Capital

Crachás de agentes "davam sopa" em centro comunitário abandonado

Fernanda Mathias e Guilherme Henri | 11/05/2016 13:00
Creuza Rocha: "só vou receber a Maria" (Foto Fernando Antunes)
Creuza Rocha: "só vou receber a Maria" (Foto Fernando Antunes)

O local de onde foram roubados materiais que credenciam agentes comunitários de saúde a entrar na casa da população, em Campo Grande, é um prédio em situação de abandono. O furto de bolsas, crachás e roupas dos agentes comunitários ocorreu de domingo (08) para segunda-feira (09) e a Guarda Municipal emitiu um alerta para que a população adote cuidados – como não abrir a porta se o suposto agente aparecer em horários atípicos como fim da tarde e início da noite – e não seja vítima de ação de criminosos.

A Prefeitura informou, via assessoria de imprensa, que os Centros Comunitários devem ser cuidados pelas Associações de Moradores e que “nem sempre” os agentes comunitários utilizam estes locais para deixar os materiais, os locais “mais comuns” são as Unidades Básicas de Saúde e Saúde da Família (UBS, UBSF), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros de Educação Infantil (Ceinfs).

Presidente da Associação de Moradores do Rita Vieira, Maria Vieira Sandes, alega dificuldades em fazer manutenção do prédio e diz que os problemas de depredação e segurança já foram comunicados várias vezes ao poder público durante as reuniões mensais na Planurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano). “Não temos autorização para mexer em nada, precisamos regularizar o CNPJ. Sou eu e algumas pessoas que me ajudam a carpir, mas precisamos de uma força. A molecada vai à noite e estraga tudo, teve um vendaval que derrubou padrão, roubaram o padrão e a fiação e não tem mais luz”. Segundo ela, no local há cursos às terças e quintas-feiras e os agentes de saúde costumam freqüentar o local.

 

Depredado e deserto, Centro Comunitário está abandonado (Foto: Fernando Antunes)

Deserto – A equipe de reportagem do Campo Grande News entrou no local sem dificuldades. Não havia ninguém, o portão de entrada estava aberto, com alambrado rompido, duas portas que dão acesso à área interna estavam trancadas, uma porta presa por pedaço de arame e havia grades nas janelas, mas a estrutura frágil não oferece grande obstáculo a criminosos.

O Centro está localizado ao lado de uma escola municipal e é um retrato de abandono com vidros quebrados, muros pichados e improvisos com plásticos para evitar a entrada de água da chuva.

Portas presas por arame são retrato de abandono (Foto: Fernando Antunes)

Medo – Diante da notícia de que os materiais que podem servir para que criminosos entrem nas casas se passando por agentes de saúde foram roubados, o medo se instalou entre os moradores.

O gesseiro Alexandre Soares, 23 anos, mora ao lado do centro e conta que ficou sabendo sobre o furto e que agora vai “pensar duas vezes antes de receber um agente comunitário em casa. Vou olhar mais de uma vez, de longe para ver se o rosto é conhecido”.
Alexandre diz que o local é constantemente depredado por vândalos e moradores muitas vezes se organizam para ações e limpeza e manutenção.

Motorista e estudante, William José da Silva, 26 anos, que mora a algumas quadras do Centro Comunitário, não sabia sobre o furto e ficou surpreso. “Vou ficar esperto. Quando alguém se identificar como agente comunitário vou querer que apresente alguma identificação que prove isso e pesquisar”. O morador também percebe o abandono do prédio

Há 10 anos moradora do Rita Vieira, a dona de casa Creuza Rocha da Cruz Olnki, 61 anos, conta que sempre viu o Centro Comunitário em situação de abandono. “Prefeito nenhum tomou alguma atitude”. Creuza relata que já conhece a agente comunitária que atua na região. “Não vou receber ninguém além da dona Maria”.

 

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