeita ajuda de todos e cada vez mais se afasta.

“Penso em voltar para a minha cidade, mas ele diz que foge de lá e eu não duvido. Aqui os amigos já se afastaram e até meu namorado, que tenho relacionamento há quase 10 anos”, diz.

Elita afirma que ela e ninguém da família nunca tiveram envolvimento com drogas e acredita que influência de colegas da escola tenha levado o garoto para o mau caminho.

“Eu deixava ele na porta da escola, mas comecei a ficar sabendo que ele não ia pra aula, ficava andando com um grupo de maloqueiros”, lembra.

Mãe olha a foto dos filhos enquanto questiona onde errou.

Medo - Chorando, a mãe desabafa que não tem medo do filho ser preso, mas de acontecer alguma tragédia.

“Se ele for preso eu pelo menos vou saber onde ele está, agora meu medo é ele acabar morto ou matando alguém”, diz.

A mãe também confessa ter medo do filho se envolver no mundo do crime. “Ele é muito ambicioso e se encontrar um grupo que lhe mostre dinheiro fácil é bem capaz de ele acabar se envolvendo”, admite.

Ela diz que já alertou o garoto sobre os riscos de ser usado por traficantes para praticar roubos, mas que o menino já tem o discurso certo. “Fizeram a cabeça dele. Ele fala que é menor de idade e a Polícia não pode fazer nada contra. Mas eu insisto que se fosse algo de bom ninguém de se fazer, não iam querer outro no lugar”, diz.

Tratamento - Para a mãe, a melhor alternativa seria tratar a dependência química do filho. “Agora ainda está no começo, então dá pra tirar ele das drogas”, afirma. Mas o menino se recusa e em meio a rotina de trabalho, ela não sabe mais o que fazer.

“Não posso parar de trabalhar porque senão passamos fome. É difícil porque os lugares ficam tudo longe daqui e ele não quer ir. A conselheira tutelar falou para eu levar ele lá, mas como?”, questiona.

O promotor da Vara da Infância e da Juventude de Campo Grande, Sérgio Harfouche, é categórico ao afirmar que a internação para desintoxicação é a única solução para esse tipo de caso, mesmo sem a vontade do garoto.

“Sem a desintoxicação ele nunca vai querer se tratar e enquanto estiver no vício só vai piorar a situação. Vai acabar preso ou morto, é o final certo para esses casos”, alerta.

Ele ainda alerta que adolescentes nessa situação são alvos fáceis de traficantes, que aproveitam deles para praticar crimes, já que a legislação é mais branda na punição de menores de idade.

Solução? - Na busca por tratamento, ele diz que o primeiro passo é procurar a unidade do Caps especializada em dependentes e a mãe declarar que quer a internação do filho.

Ele explica que mesmo o adolescente não querendo ser tratado, a internação pode ser feita de forma involuntária, quando a pessoa não quer receber tratamento, mas a internação é feita por força da família.

“É como se fosse uma criança que precisa passar por uma cirurgia depois de quebrar o braço, mas tem medo de médico. A mãe autoriza o procedimento por saber que aquilo é necessário”, diz.

Em último caso, Harfouche também explica que a mãe pode procurar o Ministério Público Estadual e pedir ajuda para a internação.

O promotor ainda frisa que é direito da mãe tratar o filho antes dele chegar a estágios críticos e que em 25 anos de experiência participando de simpósios sobre o assunto, a internação para desintoxicação é o primeiro e único passo.

Harfouche ressalta que após a desintoxicação e o período de abstinência forçada, a próxima etapa depende da vontade do paciente, que precisa querer continuar o tratamento.

Ele ainda alerta os pais sobre o trabalho preventivo, que deve acontecer desde os primeiros anos de vida da criança. O promotor ressalta que limites e valores devem ser criados na infância para evitar problemas na adolescência.

Em Campo Grande, existem 48 leitos para desintoxicação, divididos entre o Hospital Regional e o Hospital Nosso Lar. A Secretaria de Saúde do Estado explicou que parte desses leitos são destinados a adolescentes, mas não soube especificar quantos.

Serviço - O Caps AD fica na Avenida Joaquim Murtinho, 1786 - Antônio Vendas. O atendimento é das 7h às 17h. O telefone para contato é 3314-3280 / 3314-3756.

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