Capital

Denunciado por barulho, terreiro de umbanda aponta intolerância religiosa

Os áudios enviados ao dono do imóvel, que mora em São Paulo, tem teor preconceituoso

Aline dos Santos e Idaicy Solano | 01/09/2023 13:07
Denunciado por barulho, terreiro de umbanda aponta intolerância religiosa
Mãe Mari mostra print de reclamações para dono de imóvel. (Foto: Marcos Maluf)

Terreiro de umbanda, localizado no Jardim Leblon, em Campo Grande, denuncia intolerância religiosa. De acordo com a Mãe Mari, uma vizinha reclama de perturbação de sossego, algazarra e gritaria. Porém, ela nega as situações e informa que tem todos os alvarás para funcionamento, inclusive para celebrações até 22h.

Para comprovar que somente essa mulher se incomoda, Mari apresentou abaixo-assinado em que os demais moradores relatam não ter problemas com as atividades no local. 

“Não consigo trabalhar direito, fico com o emocional afetado. Tenho medo que faça alguma coisa contra nós”, diz a religiosa. 

Vice-presidente da Associação Casa de Oração Caboclo Pena Branca, Beatriz Gabriele da Silva Rodrigues Batista afirma que a vizinha enviou áudios para o proprietário do imóvel, se oferecendo para comprar a casa e exigindo a expulsão dos inquilinos. Ela também registrou Boletim de Ocorrência em 23 de março contra a casa de oração e, na última quarta-feira, a PM (Polícia Militar) foi ao local após reclamação de perturbação de sossego. 

“A vizinha fala que é um inferno viver ali, que não tem paz e nem sossego, que as pessoas são mal encaradas. Ela já fez imagem do nosso quintal durante o dia”, afirma Beatriz. 

Os áudios enviados ao dono do imóvel, que mora em São Paulo, tem teor preconceituoso, com menções a “tirar esse povo daqui” e medo de “jogar macumba”.  

Associação Casa de Oração Caboclo Pena Branca, no Jardim Leblon. (Foto: Marcos Maluf)

Conforme Beatriz, o imóvel é sede da associação, que funciona 24 horas e faz trabalho social, e também do terreiro. As celebrações acontecem das 19h30 às 22h, em três dias da semana: segunda, quarta e sábado. As atividades no local acontecem há cinco anos e as reclamações começaram em novembro de 2022. A associação foi fundada em 2014. 

“Na umbanda, a gente utiliza o canto e o atabaque, mas nada estridente. Na mesma rua, tem vizinhos que escutam som alto, mas a polícia nunca apareceu. A varanda tem isolamento acústico e temos laudo de engenheiro que foi medir a questão do som. Já existe preconceito com religião por ser de matriz africana e tomamos todas as providências possíveis”, diz Beatriz.

Segundo ela, a vizinha é a única que reclama. Na ultima quarta-feira, ela conta que a PM chegou ao local às 21h30. Até às 22h, é permitido barulho de 70 decibéis. Rádio no volume alto, por exemplo, tem média de 80 decibéis. 

Transcrição de áudio que teria sido enviado por vizinha de terreiro. (Foto: Reprodução)

Presidente da associação, Simone Silva Medina afirma que fará registro de Boletim de Ocorrência na próxima segunda-feira (dia 4). A entidade atende crianças e também distribui marmitas em bairros e para morador de rua. 

Conforme o artigo 208 do Código Penal, é crime “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. 

O Campo Grande News tentou contato com a vizinha, mas a reportagem não encontrou ninguém em casa. Os dois lados, a vizinha e os frequentadores, nunca se procuraram para dialogar. 

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