Capital

Casal Olarte registrou imóveis com preço até 15 vezes menor que o real

Segundo o MPE, Gilmar e Andreia compraram terrenos, chácaras, casas e apartamento; casal iniciou construção orçada em R$ 1,3 milhão no Damha 2

Anahi Zurutuza | 25/08/2016 17:18
Casa de R$ 1,3 milhão começou a ser construída em condomínio luxuoso, em janeiro de 2015 (Foto: Alcides Neto)
Casa de R$ 1,3 milhão começou a ser construída em condomínio luxuoso, em janeiro de 2015 (Foto: Alcides Neto)

Além de comprarem imóveis usando o nome de “laranjas”, o prefeito afastado Gilmar Olarte (PROS) e a mulher dele, Andreia Olarte (PROS), registravam os imóveis com valores até 15 vezes abaixo que o de mercado. Os valores reais investidos eram completamente incompatíveis com a renda declarada do casal, evidências claras que o pastor evangélico e a esposa fizeram verdadeira “farra” do o dinheiro público, enquanto ele estava no comando da Prefeitura de Campo Grande.

Foi o que apurou o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) durante investigações que desencadearam a Operação Pecúnia e resultaram na prisão de Olarte e Andreia no dia 15 deste mês. Os dois e também o empresário Evandro Farinelli e a mulher, Crhistiane Farinelli, os “testas-de-ferro” do casal, além do corretor de imóveis Ivamil Rodrigues de Almeida, foram denunciados ontem (24) à Justiça pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Em um ano e dois meses – de maio de 2014 a julho de 2015 –, Olarte e Andreia compraram três chácaras, cinco terrenos, dois imóveis em condomínio e começaram a construção de casa orçada em R$ 1,3 milhão em Campo Grande, aponta o Gaeco. O período coincide com o tempo que o pastor foi prefeito da Capital após a cassação de Alcides Bernal (PP), em março de 2014.

Damha 2 – Consta na denúncia assinada pelo procurador-geral do MPE, Paulo Cezar dos Passos, que em maio de 2014 – dois meses depois que Olarte tomou posse no cargo de prefeito –, o casal teria adquirido terreno de 557,59 metros quadrados no residencial Damha 2, um dos condomínios mais luxuosos da Capital.

O imóvel foi registrado em cartório no nome de Evandro e Christiane com o valor de R$ 250 mil. Contudo, conforme apurou o Gaeco, o valor de mercado do lote no residencial naquele ano era de ao menos R$ 400 mil – 60% a mais que o declarado.

No dia 15 de janeiro do ano seguinte, as obras começaram. Evandro e Christiane também assinaram o contrato com o arquiteto que comandaria a obra orçada em R$ 1,3 milhão. Por meio de Evandro e Christiane, o casal se comprometeu a pagar o valor em dez vezes de R$ 130 mil.

Andreia e Olarte quando foram presos no dia 15 de agosto (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)

Villas Damha – Não contentes, também em janeiro de 2015, o prefeito afastado e a mulher compraram duas casas no residencial Villas Damha nos valores de R$ 560,5 mil e R$ 600 mil. Nestes dois casos, os imóveis ficaram no nome de Andreia.

Pela casa 145, eles desembolsaram R$ 193 mil e pela casa 163, R$ 390 mil até junho do ano passado.

O casal comprou ainda três terrenos na Chácara dos Poderes, na região leste de Campo Grande. Em cartório, foi informado que as chácaras 24, 25 e 26 – de 16,2 mil metros quadrados no total – custaram R$ 20 mil cada. Entretanto, os imóveis são avaliados em ao menos R$ 300 mil cada – valor 15 vezes superior.

Outros quatro terrenos no loteamento Estrela Parque – no leste da Capital – também pertencem ao ex-vice-prefeito e Andreia, segundo o Gaeco. Os lotes foram registrados com valores de R$ 7,6 mil e R$ 9,8 mil, mas estão avaliados em até R$ 68 mil – oito vezes mais que o declarado.

Gaeco esteve na casa de todos os acusados e recolheu documentos (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)

Incompatível – Conforme apuraram os “investigadores de elite” do MPE, o casal Olarte não tem renda suficiente para investir R$ 4.190.500,00 em imóveis – valor total da avaliação dos bens, se eles tivessem quitado tudo.

A soma da declaração no imposto de renda dos dois em 2014 é de R$ 320.545,19, mas só naquele ano, eles desembolsaram R$ 710 mil na compra de seis imóveis, ainda segundo o Ministério Público.

Em 2015, Olarte e a mulher gastaram mais R$ 2.153.000,00 e depois do afastamento dele da Prefeitura de Campo Grande, os pagamentos de parcelas cessaram. 

À Justiça, além da condenação, o MPE pede o sequestro de bens do casal. Segundo a Promotoria, as investigações confirmaram que as aquisições imobiliárias efetuadas por Andreia e os pagamentos realizados “mostraram-se injustificáveis à luz da capacidade financeira e de parâmetros da licitude”.

O advogado de Andreia e Olarte, João Carlos Veiga Junior, informou que a defesa vai provar que os imóveis que estão no nome de Evandro e Christiane não são do pastor e da mulher. “Já temos toda a documentação. Estes imóveis [no caso, a casa de R$ 1,3 milhão e o terreno de R$ 400 mil no Damha 2] não estão no nome deles, isso tudo é suposição do Ministério Público”, afirmou.

Para que o prefeito afastado, a ex-primeira-dama e as outras três pessoas virem réus, a Justiça precisa aceitar a denúncia.

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