Capital

Denúncia sobre negociação de droga leva polícia à pista sobre Tio Arantes

Informação veio da mulher presa por ajudar traficantes para sustentar a filha de 6 anos com paralisia cerebral

Geisy Garnes e Mirian Machado | 29/11/2021 15:43
Carro em que os suspeitos estavam quando parados pela polícia. (Foto: Mirian Machado )
Carro em que os suspeitos estavam quando parados pela polícia. (Foto: Mirian Machado )

As denúncias que levaram a polícia até o trio que negociava drogas no Bairro Celina Jallad, em Campo Grande, revelaram também pistas sobre o possível paradeiro de José Cláudio Arantes, o Tio Arantes, foragido do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira desde a madrugada do dia 23 de novembro. A informação veio da mulher de 27 anos presa por ajudar os traficantes para sustentar a filha de 6 anos, que tem paralisia cerebral e epilepsia focal.

O flagrante acontece na noite de sexta-feira (26), após policiais da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) receberem informações que traficantes circulavam pelo bairro em um Honda Civic. Diante da situação, os investigadores saíram em uma viatura descaracterizada.

Na Avenida Cachoeira do Campo, avistaram o carro da denúncia. Os policiais pediram que o motorista parasse, mas ao invés de obedecer a ordem, o homem fugiu em alta velocidade, foi perseguido e fechado pela viatura.

Dentro do carro, estavam Edison Luiz Figueiredo de Carvalho, de 41 anos, José Márcio da Costa Salustiano, de 35 anos, e Maristela Araújo da Silva, de 27. O veículo estava com restrição de busca, por apropriação indébita e, por isso, foi apreendido.

Durante a prisão, a história contada por Maristela chamou a atenção os policiais. Ela deu detalhes sobre como foi coagida a participar de uma negociação de drogas e revelou que os comparsas falaram em códigos que estavam abrigando “Veio”, apelido de José Cláudio Arantes.

Depois do depoimento, os policiais foram ao endereço dos suspeitos, principalmente na casa de José Márcio, no Jardim Panorama, onde o foragido supostamente estava, mas ele não foi achado no local. Encontraram, no entanto, comida quente e ventilador ligado.

De acordo com o delegado Hoffman D'Avila, quando a abordagem foi realizada, José Márcio tentou quebrar o celular que carregava, xingou os policiais e afirmou que era do PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele também cumpria pena no regime semiaberto, o que para a polícia caracteriza a ligação com Arantes.

Celulares e dinheiro apreendidos com os suspeitos. (Foto: Mirian Machado)

O depoimento – Maristela contou que é de Paranaíba e semanalmente, vem para Campo Grande com a filha de 6 anos, que tem paralisia cerebral e epilepsia focal para tratamento no Hospital Universitário.

No fim de mês passado, durante a internação da menina, conheceu uma mulher no hospital. As duas conversaram e ela contou a história da filha e falou da necessidade de comprar um aparelho CPAP, usado para melhor a respiração durante o sono. Em troca, recebeu da “nova amiga” o telefone, sob alegação de que o dono dele ajudaria.

Maristela ligou para o homem, identificado como “Gordão”, contou toda sua vida e recebeu a promessa de ajuda para comprar o aparelho. Na sexta-feira, de volta a Campo Grande, entrou novamente em contato com o desconhecido.

Ele então explicou que buscaria ela para que acompanhasse em uma transação de drogas. A instrução era para que ela conferisse o recebimento de pasta base, simulasse que conhecia de droga e ajudasse a carregar o carro. Em troca, receberia R$ 3 mil.

Ela aceitou. Deixou a filha com uma sobrinha de 14 anos em uma pausada na frente do hospital e saiu de carro com um dos envolvidos, conhecido como “Gordo”. O homem explicou que a função de Maristela era intermediar a negociação da droga.

Foram então até uma casa do Bairro Panorama, onde encontrou José Márcio. Junto com os dois homens, ela foi em busca do terceiro suspeito, Edison Luiz. No trajeto, no entanto, os traficantes conversaram e citaram o nome de José Claudio Arantes, o Tio Arantes, que desde 24 de novembro está foragido do sistema prisional.

Dentro do carro, os suspeitos falaram que estavam com o “Veio” em casa e que a situação era “muito perigosa”, já que a todo momento, notícias sobre a fuga dele passava na televisão. O grupo parou em uma casa onde guardavam quatro tabletes de pasta base de cocaína. Lá, fizeram a mulher conversar com compradores por telefone e garantir o negócio.

Ainda em depoimento, Maristela afirmou que os bandidos a forçaram a participar para ser liberada e ameaçaram que, caso contrário, ela não voltaria para casa tão cedo.

A filha e a sobrinha de Maristela foram resgatadas pelos policiais. Eles chegaram a pagar a diária da pousada e constataram que as meninas estavam sem comida, em um quarto com apenas uma cama. As meninas foram alimentadas na delegacia e o Conselho Tutelar acionado.

Maristela ganhou liberdade provisória, com condição de comparecer uma vez por mês em juízo, não frequentar bares e locais similares e não sair de Paranaíba sem avisar com cinco dias de antecedência.

O outro lado – Os dois homens negaram tanto o tráfico de drogas quanto a ajuda ao foragido da Justiça. Edison Luiz Figueiredo de Carvalho, de 41 anos, dono de uma oficina mecânica, já foi preso por roubo e receptação e cumpriu pena por cerca de 17 anos.

Em depoimento, contou que apenas estava ajudando o amigo, José Márcio, a achegar à Gameleira, onde faria a compra de um ônibus em nome de outra pessoa.

Já o homem de 35 anos falou que estava voltando para a Gameleira, onde cumpre pena por tráfico, e pediu uma carona para chegar no horário.

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