Capital

Com água batendo no peito, moradores revivem drama de enchente na Popular

Em 2014, quando o córrego Imbirussu expulsou 30 famílias de casa, o relato de moradores era de água pela cintura

Aline dos Santos e Ronei Cruz | 13/02/2019 10:29
Águas do Imburussu tomaram avenida e casas da Vila Popular nesta quarta-feira. (Foto: Direto das Ruas)
Águas do Imburussu tomaram avenida e casas da Vila Popular nesta quarta-feira. (Foto: Direto das Ruas)

Moradores da avenida José Barbosa Rodrigues, via da Vila Popular que fez fama em episódios de alagamentos enquanto ainda se chamava Rádio Maia, usam o corpo para medir a força das águas do córrego Imbirussu.

Na manhã desta quarta-feira (dia 13), Zélia da Silva Lima, 64 anos, conta que dessa vez, por volta das 5 horas da manhã, a água chegou na altura do peito. Levando em consideração sua altura, o cálculo é que a enchente tenha atingido um metro. Em 2014, quando a enchente expulsou 30 famílias de casa, o relato de moradores era de água pela cintura.

Depois do susto de acordar com o alerta da vizinhança, quando a água ainda estava na altura de seu tornozelo, Zélia se emociona ao recordar o desespero e que a prioridade era ajudar as duas bisnetas. “Me sinto humilhada. Sou idosa, pago os impostos em dia e mesmo assim tenho que passar por essa situação”.

Ela é proprietária de uma vila de casas, onde moram 12 pessoas, entre inquilinos e seus familiares. A avenida, que faz a divisa entre o parque Imbirussu e os imóveis, amanheceu coberta por lama, recobrindo, inclusive um cachorro que circulava por lá. “Perdi a compra do mês, colchão, armário, guarda-roupa”, diz Zélia que mora na Vila Popular desde 1989.

Depois de contabilizar perdas, decidiu fazer a vila de casa numa parte mais alta do terreno. Segundo ela, a construção lhe rendeu multa de R$ 20 mil. Por ano, Zélia relata que paga cerca de R$ 19 mil com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Ela guarda fotografias da enchente de 2006, sendo o último alagamento há cinco anos. 

A manhã foi de contabilizar estragos na Vila Popular. (Foto: Marina Pacheco)

“A enchente foi feia e só consegui ver todo o estrago depois que a água baixou. Nos 32 anos que moro aqui, já contei umas dez enchentes” afirma Rosa do Nascimento, que é auxiliar de creche na Santa Casa.

A sequência de perdas em alagamentos a levou a adotar estratégia de já manter guarda-roupas, armários da cozinha e estante da sala elevados. Mas hoje, as medidas preventivas não evitaram que perdesse uma cama box. Rosa culpa o lixo pelo alagamento. “A primeira causa que a gente imagina é que seja pelo lixo que se acumula na tubulação”, diz.

O casal Rosana e Jefferson Rezende acordou com a casa revirada nesta quarta-feira. “Tive que jogar fora as compras, porque tenho medo de o alimento ter sido contaminado pela água”, afirma o pedreiro Jefferson, 44 anos.

A pedagoga Maira Alves de Oliveira, que contabiliza perda de móveis como cama e sofá, diz que a principal preocupação foi com o seu filho de três anos, que é especial.

“Os bombeiros disseram que a viatura estava vindo, mas não apareceram, quando foi 7h30 da manhã, veio um caminhão de incêndio, mas deu o balão e foi embora”, relata. Sobre a força da enchente, narra que um carro chegou a boiar e parou em cima da calçada.

Com longo histórico de alagamentos, a Vila Popular passou por obras com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com remoção de famílias e criação do parque linear do Imbirussu. 

Pancadas - No período de duas horas, a estação do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), registrou 45,4 milímetros de precipitação. Às 5h e às 6horas, foram duas pancadas de chuva. A estação fica localizada na saída para Aquidauana, mesma região da Vila Popular.

Equipe da prefeitura de Campo Grande só chegou à Vila Popular às 9h30. O titular da Sisep (Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos), Rudi Fiorese, e o prefeito Marquinhos Trad (PSD) estão no local.

A assessoria do Corpo de Bombeiros informa que atendeu quatro atendimentos de retirada de água em residências e que o procedimento no caso de chamado é encontrar o solicitante, se nao for localizado, a equipe retorna para a base.

Fotografia é lembrança que moradora guarda da enchente de 2006. (Foto: Marina Pacheco)
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