Capital

Comunidade protesta contra fechamento de escola no Residencial Flamingos

Escola Estadual Professor Otaviano Gonçalves da Silveira Junior ocupa imóvel que pertence a condomínio, alunos serão transferidos

Humberto Marques e Mirian Machado | 04/01/2019 18:42
Pais, alunos e servidores realizaram protesto contra fechamento de escola, confirmado na quinta-feira pela SED. (Foto: Mirian Machado)
Pais, alunos e servidores realizaram protesto contra fechamento de escola, confirmado na quinta-feira pela SED. (Foto: Mirian Machado)

Cerca de 80 pessoas, entre servidores, alunos e pais de estudantes da Escola Estadual Professor Otaviano Gonçalves da Silveira Junior, no Lar do Trabalhador –região da Vila Sobrinho, no oeste de Campo Grande–, participaram na tarde desta sexta-feira (4) de um protesto contra o fechamento da unidade de ensino. Os manifestantes se disseram surpreendidos com a medida, a qual dizem ter sido informados pela imprensa, causando transtornos para cerca de 400 estudantes de uma unidade de ensino tida entre as melhores no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) na Capital.

A escola funciona em um prédio que pertence ao Residencial Flamingos e teve o comunicado de fechamento confirmado na quinta-feira (3) pela SED (Secretaria de Estado de Educação), sob o argumento de ser obrigada a se adequar à legislação –que determina que o governo estadual se responsabilize pelo Ensino Médio, deixando o Fundamental e a Educação Infantil para as prefeituras. A pasta também afirma que, com a medida, será possível otimizar recursos –como reduzir despesas com aluguéis, por exemplo.

Os estudantes da Otaviano Gonçalves foram transferidos para a Escola Estadual Arlindo de Andrade Gomes, que fica nas imediações. A medida, porém, causou indignação. O servidor público Agnaldo Cardoso Nunes, 63, disse que tem uma filha matriculada no terceiro ano do Ensino Médio e não entende como uma escola bem avaliada no Ideb pode ter as atividades encerradas.

“A escola é avaliada como a quarta melhor de Campo Grande, como podem fechar?”, questionou, afirmando ter descoberto a situação pela TV. “Foi um choque, uma falta de respeito com os pais, os funcionários, alunos, todo mundo”. Segundo ele, o fechamento da escola foi acordado em reunião entre o síndico e condôminos, após comunicação da SED. “Fizeram um ato com 20 pessoas, sendo que tem 750 morando aí. Não representa a maioria. Fizeram uma ata dizendo que iam pegar o espaço de volta”, afirmou.

Aline e Loirraine, alunas da instituição há anos, contestam fechamento de escola e temem separação de colegas. (Foto: Mirian Machado)

Incerteza – A estudante Sulene Daiane Souza de Melo, 17, que também mora no condomínio, disse que a reunião ocorreu na semana do Natal, após a SED realizar consulta sobre o interesse em fechar a escola. “A maioria disse ‘não’, mas a decisão veio da minoria. A escola é muito boa”, afirmou ela, que estuda no Otaviano Gonçalves desde o 6º ano e, hoje, está no 3º.

Também do 3º ano, as amigas Aline Nunes, 16, e Lorraine Moreno, 16, dizem não desejar mudar de escola tanto pela afeto com a unidade de ensino como pelo companheirismo, já que estudam juntas há muito tempo. “Tudo bem se trocassem o prédio, mas que não separassem os alunos, que são muitos”, disse Lorraine.

Aline, por sua vez, mostrou dúvidas em relação a um projeto que desenvolveu no Otaviano com a amiga –um aplicativo para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “Não sei se na outra escola poderia continuar”, lamentou.

Também contrária ao fechamento, a promotora de vendas Roberta Assis, 30, disse ter estudado no Otaviano Gonçalves, onde tem um filho no 4º ano do Ensino Fundamental e esperava matricular a filha de 6. “Me formei aqui, tenho filhos aqui. A escola é muito boa, faz palestras com as famílias e nunca teve brigas de estudante como professor”, afirmou, reclamando que o fechamento não havia sido comunicado com antecedência.

Ex-aluna do Otaviano e com um filho matriculado, Roberta Assis desejava ter a outra filha, de 6 anos, também como aluna da escola. (Foto: Mirian Machado)

Valores – O presidente do Sintede (Sindicato dos Servidores Administrativos da Educação Estadual), Wilds Ovando Pereira, disse que o impasse passa pelos valores recebidos pelo condomínio pela cessão da escola, que chegariam a R$ 4,5 milhões a título de indenização, incluindo anos nos quais noa houve pagamentos, bem como o valor do IPTU. O governo estadual não concordou com a conta e, por isso, decidiu-se pelo fechamento.

“Fecharam duas escolas da cidade (Riachuelo e Zamenhoff) porque não tinha demanda. Esta tem e, mesmo, assim, querem fechar”, contestou Pereira. “E o que o condomínio fará? Vai deixar o prédio fechado? Que proposta tem para o que fariam ali? A escola aberta daria mais segurança e evitaria que o prédio fosse tomado por mato ou virasse esconderijo de bandidos”, prosseguiu.

A reportagem tentou contatar o síndico do Flamingos para comentar as afirmações, mas o mesmo não foi localizado até a veiculação deste texto.

O vereador Valdir Gomes (Progressistas) acompanhou a manifestação e prometeu realizar até a próxima semana, durante o recesso parlamentar, um debate na Câmara Municipal sobre o fechamento de escolas estaduais em Campo Grande.

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