Capital

Denúncia em delegacia contra suspeito de matar Kauan foi ignorada em 2014

Mulher diz que tentou denunciar Deivid Almeida Lopes, 38 anos, mas servidor se negou a fazer registro

Luana Rodrigues | 29/07/2017 08:32
Engenheira civil procurou polícia em 2014, mas denúncia não foi registrada, segundo elar (Foto: João Paulo Gonçalves)
Engenheira civil procurou polícia em 2014, mas denúncia não foi registrada, segundo elar (Foto: João Paulo Gonçalves)

 

 

Há 15 dias, a Polícia Civil identifcou como suspeito de matar o menino Kauan, de 9 anos, um homem de 38 anos, que já foi professor de escolas estaduais e municipais. De lá para cá, surgiram mais 9 vítimas, todas crianças e adolescentes que, segundo a investigação, eram atraídas com dinheiro pelo criminoso, e violentadas sexualmente. Tudo poderia ser diferente se, há 3 anos, tivesse sido registrada, e investigada, a denúncia de uma engenheira civil, de que o afilhado havia sido assediado por Deivid de Almeida Lopes, agora preso. Ela conta ao Campo Grande News que um servidor da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), em Campo Grande, se negou a fazer o registro.

De acordo com a mulher, de 33 anos, na época, ela encontrou conversas no celular do afilhado, que tinha 12 anos, com um homem que diz ser Deivid, então professor do garoto. “Ele mandava vídeos pornográficos para o meu afilhado e marcou um encontro com ele e um coleguinha numa praça, disse que era para eles brincarem e que depois iria ajudá-los a fazer um trabalho da escola, entendi na hora que era uma isca, fiquei horrorizada e decidi denunciar”, conta.

A engenheira afirma ter contado o que houve ao pai do menino, que é tio dela, e os dois juntos foram até a Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), para denunciar o homem. “Chegamos lá e tomamos um chá de cadeira. Depois, um homem, que não sei se é policial ou servidor administrativo, chamou a gente num corredor perto da escada e perguntou o que era, contamos a história, mas ele disse que não poderia registrar a denúncia sem a presença da vítima”, lembra.

Segundo a mulher, o menino estava em casa, envergonhado, depois de uma conversa com a madrinha e o irmão, durante a qual negou ter tido qualquer encontro ou relação com o então professor.

“Mas eu estava com o celular dele nas mãos, e disse ao policial que podia entregar para que eles investigassem, mesmo assim, ele se negou a registrar o boletim e mandou a gente procurar Deus, porque era isso que estava faltando em nossa família”, explica.

A mulher conta que ela e o tio voltaram para casa revoltados com tamanho descaso, por isso desistiram da denúncia e apenas passaram o observar melhor o adolescente.

“Meu tio queria pegar ele (professor) na porta da escola, chegou a ir um dia lá, mas o homem não estava. Depois, graças a Deus, ele desistiu, ou faria uma besteira”, afirma.

O que a engenheira não imaginava, é que três anos depois reconheceria o mesmo homem que trocava conversas com seu afilhado nas capas de jornais, apontado como suspeito de estupros e até o provável desaparecimento de crianças.

“Eu entrei em desespero, me senti arrasada, porque sei que isso poderia ter sido evitado se eu tivesse batido o pé naquela delegacia e denunciado. Por isso eu resolvi falar agora, para que as pessoas não desistam. Se souberem de algo, vão e denunciem, mesmo que tentem impedir”, reforça.

Procurado, o delegado geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas, afirma que todas as ocorrências que chegam nas delegacias devem ser registradas e irá tomar providências, caso a vítima procure a diretoria ou a Corregedoria da Polícia Civil. “Se alguém procedeu desta forma e a vítima denuncie de fato, nós vamos apurar, vamos investigar”, diz.

A engenheira diz que ainda não decidiu se fará denúncia à polícia, pois já não acredita se iriam aceitar que erraram. "Eu estou desacreditada da polícia, porque eu vou lá e dizer que a culpa é dele e eu não sei se eles iriam aceitar isso bem. Na minha opinião, com todas as letras do mundo, isso que aconteceu com o menino Kauan foi culpa deles, porque eu tinha todas as provas do que o cara era, mas não fizeram nada, foram omissos", finaliza.

Essa não é a primeira informação que chega ao Campo Grande News sobre vítimas que reconheceram Deivid anos depois. Uma jovem de 26 anos contou à reportagem que foi abusada por ele há 12 anos. Sobre esse caso, a informação da Polícia Civil é que poderia ainda ser denunciando, uma vez que a Lei Joana Maranhão ampliou o prazo de prescrição desse tipo de crime. A prescrição, de 12 anos, só passa a contar a partir do momento em que a vítima faz 18 anos. O titular da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), Paulo Sérgio Lauretto, recomendou às vítimas que reconheceram o suspeito que procurem a delegacia.

A investigação do caso - O delegado Lauretto confirmou na tarde desta sexta-feira (28), que subiu para nove o número de acusações de estupro de vulneráveis contra Deivid de Almeida Lopes, 38 anos, suspeito de estuprar e matar o menino Kauan, desaparecido há mais de um mês.

O delegado evitou responder perguntas da imprensa, não comentando detalhes sobre as investigações e se as buscas pelo corpo de Kauan serão retomadas.

Deivid chegou à Depca por volta das 15h48 de ontem acompanhado por investigadores e pela delegada Marília de Brito Martins. O suspeito ficou cerca de uma hora e deixou o local em uma viatura da Polícia Militar, para retornar ao Instituto Penal de Campo Grande, no Jardim Noroeste.

No início desta semana, Deivid foi indiciado por seis estupros e por possuir materiais pornográficos envolvendo crianças ou adolescentes. Na residência do suspeito, foram encontrados vários filmes pornográficos e dois filmes do próprio homem tendo relações sexuais.

O suspeito está preso desde o dia 22 de julho. (Foto: Adriano Fernandes)
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