Capital

Criança não dá lucro e hospitais reduzem leitos infantis, diz entidade

Luciana Brazil | 19/09/2013 10:05
Cubel ressalta o amor pela profissão. (Foto: Arquivo)
Cubel ressalta o amor pela profissão. (Foto: Arquivo)

Nos últimos 10 anos, o número de leitos infantis na rede pública de Campo Grande sofreu redução de, pelo menos, 20%, segundo o presidente da Sociedade de Pediatria de Mato Grosso do Sul, Alberto Cubel Brull Junior. 

“Campo Grande tem déficit de leitos para crianças. Só na rede pública, houve redução de 10% de vagas nos últimos 10 anos”, disse Cubel, que também é vice-presidente do CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul).

O pequeno lucro obtido com o atendimento feito às crianças faz a situação ser ainda pior nos hospitais particulares. Há mais de 20 anos não são feitos investimentos em estrutura e atendimento na rede privada.

“Os hospitais visam o lucro e a criança não dá lucro. Muitos serviços infantis estão sendo fechados, e infelizmente as crianças estão ficando desassistidas. Com um estetoscópio, um hemograma e palitinho para ver a garganta, 90% dos problemas são resolvidos no consultório. Não tem pedido de exame e isso não gera lucro para o hospital”, afirmou o pediatra.

Professor de residência em pediatria do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, Cubel explica que entre as especialidades médicas a de pediatria é a menos rentável para os profissionais. “É a especialidade que tem menor remuneração. Precisa ter amor, não só pela criança, mas também pela família. Tem que ter vontade de ser pediatra”.

Justamente por causa da baixa remuneração, os que escolhem a pediatria, muitas vezes acabam optando por áreas de atuação dentro da especialidade. Ou seja, ao invés de realizar a pediatria geral, opta por área que dê mais benefícios financeiros. “Por baixa remuneração, alguns pediatras buscam se especializar na gastroenterologia pediátrica, na neonatologia, na pneumologia pediátrica, na neurologia pediátrica, entre outras”.

Mas apesar disso, ele garante que não faltam profissionais pediatras em Campo Grande. Porém, a baixa rentabilidade e a procura por outras áreas de atuação, criam um déficit imaginário. “Campo Grande tem número suficiente de pediatras para fazer atendimento. Porém, alguns fatores dificultam esse processo”.

A polêmica ganhou força após a morte de Bianca, de 13 dias, que morreu após ser rejeitada por dois hospitais por falta de pediatras. Ela teve parada cardíaca e morreu na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino.

Mãe de Bianca mostra a ultrassonografia. (Foto: Marcos Ermínio)

A presença feminina na pediatria também pode ser um dos fatores que dificultam o processo de atendimento nos hospitais. Segundo Cubel, na capital, e também no restante do país, as mulheres dominam a pediatria e somam 70% entre os profissionais.

“A pediatria é a maior especialidade do país. Dos 12 alunos de residência, 11 são mulheres. E a tendência disso é só aumentar”. Dividir a vida pessoal e familiar com a vida profissional diminui muitas vezes a disponibilidade de horário, o que pode gerar certa dificuldade, segundo o médico. “Não é culpando ou diminuindo as mulheres, é apenas um fato”.

Para ele, a falta de investimento e de estrutura pública e particular é o que tem gerado problemas como o que aconteceu na segunda-feira (16), quando um bebê de 13 dias morreu sem receber atendimento.

“Há alguns anos, até uma reunião foi feita porque seria construído um hospital infantil municipal. Mas até hoje ficou na conversa. O poder público já tinha que ter construído”.

O médico alerta para o atendimento infantil de urgência. No Prontomed da Santa Casa, é o único local a receber casos mais graves, de alta complexidade. “Isso porque tem a retaguarda da Santa Casa”. Os outros hospitais costumam receber os casos de baixa e média complexidade.

Para ele, se o bebê que morreu na segunda-feira tivesse sido levado ao Prontomed ou Hospital Regional, teria sido atendido. “Não dá para dizer se o bebê teria sobrevivido, mas ele, com certeza, receberia atendimento”.

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