Capital

Com energia cortada, estudantes ocupam bloco da UFMS contra “Future-se”

Estudantes exigem posicionamento da UFMS sobre programa do governo Bolsonaro que quer financiar educação com recursos privados

Izabela Sanchez e Aline dos Santos | 25/09/2019 11:09
Portas fechadas e tampadas no bloco 6 da UFMS na manhã desta quarta-feira (25) (Foto: Marina Pacheco)
Portas fechadas e tampadas no bloco 6 da UFMS na manhã desta quarta-feira (25) (Foto: Marina Pacheco)

Estudantes de 11 cursos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) ocupam desde a noite de terça-feira (14) o bloco 6 da universidade, um dos mais emblemáticos do campus de Campo Grande. São, aproximadamente, 80 alunos que exigem posicionamento da reitoria sobre o programa do governo Bolsonaro, o “future-se”, que propõe, entre outras mudanças, financiar as universidades com recursos privados.

Os estudantes dizem que a ocupação permanece por tempo indeterminado, mas já estão sem energia elétrica, cortada, dizem, pela UFMS desde às 23h10 de terça-feira. Temem, também, represálias da instituição e por isso não deixaram que a reportagem registrasse o movimento em imagens.

As portas de vidro que cercam o bloco 6 estão escondidas com cobertores e lençóis e até as placas de motocicletas dos alunos foram tampadas com uso de papel sulfite. Um acadêmico de 21 anos, que pediu para não ser identificado, disse que a última ocupação realizada por estudantes ocorreu em meio à energia e água “cortadas” pela universidade.

Essa forma de protesto foi decidida, segundo o estudante, após assembleia que aconteceu na terça às 18h30, onde discutiram o “future-se”, chamado pelos estudantes de “fatura-se”. O aluno afirma que uma reunião do conselho universitário que aconteceria no dia 27 de setembro, para discutir o programa do MEC (Ministério da Educação) e o posicionamento da UFMS, foi adiada para o dia 31 de outubro.

Como o projeto deve chegar para avaliação do Congresso em outubro, os estudantes veem o adiamento como estratégia política. Sulfites com frases “Bolsonaro devolve [sic] o dinheiro da Educação” e caricaturas do presidente podem ser vistas na entrada do bloco.

No local, organizam debates e atividades culturais para os estudantes. Nesta manhã um professor dialogava com os alunos, parte da agenda de discussões. O movimento planejava exibir, durante essa manhã, o filme brasileiro Bacurau, ainda em cartaz nos cinemas, produção dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.

O filme, uma distopia no coração do sertão nordestino que se passa “daqui a alguns anos”, foi recebido por parte da crítica de cinema como provocação indireta ao governo Bolsonaro. A falta de energia, no entanto, acabou por impedir a exibição do longa.

O bloco 6 foi escolhido por ser, nas palavras dos estudantes, “histórico”, já ocupado anteriormente, além de ser palco de atividades diárias, onde há aulas durante o dia e a noite em vários cursos de graduação, a exemplo de Direito e Psicologia.

O estudante também citou o que chama de “política de perseguição” da UFMS em relação aos movimentos estudantis. Outro objetivo da ocupação é dar visibilidade ao future-se que, disseram, é pouco conhecido entre os alunos.

O movimento tem apoio do Sista-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Educação), que ofereceu café da manhã na ocupação nesta quarta. Um advogado também auxilia o movimento que teme pedido de reintegração de posse da UFMS a qualquer momento.

Future-se – A UFMS, única instituição em Mato Grosso do Sul a figurar no ranking Times Higher Education entre as melhores universidades do mundo, teve corte de gastos de R$ 29 milhões diretamente do MEC, além dos R$ 51 milhões bloqueados de emendas parlamentares.
São R$ 80 milhões a menos para a universidade, 52% dos recursos discricionários, o que representa o segundo maior corte entre as instituições de todo o país, conforme apontou reportagem da Folha de S. Paulo.

Uma das exigências do Future-se, segundo declarou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é que as universidades contratem professores e técnicos pelo regime CLT (de carteira assinada). Ou seja, projeto para que os docentes não ingressem por meio de concurso público.

No Future-se que tem adesão das instituições “facultativa”, os contratos de novos docentes e técnicos serão intermediados por OSs (Organizações Sociais), entidades privadas que prestam serviços públicos e não precisam seguir a Lei de Licitações e Concursos.

O MEC já realizou consulta pública sobre o projeto, que ficou vigente até o dia 29 de agosto, e agora se prepara para encaminhar a alteração da legislação que rege a educação superior pública para a Câmara dos Deputados. A UFMS também realizou audiência pública sobre o future-se.

A reportagem consultou a reitoria da UFMS sobre a ocupação dos estudantes e a adesão ao programa, por meio da assessoria de imprensa, mas ainda não obteve resposta.

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