Capital

De olho na redução de pena, presos trabalham em horta de presídio

Elverson Cardozo | 06/07/2012 17:27
Horta orgânica da Gameleira foi entregue na tarde desta sexta-feira. (Foto: Pedro Peralta)
Horta orgânica da Gameleira foi entregue na tarde desta sexta-feira. (Foto: Pedro Peralta)
Área, de 1,3 hectare, está 80% ocupada. (Foto: Pedro Peralta)

Ricardo Dias Basques tem 39 anos e há 1 ano e 2 meses está no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, uma das unidades do regime semi-aberto instalado na saída para Sidrolândia, zona rural de Campo Grande.

Não está lá por acaso, mas por causa do crime que cometeu prefere dizer que é “uma coisa que ficou gravada no tempo e não há como tirar do papel”.

O silêncio que tanto guarda, ele também encontra na horta orgânica da Gameleira, entregue na tarde desta sexta-feira (6) pelo Senar-MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul).

Ricardo Dias é um dos internos que participa do projeto Vida Nova. Há pouco mais de um ano, duas semanas após ter sido declarado o mais novo “morador” da unidade, Ricardo - que até então era construtor civil - resolveu trabalhar na horta.

Uma forma que encontrou para fazer com o tempo de pena passe mais rápido, literalmente. A cada três dias trabalhados ele reduz um dos 13 anos e 10 meses a que foi condenado.

O diretor do presídio, Tarley Cândido Barbosa, concorda que a diminuição da pena seja um atrativo aos detentos, mas destaca a importância do projeto pela possibilidade de resgate da autoestima dos internos e a reintegração social.

A questão disciplinar, explicou, é um dos indicativos de que a iniciativa, que começou em 2010, funciona. O nível de evasão, sem comparado ao ano passado, caiu.

Locidio Leite Pereira, de 61 anos, é um dos trabalhadores. (Foto: Pedro Peralta)

De acordo com o diretor, dados revelam que, em 2011, o índice ficava na casa dos 71%. “Hoje não chega a 8,5%”, disse. “A mentalidade é outra”, declarou, se referindo à mudança de comportamento que observou nos detentos durante a implantação do projeto, que só funciona, segundo ele, se houver envolvimento externo.

Locídio Leite Pereira, de 61 anos, também está preso na Gameileira e trabalha na horta. Condenado há 28 anos por duplo homicídio, ele agora só pensa em pagar o que deve à justiça.

Quando sair, disse, pretende continuar exercendo ofício. “Eu quero mexer com horta”, afirmou, acrescentando que a prisão se tornou uma lição de vida, mas “a esperança é a última que morre”.

Superintendente do Senar, Clodoaldo Martins, afirmou que Mato Grosso do Sul foi o primeiro Estado a desenvolver o projeto que custou R$ 200 mil, em um convênio firmado pelo órgão e 2ª vara de execuções penais.

Em dois anos, 300 internos foram qualificados. Eles participaram de 12 cursos, um total de 428 horas/aulas teóricas e práticas. Agora, com a conclusão, o espaço fica sob a responsabilidade do presídio. A horta orgânica da Gameleira tem 1,3 hectares e está com 80% da área ocupada. A venda de produtos produzidos no local é revertida para os internos em forma de salário.

São apoiadores do projeto Vida Nova a Famasul (Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul), Funar (Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural) e o Fórum de Campo Grande.

O Centro Penal Agroindustrial da Gameleira tem 540 detentos. A unidade prisional fica no quilômetro 455 da Estrada da Gameleira.

Centro Penal Agroindustrial da Gameleira. (Foto: Elverson Cardozo)
Unidade fica na zona rural de Campo Grande. (Foto: Elverson Cardozo)
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