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Com onda de assaltos praticados por motociclistas, quem está sob duas rodas vive agora sob suspeita

Paula Maciulevicius | 23/07/2011 09:44

Preconceito com motos populares coloca motociclistas como suspeitos pelo simples fato de se locomover

Sob suspeita, apenas por pilotar, motociclistas viram alvo de medo entre comerciantes. (Foto: João Garrigó)
Sob suspeita, apenas por pilotar, motociclistas viram alvo de medo entre comerciantes. (Foto: João Garrigó)

O número de assaltos em Campo Grande, a maioria praticada por motociclistas, deixa em alerta comerciantes e a população, aumentando também a tensão para quem anda sobre duas rodas.

Supermercados, conveniências, farmácias, postos de gasolina e o comércio em geral estão com medo. Basta só um motociclista se aproximar para a preocupação começar e colocar todos os condutores sob suspeita.

“Eles olham diferente sim. A gente entra e já acham que é com a intenção de roubar”, diz o motociclista e operador de caixa Mailson Matos Alves, de 19 anos.

O jovem que mora e trabalha no bairro Tiradentes chega, estaciona e logo tira o capacete. Prática que se não vira hábito, traz um transtorno ainda maior. “Você não dá dois passos de capacete, o segurança já barra na hora, é o medo”, fala.

O sentimento de intimidar as pessoas foi percebido há um tempo, mas se intensificou um mês atrás, explica Mailson. “Todo mundo acaba desconfiado, mas fazer o que? Tem que superar”, comenta.

Motociclistas contam experiências um tanto traumáticas de como é viver sob duas rodas. (Foto: João Garrigó)

Pilotos de motos populares com poucas cilindradas caem ainda mais na desconfiança popular. O segurança de uma galeria de lojas, Iliê Simões, de 29 anos, que o diga.

Do alto do seu 2,2 metros de altura, ele diz que a desconfiança em motociclistas aumenta a cada dia “a maioria dos roubos são de moto, uns 90% do que a agente vê é assim”, ressalta.

No estabelecimento, a placa para tirar o capacete é explícita e mesmo aos esquecidos, Iliê está lá para lembrar. O que antes era para evitar furtos nas prateleiras, agora se tornou medida de segurança, pelo menos na teoria.

A intimidação dobra se a moto estiver ocupada por duas pessoas. “A situação fica ainda mais crítica principalmente se um entra e o outro fica”, coloca o segurança.

O casal Adriano dos Santos Silva, de 29 anos e Priscila dos Santos de 28, são enfáticos em responder que viraram foco pelo simples fato de andar sob duas rodas.

“Todo mundo fica apreensivo. É a primeira coisa que eles olham, se você chegou de moto”, resumem.

Adriano ainda vai mais além e diz que a questão já está se tornando natural. “É instintivo, o medo de motociclistas está incorporado nas pessoas”. Mas ele admite que para os pilotos, tudo depende do ponto de vista. “Vai de como você vê, o negócio é não receber como ofensa”, esclarece.

Colegas de trabalho, Marcos e Diego foram às compras de inverno, a surpresa foi que na loja, não quiseram vender a touca de lã, para usar no frio. “Chegou lá e o cara não queria vender, disse que a touca ia ser usada para assalto”, comenta Diego Souza, de 22 anos.

Para eles, a explicação do medo, vem da agilidade do veículo. “Vai rápido, é mais fácil para fugir”, diz Marcos da Rosa, 23 anos.

Medo e receio dobram quando motos surgem engarupadas. (Foto: João Garrigó)

As olhadas com receio aumentaram há um mês e não há quem discorde de que chegar com mais pessoas assusta. “Quando vêem que está engarupado então, aí é que olham mesmo, um pode ser o piloto de fuga”, enfatiza Diego.

“Toda hora é hora, não tem mais isso de ser à noite”. A frase é do frentista Everton Carvalho, 30 anos.

Sem poder deixar de atender só por se tratar de motociclistas ele admite “se dá medo? E como, principalmente duas motos ou um na garupa”. Como profissional o receio precisa ficar de lado, mesmo quando como pessoa, a vontade é de sair correndo.

“Não tem como se prevenir, se esconder, você está sujeito a isso. Às vezes pode ser só um cliente mesmo, querendo abastecer”, justifica.

A intimidação não tem hora. Como clientes ou logo na cara dura, os criminosos entram, agem e saem como se nada tivesse acontecido. A placa de aviso, para retirar o capacete é desconsiderada.

“Você acha que ladrão vai respeitar? Isso aí vira arma para esconder o bandido”, considera o empresário Josias Fernandes, de 46 anos.

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